Planos de Bolsonaro para o meio ambiente deixam entidades em alerta

Foto: Fernando Frazão | Agência Brasil

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

16 Outubro 2018

Candidato quer unir Ministério do Meio Ambiente ao da Agricultura e fala em acabar com o "ativismo ambiental".

A reportagem é de Débora Melo, publicada por Huffpost Brasil, 14-10-2018.

Extinguir o Ministério do Meio Ambiente e integrá-lo ao Ministério da Agricultura. Acabar com o "ativismo ambiental xiita" no País. Acabar com a "indústria de demarcação de terras indígenas". Explorar economicamente a Amazônia. Tirar o Brasil do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

Essas são algumas das ideias de Jair Bolsonaro (PSL) para o meio ambiente caso vença nas urnas no próximo dia 28 e seja eleito presidente do Brasil. Neste segundo turno, ele disputa com Fernando Haddad (PT) a preferência do eleitorado.

Em entrevista coletiva no último dia 11, Bolsonaro explicou que o objetivo de fundir os ministérios da Agricultura e Meio Ambiente é acabar com a "briga" entre as duas frentes. "Quero deixar bem claro: o futuro ministro será indicado pelo setor produtivo. Não teremos mais briga nessa área."

Para o candidato, a questão ambiental e indigenista é um entrave ao desenvolvimento. Em fevereiro, ele disse que, se vencer a eleição, reservas indígenas e quilombolas não terão "nem mais um centímetro" de terra. Agora, diz também que o indígena quer ser "gente como a gente".

"Vamos integrar os índios à sociedade. Vamos tratá-los como seres humanos", afirmou na coletiva. "Conversei com muitas lideranças. Eles querem ser gente como a gente, não querem ficar confinados em grandes áreas indígenas", completou.

Não é o que diz, porém, o Instituto Socioambiental (ISA), uma das principais organizações da sociedade civil para o meio ambiente. Em reportagem publicada no dia 2, o ISA afirma que lideranças de comunidades tradicionais reconhecem em Bolsonaro um candidato "abertamente contrário aos direitos de indígenas e quilombolas".

Na mesma coletiva, o candidato ainda teve tempo de elogiar o presidente norte-americano, Donald Trump.

"Eu sou um admirador de Trump. Ele quer a 'América grande', eu quero um Brasil grande", afirmou. Assim como fez Trump, Bolsonaro quer renunciar ao Acordo de Paris. Pelo acordo, os países signatários se comprometem a reduzir emissões de gases de efeito estufa, em um contexto de desenvolvimento sustentável.

Em visita a Porto Velho (RO) no final de agosto, Bolsonaro defendeu a exploração econômica da Amazônia e atacou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Para o candidato, o Brasil "não suporta" ter parte de seu território "demarcado como terras indígenas, proteção ambiental, parques nacionais e essas reservas todas".

"Atrapalha o desenvolvimento. Não podemos continuar admitindo uma fiscalização xiita por parte do ICMBio e do Ibama, prejudicando quem quer produzir", afirmou na ocasião.

Ibama "enche o saco"

Integrantes da equipe de Bolsonaro – e que poderão ocupar cargos importantes em um eventual governo – também têm dado declarações recebidas com preocupação pelo Ibama e pelo Ministério Público.

Um deles é Nabhan Garcia, amigo de Bolsonaro e cotado para ministro da Agricultura. Presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Garcia é o "indicado pelo setor produtivo", como bem pontuou Bolsonaro. À agência de notícias Reuters, o ruralista disse que o Ministério do Meio Ambiente atua com o objetivo de "arrecadar" e que é preciso acabar com a "indústria da multa".

"Não pode ter uma indústria da multa punitiva", afirmou em entrevista publicada no dia 9. "O Estado quer arrecadar e tem que acabar com isso", completou.

O Ibama prontamente rebateu. Em nota enviada à Reuters, a presidente Suely Araújo lembrou que a "a fiscalização ambiental é uma das principais atribuições do Ibama há 30 anos".

"Questionar a aplicação de multas em um quadro de cerca de 1.400 operações anuais de fiscalização equivale a negar que a Polícia Federal possa atuar contra ilícitos federais ou que a Polícia Civil possa realizar prisões", escreveu.

Araújo esclareceu, ainda, que os valores de multas não se destinam ao Ibama: 20% vão para o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o restante é destinado ao Tesouro Nacional.

Dois dias depois, quem polemizou foi o general da reserva Oswaldo Ferreira, cotado para ser o ministro dos Transportes de um governo Bolsonaro.

"Quando eu construí estrada [em 1970], não tinha Ministério Público nem Ibama. Derrubei todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco. Hoje, para derrubar uma árvore, vem um punhado de gente para encher o saco", disse Ferreira ao Estadão.

A reação foi imediata. Em nota, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) afirmou que o desenvolvimento de qualquer nação não é incompatível com o respeito ao meio ambiente.

"A ANPR vem a público recordar que a defesa do meio ambiente, das populações tradicionais e suas culturas e a proteção dos direitos da pessoa humana são valores universais, previstos como cláusulas pétreas na Constituição de 1988."

Leia mais