24 Mai 2016
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Paolo Veronese (1528-1588). Jesus e o Centurião. |
Depois que terminou de falar todas essas palavras ao povo que o escutava, Jesus entrou na cidade de Cafarnaum. Havia aí um centurião romano que tinha um empregado, a quem estimava muito. O empregado estava doente, a ponto de morrer. O oficial ouviu falar de Jesus, e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedir a Jesus que fosse salvar o empregado. Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças esse favor, porque ele estima o nosso povo, e até construiu uma sinagoga para nós.” Então Jesus pôs-se a caminho com eles.
Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizer a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha casa; nem sequer me atrevi a ir pessoalmente ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e o meu empregado ficará curado. Pois eu também estou sob a autoridade de oficiais superiores, e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: Vá, e ele vai; e a outro: Venha, e ele vem; e ao meu empregado: Faça isso, e ele o faz.”
Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Voltou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu declaro a vocês que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.” Os mensageiros voltaram para a casa do oficial, e encontraram o empregado em perfeita saúde.
(Correspondente ào 9° Domingo do Tempo Comum , ciclo C do Ano litúrgico).
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Locutor: Gilberto Faggion
Junto com toda a Igrejsa reiniciamos hoje o Tempo Litúrgico chamado “Tempo Comum”.
No texto que acabamos de ler e escutar, Jesus entra em Cafarnaum, localidade chamada por alguns de “A cidade de Jesus” porque ele sai de Nazaré para aí morar.
A primeira pessoa nomeada é um centurião romano que estima seus empregados e agora está preocupado por um deles que estava para morrer. Por isso diz aos anciãos da sinagoga pedir para Jesus sua cura.
É na atitude deste oficial romano onde podemos perceber que ainda há, nas comunidades lucanas, “cristãos que continuam ligados às instituições do Império Romano”, tal como escreve Frei Gilvander Luís Moreira.
Apesar de o oficial romano ser considerado pagão, sua atitude envergonha os representantes da sinagoga. Sua fé emociona Jesus: "Ficou admirado. Voltou-se para a multidão que o seguia, e disse: 'Eu declaro a vocês que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé'".
Jesus põe-se a caminho com eles na busca da pessoa doente. Mas quando o centurião vê que Jesus está se aproximando de sua casa, ele corre ao seu encontro chamando-o de Senhor, com uma grande humildade.
Suas palavras permaneceram vivas ao longo dos séculos e expressam a humildade de uma pessoa quando se aproxima de Jesus.
Como disse José Antonio Pagola, “a humildade daquele centurião romano que, consciente de seu poder e autoridade, não duvidou em reconhecer sua limitação para acolher Jesus com fé e receber dele aquilo que não podia ter com suas próprias forças”.
Este centurião considerado pagão acredita na palavra de Jesus com uma fe simples e verdadeira. Está en jogo a vida do seu filho amado mas ele não se considera digno nem de ir até Jesus!
Em geral as pessoas procuravam tocá-lo, estar perto dele. Mas para o centurião não há distância que possa impedir Cristo de fazer sua obra de salvação.
Quantas vezes nós, cristãos, achamos que temos o monopólio da fé! Jesus nos convida neste domingo a abrir as portas de nossas comunidades, de nossa vida, para e deixar que sua sensibilidade entre em nós.
Somos convidados a ter a capacidade de nos assombrar e admirar tal como ele. Principalmente diante de tantas pessoas simples que acreditam em Jesus e consideram-se indignos que entre na sua casa.
Conhecemos nossas debilidades e fragilidades? Somos conscientes de nossas limitações de forma tal que nos levam a admirar a grandeza e o poder de Jesus? Não podemos ser cristãos de portas fechadas! Não desejemos o monopólio da fé para nossas instituições.
Caminhemos ao encontro daquele que não conhecemos! Na sua visita a Mexico Francisco foi uma vez mas ao encontro das pessoas excluidas da sociedade, dos que “incomodam” um estilo social já estabelecido.
"Francisco passou as últimas horas da sua visita de cinco dias ao México no árido e sofrido estado de Chihuahua, o território calcorreado pelos milhares que procuram a fronteira com os Estados Unidos ou para escapar da pobreza e da violência ou para lucrar com o negócio do narcotráfico – e para quem o Pontífice tinha palavras de conforto e esperança. “Perdoem quem não sabe ajudar-vos”, pediu Francisco aos primeiros. “Não contribuam para esta sociedade que usa as pessoas e as deita fora. Vocês podem travar este ciclo de violência e exclusão que não para de acumular vítimas”, aconselhou aos segundos."
É preciso reconhecer o outro e, assim, respeitar e defender sua dignidade de pessoas para então descobrir nele o mistério de uma fé que quebra nossas fronteiras.
Lembremos o apelo do papa Francisco de não transformar a Igreja numa espécie de “alfândega pastoral”, com controladores da fé em vez de pastores prontos para acolher aqueles que batem à porta.
Ele dá um exemplo concreto: “Pensem em uma mãe solteira que vai à igreja, à paróquia e ao secretário: ‘Quero batizar meu filho’. E depois esse cristão ou essa cristã lhe diz: ‘Não, você não pode porque você não é casada!’. Mas, veja, essa jovem teve a coragem de levar adiante a sua gravidez e não devolver o seu filho ao remetente, e o que ela encontra? Uma porta fechada! Esse não é um bom zelo! Afasta do Senhor! Não abre as portas! E assim, quando nós estamos nesse caminho, nessa atitude, não fazemos bem às pessoas, ao povo, ao Povo de Deus. Mas Jesus instituiu sete Sacramentos, e nós, com essa atitude, instituímos o oitavo: o sacramento da alfândega pastoral!”.
Deixemos Jesus entrar em nossa vida, em nossas casas, em nossos relacionamentos para fortalecer nossa fé e viver na incerteza de quem confia na Palavra e no poder de Deus. Deixemos que nossa fé ilumine nossas relações e nossas mentes para que possamos enxergar a presença do Senhor em nosso meio.
Para colaborar no projeto de Deus, precisamos ser homens e mulheres de esperança, de “louca e divina” esperança. Este poema pode-nos ajudar a pedir ao Senhor este dom. Também podemos fazer uma oração espontânea.
Perder a vida,
libertar uma existência,
cultivar uma amizade,
curar uma esperança.
Depois já podem desaparecer
desfrutando sua estréia
por caminhos inéditos
sem deixar seu endereço
Perder a vida
derramando os dias
sobre frontes sem etiqueta
de sinagoga ou de partido,
sobre bons e maus
como a chuva e o sol
que oferece o Pai de todos.
Não querer contabilizar
se nossos esforços
escorregaram estéreis
sobre a pele fechada
até o pó do caminho,
ou se penetraram férteis
até o segredo
onde germina a vida.
Os seres novos,
a entrega dos dias,
a aposta audaz,
nascem de vidas
tão perdidas a si mesmas,
que o Espírito de todos
as esconde em seu mistério
como em papel de presente,
para abri-las entre o povo
no dia da festa sem ocaso.
Benjamin Gonzalez-Buelta
Salmos para Sentir e Saborear internamente as coisas
Referências
KONINGS, Johan. Espirito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindis, 1981.
GONZALEZ BUELTA, Benjamin. Salmos para Sentir e Saborear internamente as coisas.
PAGOLA, José Antonio. O caminho aberto por Jesus. Lucas. Petrópolis: Vozes, 2012.