Agave. Primo Levi na oração inter-religiosa desta semana

Agave (Foto: Pixabay)

24 Abril 2020

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.

Agave

Não sou útil nem bela,
Não tenho cores alegres nem perfumes;
Minhas raízes roem o cimento,
E minhas folhas, margeadas de espinhos,
Me defendem, agudas feito espadas.
Sou muda. Falo apenas minha língua de planta,
Difícil de você entender, homem.
É uma língua em desuso,
Exótica, porque venho de longe,
De um país cruel
Cheio de vento, venenos e vulcões.
Esperei muitos anos até expressar
Esta minha flor altíssima e desesperada,
Feia, lenhosa, rígida, mas lançada ao céu.
É nossa maneira de gritar que
Vou morrer amanhã: me entende agora?

Fonte: Primo Levi. Primo Levi. Mil sóis. Poemas escolhidos. São Paulo: Todavia, 2019, p. 101.

Primo Levi | Foto: Vermelho.org

Primo Levi (Turim, 31 de julho de 1919 — Turim, 11 de abril de 1987) foi um químico e escritor italiano. Escreveu memórias, contos, poemas, e novelas. É mais conhecido por seu trabalho sobre o Holocausto, em particular, por ter sido um prisioneiro em Auschwitz-Birkenau. Seu livro Se questo è un uomo (bra: É isso um Homem? / prt: Se Isto É um Homem) é considerado um dos mais importantes trabalhos memorialísticos do século XX. Seu livro Il sistema periodico (A Tabela Periódica), por sua vez, foi considerado pela Royal Institution o melhor livro de ciência já escrito.

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