24 Abril 2018
Depois de ler um infeliz artigo de Luiz Felipe Pondé na Folha de São Paulo de hoje (23/04/2018), onde lança ironias, fala do "circo Lula" e da "falsa missa" que teria envergonhado a população religiosa brasileira... me veio a letra de uma canção de Gil:
"Omolu, Ogum, Oxum, OxumaréTodo o pessoal
Manda descer para ver
Filhos de Gandhi"
Ontem estava vendo mais uma propaganda tech-pop-tudo da Globo, desta vez sobre búfalos. "Búfalo é agro". Evocando nosso eventual gosto por mussarela de búfala para justificar o modelo. "Brasil, líder no ocidente na produção de búfalos". (Regra básica: nunca mencionarás os impactos ambientais.)
Soja, milho, açúcar, mel, ovo, café, madeira, banana, porco, mandioca, búfalos. Tudo pop, tudo agro. Minha filha comentou: "Daqui a pouco vão falar que o ser humano é agro". (Depois me lembrei que fizeram um "mulher é agro" recentemente...)
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Foi quando me veio à cabeça uma música dos anos 80 do Premeditando o Breque, o Premê, chamada "Lua de Mel em Cubatão". Quando o município paulista era símbolo de poluição. Trecho:
"Querida, enfim encontramos um pedaço do céu na terra do jeito que a gente sempre sonhou. Aqui o ar realmente existe, dá até para pegar. Ai! o verde, as árvores são verdes, o rio é verde, o céu, a terra, o sol, as borboletas, as pessoas, tudo verde e você nessa paisagem fica tão linda".
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Tudo é "verde", tudo é agro.
Tudo é negócio.
É o que sempre omitem nessa propaganda estratégica do capital, a palavra "negócio". Não se trata de agropecuária, algo muito mais amplo, mas de um determinado modelo (que não é o único), esse tal de agronegócio.
Búfalo é negócio, mel é negócio, ovo é negócio. A soja, o milho, o algodão, o café, tudo "verde", tudo gloriosamente homogeneizado, um bloco monolítico de grana, de captura do que quer que seja (a imagem das mulheres, a doce vida dos búfalos) para que apenas um punhado de gente tenha acesso ao território e aos recursos naturais.
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O agronegócio não é verde. O agronegócio desmata.
O agronegócio - precisamos insistir na palavra negócio, eles querem desmatar a palavra negócio - não está a promover a felicidade dos trabalhadores rurais. (Eu trombo com uma a duas mortes de trabalhadores rurais por dia em minhas pesquisas, gente enterrada em silos, esmagada, decepada.)
O agronegócio é um modelo que compete com outros modos de se relacionar com a terra, com a água. Por isso expulsa camponeses e povos indígenas. Sob a violência da lei (os povos do campo conhecem bem os casuísmos da lei) ou dos jagunços.
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Os ovos na sua mesa, o sorriso do tratorista, as imagens fofas trabalhadas pelos publicitários da Globo (com grana da JBS), tudo é verde, tudo é agro, tudo é pop, tudo é simulacro, portanto.
Búfalos são dóceis. Telespectadores, pensam eles, são dóceis. Aceitarão tudo de bom grado. Acriticamente. Numa eterna lua de mel com o patrão.
"Querida, enfim encontramos um pedaço do céu na terra do jeito que a gente sempre sonhou. Aqui o agro realmente existe, dá até para pegar. Ai! o verde, as árvores são verdes, o rio é verde, o céu, a terra, o sol, as borboletas, as pessoas, tudo verde e você nessa paisagem fica tão linda".
A Globo é negócio. A JBS é negócio. A Monsanto, a Fibria, a Raízen, a Brasil Foods, tudo negócio. Não são populares, não - apenas e intrinsecamente negócio.
Quer entender o que foram, de fato, o FIES e o Pro-Uni?
Então, é preciso analisar de perto a compra anunciada hoje da Somos Educação (editoras Ática, Scipione, Atual, Bemvirá e Saraiva, PH, Anglo, Maxi, Colégio Motivo, Plurall, Sigma, Ético, Geo, Red Ballon, SER, Chave do Saber, Alfacon, Integrado) pela Kroton (Anhanguera, Unime, Unopar, Uniderp, Unic, Pitágoras, LFG e Fama).
O maior grupo de ensino superior do Brasil (Kroton) acaba de comprar o maior grupo de educação básica do Brasil (incluindo escolas próprias e os tais sistemas de ensino). O grupo resultante também tem negócios em editoras e cursinhos para concursos públicos.
O valor da operação foi de R$ 4,6 bilhões.
Os maiores acionistas da Kroton são os fundos BlackRock, JP Morgan Asset Management, Capital World, Invesco e Coronation. Todos estrangeiros.
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Com fraterno respeito compartilho para DISCORDAR .A criação de Deus é amorosa , diversa e pluralista . Posições fundamentalistas e estreitas não ajudam a superar a violência que mata pela homo e transfobia
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Minha paciência tem limites! Padre também não está dentro do que Deus criou! Padre é uma escolha antinatural, e nem por isso má, assim como comer com colher e não com a concha da mão! Pronto falei!
é deplorável imaginar que as pessoas fazem de conta que isso não existe...
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