01 Dezembro 2014
Francisco busca uma redescoberta da identidade europeia, centrada não na economia, mas na sacralidade da pessoa humana.
A opinião é de Dom William Kenney CP, bispo auxiliar de Birmingham, na Inglaterra, e porta-voz sobre as questões europeias para a Conferência Episcopal da Inglaterra e do País de Gales. O artigo foi publicado no sítio da revista The Tablet, 26-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O discurso do Papa Francisco ao Parlamento da União Europeia em Estrasburgo veio em um momento em que significativas minorias em muitos países europeus estão perdendo a esperança nas instituições europeias. Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, sem dúvida, queria o endosso a essas instituições. Foi isso que ele obteve, mas possivelmente não do modo que ele esperava.
O papa falou para as realidades políticas da Europa. É um discurso concebido para fomentar as relações Vaticano-União Europeia, certamente preparado por muitas mãos, e não apenas pelo próprio Francisco.
Martin Schulz começou listando muitos dos problemas da União Europeia (e, por essa razão, do restante da Europa) e foi familiarmente deprimente. O papa, então, usou as mesmas questão para dar uma mensagem muito esperançosa, embora forte.
Ele é um papa de símbolos, e essa é a sua primeira visita a qualquer ponto da União Europeia além do território italiano. Ele optou por visitar duas das maiores instituições democráticas da Europa. Ele prometeu a cooperação da Igreja, não menos importante da Comece (Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia), com estas e outras instituições da Europa.
Ele identificou o que considerou como as áreas realmente problemáticas da atual Europa: a solidão típica daqueles que não têm nenhuma conexão com os outros; a marginalização dos idosos; os jovens que não têm pontos de referência claros e oportunidades para o futuro; e o tratamento dos pobres e imigrantes.
Ele pediu um retorno da Europa aos seus valores fundamentais da paz, da subsidiariedade, da solidariedade e da dignidade da pessoa humana. A sua solução para as áreas problemáticas que ele identificou foi a de dar à Europa esperança, restaurando um sentido de transcendência e da centralidade da pessoa humana; alimentar os dons de cada homem e mulher. Isso deve ser feito mediante uma educação, disse, não menos importante na família, que auxilia a pessoa humana a crescer em sua totalidade. Ele disse que esses dons floresceriam no trabalho, remontando à encíclica de João Paulo II sobre o trabalho, Laborem exercens, de 1981. Francisco apelou por uma nova política imigratória que não transforme o Mediterrâneo em um cemitério.
Nas últimas 24 horas, alguns comentaristas viram no discurso do Papa Francisco um endosso dos pontos de vista negativos da Europa. De fato, ele é crítico de muitas das atuais políticas, mas quer um maior engajamento, não desengajamento, ele encoraja outros países a aderirem (os Bálcãs), e não a saírem. Ele está em busca de uma redescoberta da identidade europeia, centrada não na economia, mas na sacralidade da pessoa humana.
A sua conclusão é um forte chamado à ação e à esperança: "Chegou o momento de abandonar a ideia de uma Europa temerosa e fechada sobre si mesma para suscitar e promover a Europa protagonista, portadora de ciência, de arte, de música, de valores humanos e também de fé. A Europa que contempla o céu e persegue ideais; a Europa que assiste, defende e tutela o homem; a Europa que caminha na terra segura e firme, precioso ponto de referência para toda a humanidade!".
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O que o papa pretendia exatamente em Estrasburgo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU