07 Abril 2015
Nenhuma espera por Helder Câmara. A Santa Sé já ratificou o ‘via livre’ à introdução da causa de beatificação e canonização do brasileiro ‘bispo das favelas’. A concessão do ‘nihil obstat’ foi firmada no dia 25 de fevereiro passado. Nestes últimos dias tinha sido retomada pelas agências de imprensa uma carta do cardeal Angelo Amato, prefeito da congregação das causas dos santos, anterior à assinatura da ocorrida concessão, na qual o purpurado assegurava o atual arcebispo de Olinda-Recife, Fernando Saburido, de ter recebido junto ao dicastério romano a requisição de introdução da causa despachada pela diocese do Nordeste brasileiro, onde em 1999 morreu dom Helder Câmara.
Requisição amadurecida em maio passado com o apoio do inteiro episcopado brasileiro. Mas, uma primeira vontade tinha sido expressa desde 2008, com um documento elaborado no decurso do encontro nacional dos bispos do Brasil. Na requisição avançada pela diocese se recordava “o trabalho pastoral do amado ‘bispo dos pobres’ dom Helder Câmara em sua incansável atividade em favor da dignidade humana, da justiça social, da paz, do resgate dos pobres e direitos dos marginalizados “nas ligas comunitárias contra a fome e a miséria” que lhe custou o ostracismo dos governantes e o apelativo de ‘bispo vermelho’.
A reportagem é de Stefania Falasca, publicada pelo jornal italiano Avvenire, 31-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Dom Helder Câmara havia participado ativamente do Concílio Vaticano II, oferecendo notáveis contribuições junto a outros bispos provenientes do Sul do mundo. Foi ele que fundou em 1950 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual foi também o primeiro secretário geral, e colaborou no nascimento do Celam no Rio de Janeiro, em julho de 1955.
Em 1964 – ano do golpe que instaura o regime militar no Brasil – Câmara foi nomeado por Paulo VI arcebispo de Recife, capital de Pernambuco, no Nordeste, a região mais pobre do país, chamado o ‘quadrilátero da fome’. No dia do ingresso oficial, o arcebispo não quis ser acolhido dentro da Catedral, mas na praça, no meio do povo.
Nos anos subseqüentes o empenho de Dom Helder a serviço dos mais débeis continuará sem cessar, com tomadas de posição incômodas e corajosas. “Quando eu dou de comer a um pobre, todos me dão parabéns. Mas, quando pergunto por que os pobres não têm comida, então todos me chamam comunista e subversivo”, havia diversas vezes repetido. Morria aos 28 de agosto de 1999 aos noventa anos. Numa de suas mais conhecidas cartas havia escrito: “Não basta que os pobres te conheçam e te chamem pelo nome: é importante que tu os conheças, saibas sua história e saibas seu nome”.
Agora, portanto, se abre formalmente para dom Helder a fase diocesana do processo com a nomeação, da parte do bispo Saburido, do tribunal eclesiástico, que por sua vez deverá instituir uma comissão histórica para proceder à coleta e à análise dos escritos de Helder Câmara. Grande parte das cartas do ‘bispo dos pobres’ é encontrável no Centro de documentação que traz o seu nome, criado quando ele ainda era vivo e no limiar dos noventa anos.
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Helder Câmara, via livre à causa da beatificação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU