09 Outubro 2017
Padres denunciam:
PF NEGOU DIREITO DE APOIO ESPIRITUAL AO REITOR SUICIDADO
Ao celebrar missa em homenagem ao reitor Luiz Carlos Cancellier hoje pela manhã, no Templo Ecumênico da UFSC, o padre William Barbosa Vianna fez uma denúncia espantosa: ele e outro religioso foram impedidos ao menos quatro vezes pela Polícia Federal de oferecer apoio ao reitor, que foi preso, algemado nu, submetido a exame interno vexatório e encarcerado sem processo judicial. Segundo o padre, a Polícia Federal também proibiu a Pastoral Carcerária de visitá-lo no dia da prisão, em 14 de setembro.
Em seguida, quando a prisão de Cao Cancellier foi relaxada, mas a juíza o manteve exilado da universidade e recolhido em reclusão domiciliar noturna, os padres novamente tentaram socorrê-lo, sabendo de seu abalo emocional, mas não obtiveram permissão para visitá-lo. "É preciso lembrar que o direito à assistência religiosa é garantido pelo artigo V da Constituição", afirmou William, assessor da Pastoral Universitária da UFSC, fazendo uma revelação que assombrou a própria família do reitor, levado ao suicídio por um espantoso processo de linchamento moral. Até então, sabia-se apenas que Cancellier estava privado do apoio de amigos, principalmente de pessoas de sua convivência na gestão da universidade.
As cerca de 200 pessoas aplaudiram de pé quando o irmão do reitor, Júlio Cancelier, se disse chocado e surpreendido com a recusa ao direito de ajuda espiritual e solicitou à reitora em exercício, Alacoque Lorenzini Erdmann, que apure a verdade e instaure processo para averiguar as calúnias apresentadas contra o reitor no processo calunioso patrocinado pela Polícia Federal, Corregedoria da UFSC e grande parte da mídia comercial. William Vianna, que além de padre é professor e chefe do Departamento de Ciências da Informação da UFSC, disse com clara consternação que há muitos anos a Pastoral Carcerária já vem avisando sobre os abusos nas revistas vexatórias a mães, filhas e familiares em geral dos presos. Com visível consternação, leu o artigo V da Constituição, inciso VII: "É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva".
Na terça-feira, às 14 horas, haverá Reunião do Conselho Universitário para decidir a continuidade da gestão. Como o professor faleceu antes de completar metade do mandato, é possível que sejam convocadas novas eleições, embora haja polêmica na interpretação do estatuto. A cerimônia foi organizada pelo Grupo de Oração Universitária e Pastoral da Juventude e teve a participação do Grupo Shalon, e Emaús como símbolo da pluralidade e interculturalidade religiosa que deve reinar na UFSC. Uma ampla frente de forças progressistas chamada "Floripa contra a exceção" está se mobilizando para fazer do suicídio do reitor um caso exemplar contra o estado terrorista e fascista que pratica o desrespeito total aos direitos de defesa e usa campanhas de difamação para atacar as instituições públicas. “Queremos a volta da democracia e do estado democrático de direito”, afirmou o professor e diretor do Centro de Ciências Jurídicas, Ubaldo Baltazar.
(Raquel Wandelli dos Jornalistas Livres)
O novo Blade Runner é um primor de direção e fotografia. O filme se perde quando aparece o Harrison Ford mas isso já era esperado (para mim, existem três grandes erros quando se faz um remake/sequel/prequel: (1) ficar sempre te lembrando de histórias e personagens do filme original; (2) ficar sempre aumentando a escala das coisas para tornar o filme atual mais épico que o anterior, e; (3) escalar Harrison Ford como ator. Star Wars 7 comete os três, Blade Runner comete um só).
O roteiro é bom, sólido mas não de tirar o fôlego. No miolo da história, houve aquela escolha entre "revolução sangrenta ou pequena revolução pessoal/individual que justifica toda a feiúra do mundo". E Holliwood sempre escolhe o segundo. Acho clichê mas não terrível. E a cena lembra Drive, que também é com o Ryan Gosling e é um filmaço.
O grande problema é a ambientação e, não, não é a questão do futuro do pretérito. O problema são as ideias de um sujeito, recentemente alçado à imagem de herói progressista por conta da violência com que o conservadorismo o tratou mas cujo pensamento faz parte do arcabouço da distopia contemporânea. Alan Turing, encenado por Benedict Cumberbatch em "O Jogo da Imitação"(você sabe por que o filme tem esse nome? O que diabos era "imitado" e o que seria "um jogo" na Segunda Guerra Mundial?).
Turing, como sabemos, foi um matemático, espião e precursor do desenvolvimento da informática(não foi seu "inventor", como quer o discurso do filme sobre sua vida). Ao fim, foi condenado por ser homossexual, sofreu um processo de castração química e morreu como resultado dessas violências.
Para Turing, reproduzindo a lógica da Guerra Fria, uma máquina seria consciente se fosse capaz de parecer consciente para os seres humanos. Na sua formulação, no "Teste de Turing", uma máquina seria consciente se uma pessoa não conseguisse diferenciar ela de um ser humano em um teste cego (uma pessoa conversando com uma máquina e com outra pessoa não seria capaz de distinguir o qual das duas é a máquina e qual das duas é o ser humano). A principal crítica é que isso não construiria máquinas verdadeiramente conscientes mas máquinas capazes de imitar humanos. O termo "Jogo da Imitação" foi formulado por críticos a Turing, o que torna ainda mais curioso que o filme biográfico tivesse esse nome.
Essa lógica tem profundos significados na atual tecnologia (lembrando: tecnologia é técnica aplicada, logo, é permeada de ideologia. Não existe "tecnologia" que não seja fruto, também, da ideologia que a construiu).
A noção de Turing sobre consciência retira a consciência do campo das emoções, sentimentos, sensibilidades e passa para o campo do disfarce e enganação. É a materialização da ideologia da Guerra Fria, de forma similar a como "Invasion of the Body Snatchers"...
Para nossa sociedade, significa que toda nossa relação com a informática encontra-se no campo da enganação, da imitação, da desconfiança, da ilusão. Em suma, da espionagem e da enganação. As consequências dessa visão são profundas em nossa sociedade digital.
Do ponto de vista prático, essa formulação motivou milhares de pessoas a construir máquinas que se passassem por humanos, em desafios anuais de Turing, no início da década de 90. A consequência foi o desenvolvimento de uma ferramenta que hoje está ficando popular, o chatbot.
Na ficção, ela inspirou zilhares de filmes. Um elemento em comum é a distopia, a ideia de que o surgimento de máquinas pensantes seria uma construção escravista e controladora. Essa correspondeu a uma superação da narrativa do Monstro do Dr. Frankenstein e do Pinóquio, onde discutíamos a emocionalidade de máquinas nitidamente máquinas e passamos a discutir a mera divisão entre humanos e seres que parecem humanos. O que parece humano é necessariamente consciente e o ser humano é necessariamente defensivo a respeito da espécie que criou. Curiosamente, Turing nunca foi um primitivista mas seu discurso nos coloca no impasse entre primitivismo e distopia.
Superar a noção de Turing é essencial para discutirmos nossa relação com a tecnologia. Nisso, Heidegger, que estava do lado errado da Segunda Guerra, é mais interessante e libertário que Turing, ao afirmar que não se trata da tecnologia mas de sabermos como a tecnologia nos afeta e o que ela não será capaz de nos garantir(no caso, encarar a questão da liberdade e seus dilemas existenciais).
Ou, como diria Gil:
O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Faz quase tudo
Mas ele é mudo
O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda
Só eu posso pensar
Se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar
Quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões
De carne e osso
Eu falo e ouço. Hum
Eu penso e posso
Eu posso decidir
Se vivo ou morro por que
Porque sou vivo
Vivo pra cachorro e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
No meu caminho inevitável para a morte
Porque sou vivo
Sou muito vivo e sei
Que a morte é nosso impulso primitivo e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus
Olhos de vidro
Sou ateu filho de pai ateu. E, no entanto, estudo religiões há uns 20 anos. O assunto me interessou tanto que cheguei a fazer um segundo mestrado em Ciência da Religião. Diversos motivos me levaram a esse estudo. Destaco dois. Primeiro: é quase impossível compreender qualquer fenômeno pré-moderno sem o auxílio da religião. Segundo: temos uma concepção extremamente ingênua de religião. Reproduzimos inadvertidamente noções religiosas como se essas noções fossem laicas, anti-religiosas, seculares ou mesmo ateístas. E sofremos também do oposto: acreditamos piamente em religião como se a modernidade, a ciência, a tecnologia e o capitalismo não tivessem existido e como se não a tivessem destruído por completo. Esse aspecto bipolar da religião no mundo contemporâneo sempre me fascinou. Mas confesso que cheguei à exaustão.
Uma das maiores canalhices intelectuais de todos os tempos é o que as religiões fizeram com o ateísmo. E aqui me refiro a todas as religiões do mundo, não apenas ao cristianismo e às religiões abraâmicas. Todas as religiões do mundo definiram o ateísmo como uma incapacidade ou uma ausência de espiritualidade. Quando vamos observar a história, quase todos aqueles que foram julgados como ateus não apenas eram profundamente espiritualizados como estavam propondo uma nova concepção de espiritualidade, sem deus, sem deuses, sem outra vida ou outro mundo. Mas ainda assim, espiritualidade, no sentido cristalino do termo.
Hoje em dia nada me dá mais preguiça do que fundamentalistas que não conseguem ver o mundo sob outra ótica que não seja a religiosa e intelectuais que defendem religião. Os primeiros podem ser simplesmente ignorantes, mas se comportam como se não suspeitassem da possibilidade de sua ignorância. Comportam-se então como totalitaristas ingênuos. Tiranos naïfys. Belzebus do bem. E, nesse sentido, são profundamente anti-religiosos, por mais que o neguem. Ao passo que os intelectuais vão padecer nos últimos abismos do inferno de Dante em termos de cinismo. Defendem aquilo em que não acreditam e induzem os outros a acreditarem naquilo que não defendem.
Sinto um enorme cansaço da militância ateísta. Mas confesso que tenho me simpatizado cada vez mais com ela. Afinal, toda a militância é válida quando se defende aquilo que ainda não existe e aquilo que ainda não tem a devida representação junto à sociedade. Nesse sentido, como brasileiro ateu, sinto-me realmente na maior parte do tempo e em quase todas as esferas sociais, culturais e intelectuais um marginal e um verdadeiro extraterrestre. O ateísmo é a espiritualidade do futuro.
Uma das críticas comuns ao debate sobre cultura, ou sobre "costumes e identidades", é que ele é diversionista, que ele desvia o foco da discussão econômica. MBL estaria em um momento impopular e precisaria desviar a atenção das reformas do Temer para queermuseu e similares.
Eu não vou nem discutir a secundarização de lutas contra o conservadorismo, que jamais deveriam ser secundarizadas. Vou me ater ao mais simples: o que sabemos do MBL?
Bem, não faz nem um mês de uma matéria da Piauí sobre um grupo semi-interno do MBL no whatsapp. Uma das coisas mais relevantes ali era o plano, explicado pelo próprio Katacoquinho, de unir neoliberalismo "jovem" com PMDB, ruralistas e evangélicos. A mensagem de zap não tem nem três meses.
Vamos colocar isso em um timeline e ver como fica. Há três meses atrás, o MBL anuncia internamente que esse era o plano. Durante os três meses seguintes, eles juntaram dinheiro, fizeram pesquisa sobre que temas poderiam agradar aos evangélicos, planejaram a discussão do tema e partiram para o abraço. O queermuseu foi anunciado em Agosto, o MBL só mobilizou pessoas para agredir visitantes da exposição em Setembro.
Então, na boa, não foi "diversionismo". Foi uma proposta de casamento aos evangélicos mais conservadores. Foi um plano bem elaborado e bem executado. E está funcionando, com omissão de quem se recusa a discutir "qualquer coisa que não economia"(e, na real, utopiza a discussão econômica e não discute nada de fato, mas ok). E terá sérias consequências econômicas, se vitorioso.
Primeiro prenderam o Cabral, agora o Nuzman! O Paes se pirulitou faz tempo e está escondido em algum canto.
Com Isso tudo, meus amigos que aplaudiram as Olimpíadas (sim, eu lembro de vocês!!!), quem poderá defender o importante legado dos mega-eventos?
Ofertório – Caetano Veloso
Mapa da África antes da colonização europeia!
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