01 Novembro 2016
Essa é uma entre tantas consequências da globalização: um número reduzido de empresas multinacionais controla uma parte importante do mercado mundial de alimentos.
O resultado é que tais firmas concentram uma enorme influência para determinar como a comida é repartida no mundo. Potencialmente, também têm a capacidade de determinar ações que podem ajudar a aliviar a fome no planeta.
A reportagem foi publicada por BBC Brasil, 30-10-2016.
Por isso, a Oxfam, ONG baseada na Grã-Bretanha, está realizando há três anos uma campanha pública intitulada Behind the Brands (Por trás das marcas).
Por meio dela, discute as políticas de compra de alimentos dessas grandes multinacionais - e a maneira como isso influi no mercado da comida.
As dez maiores empresas que estão no foco da campanha são Nestlé, PepsiCo, Unilever, Mondelez, Coca-Cola, Mars, Danone, Associated British Foods (ABF), General Mills e Kellogg's. Elas foram selecionadas por encabeçar mundialmente o volume de vendas do setor.
Todas são europeias ou norte-americanas. Dominam os setores de produtos lácteos, refrigerantes, doces e cereais, entre outros.
A Oxfam diz que essas empresas faturam juntas US$ 1,1 bilhão (R$ 3,4 bilhões) diariamente e empregam milhares de pessoas.
"Há uma ilusão de opções. Você vai a um supermercado e vê diversas marcas, mas muitas são das mesmas dez empresas", afirmou Irit Tamir, da Oxfam América, à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Essas empresas operam em mercados globais em que a produção de alguns itens está concentrada em poucas empresas.
Irit Tamir aponta como exemplo três delas, que atuam na cadeia de valor do cacau: Mars, Mondelez e Nestlé. Elas controlam 40% do comércio mundial nessa área.
Somente entre 3,5% e 5% do valor de uma barra de chocolate vai para o pequeno produtor rural, segundo a ONG.
Enquanto isso, no setor de refrigerantes, Coca-Cola e Pepsi se tornaram as maiores compradoras de açúcar do mundo.
A Oxfam estimou o impacto das políticas dessas empresas sobre algumas variáveis: posse da terra, mulheres, camponeses e trabalhadores, transparência, clima e água.
Assim, a ONG criou uma tabela de classificação da responsabilidade social na política de aquisição de alimentos dessas dez corporações. As atitudes positivas rendem pontos na tabela.
Depois, os ativistas fizeram uma campanha para que as empresas minimizem o impacto que exercem sobre setores específicos.
"Pedimos que as grandes empresas do setor de chocolate tratem melhor as trabalhadoras", disse Irit Tamar, a título de exemplo.
A organização também pediu às empresas de refrigerantes que não tolerem conflitos de terra em relação ao cultivo de cana-de-açúcar. Já as firmas de cereais General Mills e Kellogg's foram convidadas a reduzir o impacto climático de suas atividades.
A boa notícia é que muitas empresas responderam bem à campanha, segundo a Oxfam. A evolução delas na tabela ao longo de três anos de campanha é positiva.
Em fevereiro de 2013, por exemplo, a empresa com melhor classificação entre as dez grandes, a Nestlé, tinha apenas 38 pontos de 70 possíveis. Em 2016, a pontuação da mesma companhia subiu para 52.
As ações adotadas pelas empresas vão de políticas de transparência corporativa a estratégias de redução de danos ambientais provocados por cultivos, diz a Oxfam.
O fato de essas grandes empresas parecerem estar adotando políticas mais socialmente responsáveis é uma consequência positiva, pois espera-se que o poder dessas corporações continue aumentando no futuro.
"Estamos presenciando cada vez mais concentração (de mercado) entre poucas empresas", disse Tamar. "As grandes compram as pequenas".
A Oxfam pede que as empresas empreguem bem esse poder econômico que estão adquirindo e afirma que ficará vigilante.
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As dez multinacionais que controlam o mercado mundial de alimentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU