A rosa da tua boca. Aurélio Buarque de Hollanda na oração inter-religiosa desta semana

Reprodução de parte da obra O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli | Fonte: Galleria degli Uffizi, Florença

29 Outubro 2021

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.

 

A rosa da tua boca

 

O tú, cujo radiante semblante

empresta à vida as cores da alegria, volta!

Sem as rosas de tuas faces

a primavera não pode viver.

Se as lágrimas, em ondas,

me rebentam dos olhos,

não há razão para que te espantes:

sem ti a vida não tem sentido.

Não temo o oceano da morte,

onde tudo se aniquila.

A rosa de tua boca

é o centro do mundo.

Nos breves instantes, tão breves,

em que é possível a felicidade do Amor,

compreende bem o ensinamento do coração,

se acaso o da vida continua obscuro.

O dia de ontem passou sem um olhar para mim.

Tal como o dia de ontem,

minha Amada, passou, de olhos ausentes,

longe de mim...

 

Fonte: Aurélio Buarque de Hollanda. Os gazéis de Hafiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 50

 

Aurélio Buarque de Holanda, em 1962. (Foto: Imagem do Fundo Correio da Manhã | Arquivo Nacional)

 

Aurélio Buarque de Hollanda (1910 - 1989): Lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor, ensaísta e crítico literário brasileiro. Sua principal e mais famosa obra, publicada em 1975, é o Novo dicionário da língua portuguesa, conhecido como Dicionário Aurélio. Nascido em Alagoas, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras - ABL em 1961. Também é autor de Dois Mundos (contos, 1942), além de ter traduzido romances de vários autores, entre eles, os Poemas de amor e os Pequenos poemas em prosa, de Charles Baudelaire.