13 Janeiro 2018
A poucos dias da visita do Papa Francisco ao Peru e ao Chile, programada para os dias 15 a 18 de janeiro, a capital Santiago foi abalada por manifestações de protesto e por verdadeiros atos de violência.
A reportagem é do jornal La Repubblica, 12-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nas últimas horas, pelo menos quatro ataques contra igrejas católicas foram realizados em diversas áreas da cidade. A informação é das mídias locais que citam fontes policiais. Em três dos ataques, as igrejas sofreram danos, especialmente nas portas e nas fachadas, enquanto o quarto foi neutralizado pelas forças da ordem.
Na região da estação central, a paróquia atacada foi a de Santa Isabel da Hungria, onde pessoas desconhecidas jogaram um pano impregnado com combustível na entrada e, depois, jogaram fogo, provocando um incêndio que depois foi controlado por bombeiros.
“Liberdade para todos os prisioneiros políticos do mundo, Wallmapu (território mapuche) livre, autonomia e resistência. Papa Francisco, as próximas bombas serão debaixo da sua batina”, afirma um panfleto deixado pelos autores do ataque.
Fernando Ibañez, um sacerdote que vive na paróquia, informou à rádio local Cooperativa que, poucos horas antes, alguns jovens passaram na frente da igreja e gritaram insultos, mas nunca pensaria que poderia acontecer um ataque desses.
“Eu ouvi um cachorro latir e, da minha janela, vi a luz de uma chama. Levantei-me e liguei para o pároco, Pe. Cristian, enquanto os vizinhos gritavam, nos chamavam”. Então, “peguei um extintor e comecei a apagar o fogo”, explicou.
Na Recoleta, outro ataque atingiu a capela de Emanuel, onde, depois das 3h da manhã, desconhecidos lançaram uma bomba que, ao explodir, escancarou uma porta e quebrou algumas janelas, de acordo com a polícia.
No ataque “foram danificadas algumas janelas e a porta principal da igreja. Foram encontrados objetos que foram arquivados para serem enviados ao escritório do Ministério Público”, disse o capitão da polícia Eduardo Grandon.
Nas primeiras horas da manhã, o ministro chileno do Interior, Mahmud Aleuy, chegou ao local, condenando o uso da violência como forma de manifestação em um país onde há liberdade para expressar opiniões.
Em Penalolén, na capela do Cristo Vencedor, desconhecidos explodiram uma bomba que causou poucos danos. Por fim, no santuário de Cristo Pobre, localizado perto da estação do metrô Quinta Normal, a polícia neutralizou um galão aparentemente cheio de combustível.
O governo anunciou que processará todos os responsáveis pelos ataques. A presidente, Michelle Bachelet, expressou a sua condenação: “O que aconteceu é muito estranho, porque não é algo que pode ser atribuído a um grupo específico”.
Referindo-se ao passado, em relação aos protestos ocorridos durante a visita do pontífice à Colômbia, a presidente afirmou que, naquele caso, eram “um grupo de pessoas com alguns cartazes”, e que, na democracia, as pessoas têm o direito de se manifestar, desde que o façam “de modo pacífico e adequado”.
Bachelet enfatizou ainda que, a três dias da chegada do Papa Francisco ao país, o governo fez tudo o que estava ao seu alcance para ajudar no planejamento e na organização da viagem apostólica.
A presidente explicou que os esforços do Executivo se concentraram na segurança, no suporte para facilitar o acesso aos locais dos eventos, assim como no movimento dos fiéis.
Na manhã dessa sexta-feira, 12, um grupo de manifestantes, liderados pela ex-candidata presidencial Roxana Miranda, ocuparam a sede da nunciatura apostólica na capital chilena, para protestar contra a visita do pontífice.
Na sua página no Twitter, Miranda postou um vídeo que mostra que agentes das forças de segurança chilenas entraram na sede da nunciatura, apesar de os manifestantes tentarem impedir o acesso.
Meia hora depois, uma nova mensagem informou que os manifestantes estavam detidos em um escritório da polícia chilena no bairro de Providencia, junto com o slogan “O dinheiro do fisco será levado por Francisco”.
“Aqui o problema não é a fé, mas sim os milhões que estão sendo gastos” para a visita do pontífice, disse Miranda.
O jesuíta chileno Fernando Montes Matte, ex-reitor da Universidade Alberto Hurtado, tomou a palavra para pedir que os atos de violência realizados nos últimos anos (incluindo os incêndios de igrejas católicas e evangélicas) e conectados com a “questão Mapuche” não obscureçam a “situação de injustiça e violação dos direitos denunciada pelas populações indígenas, que afunda as suas raízes no passado e se perpetua até os nossos dias”.
Já os bispos argentinos se disseram entristecidos que a viagem do papa à América Latina só ocorrerá no Peru e no Chile.
O porta-voz da Conferência Episcopal local, Jorge Oesterheld, declarou que “é um pouco doloroso” que o Papa Francisco “passe perto do nosso país, mas do outro lado”.
“É difícil para os argentinos aceitar esse fato, mas devemos ter confiança de que, assim que puder, ele virá para a Argentina, teremos a sua presença e a sua palavra”, disse Oesterheld.
O bispo Santiago Olivera afirmou que o papa “é uma riqueza, e nós, argentinos, deveríamos nos dar conta de que ele é uma referência mundial e um líder no sentido mais profundo”.
“O papa conhece os momentos e as possibilidades. Ele tem uma vida evangélica indiscutível e está preocupado com todos, não apenas com a Argentina”, acrescentou. “Para a Argentina, deve ser uma fonte de orgulho e de encontro. Todos somos chamados a viver o Evangelho, e o papa o vive”, concluiu Olivera.
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Chile: atentados contra igrejas a poucos dias da chegada do papa. Nunciatura apostólica foi ocupada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU