17 Novembro 2014
Publicamos a intervenção do Pe. Adolfo Nicolas Pachon, jesuíta espanhol, desde 2008 Superior Geral da Companhia de Jesus, pronunciado durante a Terceira Congregação geral do Sínodo dos Bispos sobre a Família, no dia 7 de outubro de 2014.
A tradução é de Benno Dischinger.
1) Li com sumo interesse o Instrumentum Laboris preparado para o Sínodo e admirei o modo como se fez uma síntese muito organizada de respostas que, sem dúvida, procedem de muitos Continentes e com diversos pontos de partida, tanto teológicos como pastorais. Sem embargo, fiquei com a impressão de que algo faltava.
Eu definiria esta falta como falta de sentido histórico em colocar quando e quando entrou a Igreja na normativa do matrimônio e da Familia, e, em segundo lugar, uma falta notável de conexão com a Sabedoria humana, que está por trás dos processos milenários conducentes a descobrir a Família como a melhor forma de convivência humana para todos.
Espero que estes dois temas sejam estudados a fundo, com a contribuição positiva das diversas Religiões a esta realidade tão humana como determinante de nossas sociedades e nosso futuro.
2) Eu gostaria de centrar minha apresentação no fato de que muito do que dizemos sobre o tema, está baseado numa comparação inadequada. E esta consiste em aplicar ao amor humano, falível e frágil, como todo o humano, a consistência, firmeza e profundidade do amor de Deus. Esta transposição não tem bases nem na psicologia humana, nem nos apoios que pode oferecer uma Sociedade; e todos os que estamos aqui reunidos somos testemunhas como esta pretensão desmorona, com o conseqüente sofrimento dos interessados e de suas famílias.
Talvez tenhamos que mudar ligeiramente o modo de falar sobre o Matrimônio como Sacramento. Agora o aplicamos ao Matrimônio entre cristãos e é fácil produzir a impressão de que o Sacramento coincide com a cerimônia, se esta segue os cânones. Talvez tenhamos que falar do Matrimônio como Sacramento como falava São Paulo, quer dizer, não uma cerimônia, senão a realidade mesma de duas pessoas que compartem toda sua vida com amor, e isso expressa o Amor de Deus. De modo que é no final que podemos dizer com toda verdade que tal ou qual matrimônio tem sido Sacramento do amor de Deus.
Usar, portanto, a analogia do amor de Deus, para desenvolver toda uma disciplina que pode implicar e inclusive chegar até a negação da Comunhão Eucarística, pode ser algo bastante desproporcionado, que roça com a injustiça.
3) Não tiro conclusões. Estes são temas que vale a pena estudar e que temos todo um alento para fazê-lo antes do Sínodo Ordinário de 2015. Vamos estar muito ocupados neste ano estudando questões de muita envergadura, entre as quais se encontram:
a. Um estudo histórico de como a Igreja entrou a contribuir à vida de Família.
b. Um amplo estudo que nos enriqueça e torne conscientes da contribuição de outras Religiões ao Matrimônio e à Família, como contribuição da Sabedoria humana, na qual trabalha o Espírito de Deus.
c. Um aprofundamento do que São Paulo entendeu como o “Mistério” do Matrimônio – e que Tertuliano mais tarde traduziu como “Sacramentum”.
d. Um aprofundamento, igualmente, da consistência teológica que levou a Igreja a tratar o Matrimônio como um dos sete Sacramentos.
e. Os novos desafios que chegam à Família da Revolução Informática e que já está mudando as relações e a comunicação em seu seio. Isto nos levaria mais além da ação de tratar os problemas que vem da Revolução Industrial, a qual sucedeu faz já 150 anos e aos quais estamos chegando com muito atraso.
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Matrimônio, mistério, sacramento. A intervenção de Adolfo Nicolás Pachon no Sínodo dos Bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU