Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.
As mãos de meu pai
As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis sobre um fundo de manchas já da cor da terra – como são belas as tuas mãos pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos… Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplesmente vida. E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua cadeira predileta, uma luz parece vir de dentro delas… Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste alimentando na terrível solidão do mundo, como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento? Ah, como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos! E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas… essa chama de vida – que transcende a própria vida… e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.
Fonte: Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 491
Mario Quintana (Foto: Dulce Helfer | Aqruivo pessoal)
Mario Quintana (1906-1994): Famoso poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Começou a esboçar seus primeiros versos ainda na sua cidade natal, Alegrete, interior do Rio Grande do Sul. Em 1919 mudou-se para Porto Alegre, onde publicou seus primeiros poemas enquanto ainda estudava no Colégio Militar. Conhecido como o "poeta das coisas simples", seu estilo foi marcado pela profundidade, sátira e primor técnico. Foi agraciado com o Prêmio Jabuti, em 1981, e, em 1983, foi fundada a Casa de Cultura Mario Quintana, no prédio do antigo Hotel Majestic, no centro da capital gaúcha, local que por muitos anos foi a casa do poeta.
Quintana traduziu mais de 130 títulos da literatura universal e é autor de uma vasta obra, com mais de 30 livros publicados. Entre eles, A Rua dos Cataventos (Porto Alegre: Editora do Globo, 1940); Porta Giratória (São Paulo: Editora Globo, 1988); A Cor do Invisível (São Paulo: Editora Globo, 1989); e Velório Sem Defunto (Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990). Apesar de ter se candidatado à Academia Brasileira de Letras por três vezes, nunca tornou-se "imortal".