Sede de céus. Hilda Hilst na oração inter-religiosa desta semana

Foto: Lisa Roper

26 Agosto 2022

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.

 

Sede de céus

 

Desenho um touro na seda.

Olhos de um ocre espelhado

O pelo negro, faustoso

Seduzo meu Deus montado

Sobre esse touro.

Desenhas Deus? Desenho o Nada

Sobre este grande costado.

Um rio de cobre deságua

Sobre essas patas.

Uma mulher tem nas mãos

Uma bacia de águas

Buscando matar a sede

Daquele divino Nada.

O touro e a mulher sou eu.

Tu és, meu Deus,

A vida não desenhada

Da minha sede de céus.

 

Fonte: Hilda Hilst. Poemas malditos, gozosos e devotos. 2 ed. São Paulo: Globo, 2005, p. 47.

 

Hilda Hilst (Foto: Wikimedia Commons)

 

Hilda de Almeida Prado Hilst (1930 – 2004): Foi poeta, escritora e dramaturga brasileira. Seu primeiro livro de poesias foi Presságio publicado em 1950. Formou-se em direito e escreveu por quase cinquenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil, entre eles, o Prêmio Jabuti de melhor conto, em 1993, pela obra Rútilo Nada. Conhecida por sua forte personalidade, Hilda transportava seus leitores para uma análise filosófica acerca da busca, da morte, do amor e do horror. Ainda, seus trabalhos foram traduzidos em vários idiomas.

 

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