30 Mai 2017
Justin Trudeau foi recebido pelo Papa Francisco depois da reunião do G7 de Taormina. O primeiro-ministro canadense falou com Francisco sobre a questão dos maus-tratos dos indígenas nas escolas residenciais católicas. Depois da audiência com o Pontífice, Trudeau reuniu-se com o cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, e com o “ministro do Exterior” vaticano, dom Richard Gallagher.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 29-05-2017. A tradução é de André Langer.
“Nas cordiais conversas – pode-se ler em um comunicado vaticano – revelaram-se as boas relações bilaterais entre a Santa Sé e o Canadá, além da contribuição da Igreja católica na vida social do país. Sucessivamente, falou-se sobre os temas da integração e da reconciliação, assim como a liberdade religiosa e suas atuais problemáticas éticas. Foram discutidas também, para concluir, à luz dos resultados da recente cúpula do G7, algumas questões de caráter internacional, com especial atenção para o Oriente Médio e as áreas de conflito”.
Trudeau, que durante o fim de semana passado participou do G7 de Taormina e que no domingo visitou Amatrice para levar a solidariedade do povo canadense à população atingida pelo terremoto, estava na companhia da sua esposa Sophie.
Antes da audiência no Vaticano, a Sala de Imprensa do primeiro-ministro canadense tinha confirmado, como foi antecipado nos últimos dias, que em primeiro lugar na agenda estariam alguns temas sobre os quais Trudeau queria falar com o Papa: sobretudo a questão do papel desempenhado pela Igreja canadense no sistema das escolas residenciais para indígenas. O clima, o diálogo inter-religioso e os migrantes foram outros temas que o primeiro-ministro queria conversar.
Entre 1880 e 1996, o governo federal enviou de maneira forçada cerca de 150 mil crianças das etnias indígenas locais, como parte da política da assimilação forçada, a escolas administradas por Igrejas (católica, anglicana e protestante). Em 2015, a Comissão para a Verdade e a Reconciliação certificou que nestes institutos houve abusos, doenças e mortes. É uma página triste da história em que se viu envolvida em primeira pessoa a Igreja católica, que se ocupava da gestão destes institutos. A Igreja católica não apenas colaborou com o governo federal nesta obra de desenraizamento da cultura nativa, mas também viu-se envolvida em casos não isolados de violência física e psicológica muito grave, incluindo abusos sexuais, cometida contra estes pequenos dentro das escolas.
“Vemos o passado e pedimos perdão”, escreveu o arcebispo de Ottawa em uma carta pastoral dirigida à sua diocese por ocasião da “marcha da reconciliação” (de 2015, ndr.). “Muitas das escolas residenciais eram administradas por entidades católicas e reconhecemos que temos uma responsabilidade moral no que aconteceu, além da obrigação de nos arrependermos por estes erros. Com a consciência dessa história – acrescentou Prendergast dirigindo-se aos fiéis –, com sua presença nos eventos e com a oração, ajudarão a Igreja em seu desejo de colaborar com as comunidades aborígenes para construir um futuro compartilhado no respeito recíproco”.
Neste percurso de conscientização e de purificação da memória por parte da Igreja canadense, devemos recordar que em 2009, no Vaticano, aconteceu um encontro entre o Papa Bento XVI e o grande chefe da assembleia dos nativos do Canadá, Phil Fontaine, organizado pelo então presidente da Conferência Episcopal do Canadá, dom James Weisgerber. Naquela ocasião, explicou um comunicado da Sala de Imprensa vaticana, Ratzinger manifestou “sua dor e a angústia causada pela deplorável conduta de alguns membros da Igreja” neste sistema das escolas residenciais, e acrescentou que “atos de abuso nunca podem ser tolerados na sociedade. Bento XVI rezou por que as vítimas puderam receber consolo.
A questão das escolas residenciais também foi abordada durante o recente encontro do Papa Francisco com os bispos canadenses, recebidos em visita ad limina apostolorum em março deste ano.
Durante a audiência desta segunda-feira, Francisco deu de presente a Trudeau uma medalha do quarto ano do seu Pontificado e seus três documentos magisteriais: Evangelii Gaudium, Laudato Si’ e Amoris Laetitia, além da mensagem para a Jornada Mundial da Paz de 2017, assinada pessoalmente para o primeiro-ministro canadense, como fez quando a deu ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes do G7 de Taormina.
O primeiro-ministro canadense deu de presente a Francisco seis volumes de informes que os missionários jesuítas do Canadá enviavam à cúria geral e que seguem sendo ainda hoje, segundo Trudeau, um instrumento essencial para que os historiadores conheçam a origem da história canadense (“Relation de ce qui s’est passé de plus remarquable aux missions des pères de la Compagnie de Jesus en la nouvelle France”, 1632-72).Também lhe deu algumas páginas emolduradas de um vocabulário da época, também escrito pelos missionários jesuítas.
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O primeiro-ministro canadense, Trudeau, visita o Papa depois da reunião do G7 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU