Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.
Poema sujo
Voais comigo
sobre continentes e mares
e também rastejas comigo
pelos túneis das noites clandestinas
sob o céu constelado do país
entre fulgor e lepra
debaixo de lençóis de lama e de terror
vos esgueirais comigo, mesas velhas,
armários obsoletos gavetas perfumadas de passado,
dobrais comigo as esquinas do susto
e esperais esperais
que o dia venha
E depois de tanto
que importa um nome?
Te cubro de flor, menina, e te dou todos os nomes do mundo:
te chamo aurora
te chamo água
te descubro nas pedras coloridas nas artistas de cinema
nas aparições do sonho
Fonte: Ferreira Gullar. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021, p. 225
Ferreira Gullar (Foto: Renato Cobucci | Fotos Públicas)
Ferreira Gullar pseudônimo de José Ribamar Ferreira (1930 - 2016): foi um escritor, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta maranhense. Um dos fundadores do Movimento do Neoconcretismo, movimento artístico que defendia maior subjetividade e propunha uma reação ao concretismo ortodoxo. Sua obra é marcada por gestos revolucionários e o lirismo pessoal. Foi agraciado com diversos prêmios, ente eles, o Camões (2010) e o Jabuti (2007), pela melhor obra de ficção do ano. Autor de vasta obra, seu mais famoso livro é Poema Sujo (1976), publicado durante seu exílio na Argentina.