11 Agosto 2016
Os Estados Unidos entregaram para o governo argentino na semana passada documentos secretos relativos ao período da última ditadura militar do país sul-americano (1976-1983). Os papéis contêm relatos de torturas e de desaparecimentos e evidenciam as violações sistemáticas de direitos humanos praticadas pelos militares.
Os documentos foram entregues pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, à chanceler argentina, Susana Malcorra. Simbolicamente, o governo argentino os repassou a organizações de direitos humanos, como as Avós da Praça de Maio.
Os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da Argentina, Mauricio Macri. Foto: Embaixada dos EUA na Argentina-David Fernandez-Pool Photo via AP |
Os arquivos se tornaram públicos na segunda-feira, 08-08-2016. Eles estão disponíveis na web e podem ser acessados em um sítio do governo dos Estados Unidos (em inglês).
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Aproximação entre Obama e Macri
O repasse dos documentos cumpre uma promessa que o presidente Barack Obama havia feito em sua visita à Argentina, em março de 2016. Ele esteve no país durante o aniversário de 40 anos do golpe militar, que foi apoiado pelo governo dos Estados Unidos à época.
A liberação dos arquivos atende a um pedido do presidente argentino, Mauricio Macri, e de organismos de direitos humanos. O ato é um aceno do governo estadunidense a Macri, que tenta implementar uma política de maior alinhamento ao país da América do Norte, em oposição ao distanciamento da era dos presidentes Néstor e Cristina Kirchner, entre 2003 e 2015. Esses impulsionaram uma política de investigação dos crimes cometidos durante a ditadura e de punição dos responsáveis por ele.
O apoio dos EUA aos militares
A entrega consiste em documentos diplomáticos e memorandos internos de agências e departamentos do governo dos EUA, em um total de 1.081 documentos. Trata-se de um primeiro grupo de papéis, que compreendem um período entre 1977 e 1980, durante a presidência de Jimmy Carter. As próximas remessas, ainda sem prazo de envio, devem abranger o governo de outros presidentes.
Os arquivos revelam tensões internas na política estadunidense para a Argentina e para a América Latina. O governo de Carter fez diversas críticas aos abusos de direitos humanos cometidos pelos militares.
Por outro lado, Henry Kissinger, secretário de Estado entre 1973 e 1977, sob os presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, visitou a Argentina durante a Copa do Mundo no país, em 1978. Na ocasião, conforme revelam os documentos agora liberados, ele cumprimentou o governo de Jorge Rafael Videla por seu sucesso no “combate ao terrorismo”.
Por João Flores da Cunha / IHU – Com agências
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Estados Unidos publicam documentos secretos sobre a ditadura na Argentina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU