10 Janeiro 2011
Salva Kir Mayardit, 60 anos, tem todas as cartas para se transformar no primeiro presidente do futuro Estado do Sudão do Sul, o país número 54 da África. Sua longa biografia tem de sobra para tanto. Lutou desde os 17 anos nas guerras contra o norte e chegou a ser comandante do Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA). Em 2005, depois da morte em um acidente de helicóptero do outro grande herói do país, John Garang, Salva Kir assumiu seu lugar e foi nomeado vice-presidente do Sudão. Pouco depois deixou o cargo para encarregar-se da presidência da região autônoma.
A reportagem é de Á. de Cózar, publicada pelo jornal El País e reproduzida pelo Portal UOL, 11-01-2011.
Mas Salva Kir nem sempre demonstrou a integridade que se supõe nos líderes de um povo e nos pais de uma nação. Nos últimos anos, por exemplo, mostrou-se duvidoso sobre o referendo de secessão. Algumas de suas declarações parecem estranhas, depois de tê-lo visto aprovar a secessão diante de milhares de pessoas. "Trabalhei para que a unidade do Sudão seja atraente para as pessoas do sul", disse depois de ser nomeado.
Em 2009, entretanto, utilizou as palavras de seu antecessor para indicar que o referendo era uma oportunidade histórica. "Ou viver em seu próprio país como um cidadão de segunda classe ou como um homem livre em um Estado independente", afirmou. Mesmo assim, até pouco tempo atrás o governo do Sudão tinha claro que Salva Kir apostaria na união. No entanto, nos últimos meses o líder dos sudaneses do sul decidiu manifestar publicamente seu apoio ao referendo. Segundo ele, porque "o governo do Sudão não havia tornado atraente a união".
Nascido em 1951, Salva Kir é da etnia dinka, a majoritária no Sudão do Sul. É sobretudo um militar metido a político que durante cinco anos soube manter a paz graças a um bom entendimento com o norte. Sua figura está mais próxima da do político pragmático que defende seus interesses do que da imagem de intelectual visionário que Garang projetava.
Seu gosto pelos chapéus de caubói se transformou em uma marca pessoal que o tornou internacionalmente popular, em dura disputa com outro amante dos chapéus raros, o presidente da Nigéria, Goodluck Johnathan. É também muito popular entre os militares que o consideram um grande estrategista, e embora não seja uma pessoa que goste de empregar demais a palavra pode ser que acabe se transformando no pai da pátria. Algumas atitudes suas foram criticadas e, caso verdadeiras, não trariam mais democracia ao novo Estado.
Nas últimas eleições no Sudão do Sul, em 2010, Kir foi reeleito com 93% dos votos. A votação foi posta em dúvida e ele é acusado de ter utilizado pressões para voltar ao cargo. Desde aquela eleição, Omar al-Bashir voltou a situá-lo na vice-presidência do país, como estava acordado.
Para muitos, Kir soube utilizar sua habilidade política, seus dons de estrategista e o consenso para finalmente acabar conduzindo a realização do referendo. Para outros, sua defesa de seus interesses nos últimos anos demonstrou que não é o homem que deve liderar o nascimento da nova nação.
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Sudão do Sul: um "caubói" para um país petroleiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU