O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 15-04-2024.
O símbolo de Jesus como bom pastor produz hoje um certo aborrecimento em alguns cristãos. Não queremos ser tratados como ovelhas num rebanho. Não precisamos de ninguém para governar e controlar nossas vidas. Queremos ser respeitados. Não precisamos de nenhum pastor.
Os primeiros cristãos não se sentiam assim. A figura de Jesus, o bom pastor, logo se tornou a imagem mais querida dele. Já nas catacumbas de Roma ele é representado carregando nos ombros a ovelha perdida. Ninguém pensa em Jesus como um pastor autoritário, dedicado a monitorar e controlar os seus seguidores, mas como um bom pastor que cuida das suas ovelhas.
O “bom pastor” cuida das suas ovelhas. É sua primeira característica. Ele nunca as abandona. Ele não os esquece. Dá-lhes atenção. Ele está sempre atento aos mais fracos ou doentes. Não é como o pastor mercenário que, ao ver o perigo, foge para salvar a vida, abandonando o rebanho.
Jesus deixou uma memória indelével. As histórias evangélicas descrevem-no como preocupado com os doentes, os marginalizados, os pequenos, os mais indefesos e esquecidos, os mais perdidos. Ele não parece se importar consigo mesmo. Ele sempre é visto pensando nos outros. Ele se preocupa acima de tudo com os mais desamparados.
Um amor sem limites. Mas há algo mais. “O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas”. É a segunda característica. O evangelho de João repete esta linguagem até cinco vezes. O amor de Jesus pelas pessoas não tem limites. Ele ama os outros mais do que a si mesmo. Ele ama a todos com o amor de um bom pastor, que não foge do perigo, mas dá a vida para salvar o rebanho.
Por isso, a imagem de Jesus, o “bom pastor”, logo se tornou uma mensagem de conforto e confiança para os seus seguidores. Os cristãos aprenderam a se dirigir a Jesus com palavras retiradas do Salmo 22: O Senhor é meu pastor, nada me faltará... ainda que eu caminhe por vales tenebrosos, não temerei mal algum, pois tu estás comigo... Tua bondade e tua misericórdia me acompanharão todos os dias da minha vida.
Os cristãos muitas vezes vivem um relacionamento muito pobre com Jesus. Precisamos conhecer uma experiência mais viva e cativante. Não acreditamos que ele se importa conosco. Esquecemos que podemos recorrer a ele quando nos sentimos cansados e sem forças, ou perdidos e desorientados.
Uma Igreja formada por cristãos que se relacionam com um Jesus pouco conhecido, confessado apenas doutrinariamente, um Jesus distante cuja voz não é bem ouvida nas comunidades... corre o risco de esquecer o seu Pastor. Mas quem cuidará da Igreja senão o seu Pastor?