17 Fevereiro 2017
Os equatorianos põem à prova no domingo o mandato do presidente que governou o país nos últimos dez anos, Rafael Correa. Pela primeira vez desde 2006, é possível que a eleição de seu sucessor não ocorra no primeiro turno. A maioria das pesquisas coloca como favorito o candidato do atual mandatário e ex-vice-presidente, Lenin Moreno, com mais de 30% dos votos. Mas, salvo surpresas na reta final da campanha, é improvável que consiga se impor a seus competidores: o empresário Guillermo Lasso, candidato do Movimento CREO, e Cynthia Viteri, líder do Partido Social Cristão.
A reportagem é de F. Manetto, publicada por El País, 16-02-2017.
O legado da chamada "revolução cidadã" feita por Correa e seu partido, o Movimento Aliança País, oscila. Isso ocorre, segundo os analistas, por diferentes motivos: a preocupação pela economia, que experimentou uma estagnação nos últimos dois anos, o aumento do emprego de baixa qualidade – ainda que o desemprego não passe dos 5%, no ano passado quase 20% dos trabalhadores receberam menos de 1.145 reais mensais – e pelas próprias circunstâncias das eleições presidenciais e legislativas.
A figura de Lenin Moreno, que finalizou sua campanha na noite de quarta-feira em Quito, não tem a força que ainda dá a Correa altos níveis de popularidade por uma espécie de gratidão diante da gestão e dos investimentos – por exemplo, em infraestrutura – de seus primeiros mandatos. E o candidato da situação fez equilíbrios complicados entre essa herança e a tentativa de construir um perfil próprio, deixando em segundo plano a retórica da revolução, da soberania e da boa qualidade de vida. Além disso, o presidente em fim de mandato apareceu pouco com seu antigo vice-presidente.
A sensação é a de se estar diante do fim de um ciclo, descreve Franklin Ramírez, professor de Estudos Políticos da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais. O pesquisador afirma que o voto mais fiel do Aliança País está acima de 30%, um respaldo elevado, mas insuficiente para resolver a eleição no primeiro turno. Em sua opinião, contudo, "a candidatura de Lasso nunca decolou completamente" e de alguma forma a eleição presidencial de domingo "é uma primária da direita". Definitivamente, "esse rebanho dócil", diz ao utilizar uma expressão dos opositores de Correa, "não é tão dócil".
O desgaste do Governo de Correa é, além disso, transversal. Ou seja, não é visto somente na classe média e nas chamadas elites, mas também em setores populares da população. E, aconteça o que acontecer no domingo, o Equador encara uma nova etapa na qual, previsivelmente, o próximo mandatário deverá inaugurar um novo tipo de relação com a oposição e estabelecer um diálogo com seus adversários para governar.
A porcentagem de indecisos na eleição beira os 20% e calcula-se que chegará ao seu máximo histórico de 10% no dia da votação. Blasco Peñaherrera, gerente da agência de pesquisas Market, afirma que a maioria dos indecisos dividirá seus votos entre os candidatos da oposição, que poderiam até mesmo chegar a um "empate técnico" entre ambos, e que o voto oculto, que não puderam decifrar, também beneficiará a oposição. "Vemos eleições muito complexas, nas quais votaremos após 10 anos de um presidente muito forte, com alta aprovação em boa parte de seu período, mas também implacável contra os críticos: Existe, sem dúvida, um voto oculto, mas será contrário aos candidatos da situação", conclui.
Os principais candidatos da oposição são muito semelhantes: são oriundos de setores conservadores de Guayaquil e foram atrás de seus colegas de fórmula em Quito para ganhar o voto na capital do país. Os dois candidatos usam a palavra "mudança" em seus lemas de campanha e tentam captar o voto do anticorreísmo com propostas como reduzir impostos, abolir leis impopulares como a Lei da Comunicação, e reformar a Constituição de 2008, que segundo seus críticos favoreceu o hiperpresidencialismo.
Lasso, conhecido por sua trajetória em bancos, concorre pela segunda vez em uma eleição presidencial (em 2013 foi o principal rival de Correa e obteve 22,7% dos votos) e sua promessa central de campanha é a criação de um milhão de empregos aos equatorianos pelo setor privado. Viteri, conhecida por seu trabalho como congressista desde o final dos anos noventa, também concorre à presidência do Equador pela segunda vez (a primeira foi em 2006, onde também enfrentou Correa e obteve 9,6% dos votos)
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Equador põe à prova o desgaste do mandato de Rafael Correa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU