30 Janeiro 2017
Ninguém se surpreendeu com as primeiras medidas tomadas por Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, uma vez que entre as suas principais bandeiras de campanha estava o desmonte das obras e legados de Barack Obama.
A reportagem é de Reinaldo Canto, publicada por CartaCapital, 30-01-2017.
Na área ambiental, a primeira ação da nova administração foi eliminar do site da Casa Branca a página com notícias e ações do governo sobre mudanças climáticas. O objetivo imediato de Trump é acabar com o Plano de Ação Climática do governo anterior e iniciar fortes investimentos na exploração de petróleo, gás e carvão.
No último dia 24, ele assinou ordens executivas aprovando a construção dos polêmicos oleodutos Keystone XL e Dakota Access que, por seus enormes riscos ambientais, haviam sido barrados por Obama.
Para Trump, acabar com o legado ambiental será uma forma de “eliminar políticas danosas e desnecessárias” e, segundo ele, gerar empregos.
Trump não apresentou evidências disso, mas ignora provas do aquecimento global. Dados divulgados pela Organização Meteorológica Mundial e pela Nasa, a agência espacial norte-americana, constataram que 2016 foi o ano mais quente da história, sendo o terceiro ano consecutivo de recorde no aumento da temperatura global.
Os levantamentos apontam para a continuidade desse processo de aquecimento constante e as simulações para 2050 mostram que, veja só a ironia, os EUA chegarão a um aumento de 2º C antes do resto do mundo. Em alguns dos estados mais ricos do país, a temperatura deverá atingir 3º C a mais do que a média planetária.
Consequentemente, os Estados Unidos, grandes produtores de alimentos, devem ter perdas agrícolas enormes, além de experimentarem um crescimento de fenômenos climáticos extremos, tais como tornados, enchentes e secas prolongadas.
São sinais eloquentes de que não será possível para Donald Trump considerar os Estados Unidos uma ilha, por mais que ele cerque o país com muros. No caso das mudanças climáticas não existem soluções nacionalistas. Este é um problema que envolve decisões conjuntas de toda a comunidade internacional. O horizonte é de grandes perdas econômicas e, como se pode ver, os Estados Unidos serão muito afetados em decorrência do aquecimento global.
Resistências à truculência e ignorância do novo mandatário norte-americano começaram a surgir.
Uma delas e de grande relevância foi a carta endereçada a Trump por mais de 540 empresas e 100 grandes investidores participantes do movimento empresarial Low-Carbon USA O grupo pede à nova administração da Casa Branca e também ao novo Congresso apoio às políticas que acelerem a transição do país para uma economia de baixo carbono, com o objetivo de enfrentar as mudanças climáticas.
Entre as empresas signatárias estão gigantes como Starbucks, Nike, L’Oreal, Gap, Levi’s, Unilever, General Mills, Hilton, Dupont e Schneider Electric, entre outras. Juntas, essas corporações representam receita anual superior a 1,15 trilhão de dólares e empregam cerca de 2 milhões de pessoas em todo o país.
A carta faz menção ao Acordo Climático de Paris e à necessidade de se cumprir suas metas de redução das emissões globais dos gases de efeito estufa. As empresas listadas afirmam que farão sua parte para “cumprir os compromissos do Acordo Climático de Paris de uma economia global que limita o aumento da temperatura planetária bem abaixo de dois graus Celsius”.
Entre as ações listadas pelas empresas estão o aumento da eficiência energética e a utilização crescente de energias limpas e renováveis.
Para Anna Walker, diretora sênior de Política Global e Advocacy da Levi Strauss & Co., "é imperativo que as empresas tomem um papel ativo no cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Acordo Climático de Paris". “Será fundamental que trabalhemos juntos para garantir que os EUA mantenham sua liderança climática, garantindo, em última instância, a prosperidade econômica de longo prazo de nossa nação", disse.
Trump deve ficar atento à essa realidade. Empresas norte-americanas já investiram muitos bilhões de dólares em energia renovável dentro e fora do país. Além disso, esse mercado é promissor para os EUA, ainda que a liderança esteja em disputa com China, Alemanha e Japão, entre outros.
O que o mundo e os EUA menos precisam neste momento é de uma visão limítrofe e atrasada. Trump, o “presidente do fim do mundo”, pode retardar o avanço para uma economia de baixo carbono, mas, espera-se, não poderá sozinho alterar os rumos da economia mundial, inclinada nesse sentido. Ainda assim, neste aspecto parece evidente que sua passagem pela Casa Branca será ruim para todos, inclusive para seus eleitores.
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Trump, na contramão do mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU