05 Agosto 2016
Potenciais beneficiárias da nova legislação eleitoral, igrejas evangélicas articulam candidaturas próprias para ampliar a bancada na Câmara Municipal de São Paulo.
As denominações pretendem usar a influência de líderes religiosos e a presença de candidatos em atividades internas para eleger ao menos cinco vereadores, além dos dez que tentam renovar o mandato.
A reportagem é de Thais Bilenky, publicada por Folha de S. Paulo, 05-08-2016.
Na disputa pela prefeitura, a possibilidade de Celso Russomanno (PRB) ter a candidatura barrada pela Justiça favoreceu João Doria (PSDB), que obteve gestos de simpatia de lideranças como o bispo Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra, e o pastor Silas Malafaia.
A redução da campanha para 45 dias, a restrição de plataformas de propaganda e a proibição de doações de empresas tendem a favorecer segmentos com base eleitoral formada, como igrejas.
De olho nisso, denominações lançam candidaturas próprias como as de João Jorge (PSDB) e Gilberto Nascimento Jr. (PSC) pela Assembleia de Deus - Ministério Madureira, que se empenha também na reeleição das vereadoras Noemi Nonato (PR) e Sandra Tadeu (DEM).
A Assembleia de Deus do Belém, sem vereador na atual legislatura, lançará Rute Costa (PSD). Filha de seu presidente, José Wellington Bezerra da Costa, sua eleição é dada como certa no setor.
A igreja do Evangelho Quadrangular lançou o pastor Rinaldi Digiglio (PRB) e a Plenitude do Trono de Deus, a irmã Anita (PRB).
Algumas campanhas devem esbarrar, contudo, no veto à presença de candidatos no púlpito. A prática é comum e pouco fiscalizada, embora vetada desde 1997, observou o advogado especializado em eleição Ricardo Penteado, que atuará na campanha de Marta Suplicy (PMDB).
Para ele, a minirreforma eleitoral trará "desequilíbrios" e "algumas forças podem ser utilizadas indevidamente como os cultos".
O pastor Wilton Acosta, articulador político do PRB para igrejas evangélicas, afirmou que "a falta de conhecimento da legislação pode fazer com que a gente cometa uma série de equívocos".
"A participação de candidatos nas atividades internas, sua presença com a turma da igreja em uma reunião de bairro, isso pode ser caracterizado como trabalho eleitoral e, para nós, é voluntário. Traz bastante temor", disse.
Expansão
Malafaia, pastor no Rio de Janeiro, disse que vai ajudar de "50 a 60 candidatos" pelo país – em São Paulo, será Gilberto Nascimento Jr.
"As bancadas vão aumentar, porque, quando você tem uma demanda ideológica, cresce o voto nos representantes", disse o pastor.
Ele citou o que evangélicos chamam de "ideologia do gênero" –a concepção combatida pelo programa da Escola sem Partido segundo a qual crianças desenvolvem a orientação sexual no decorrer de sua formação.
"Querem botar na goela da sociedade o que foi rejeitado pela Câmara e o Senado. Isso provoca a necessidade de manifestar a nossa cidadania."
Segundo Malafaia, a mobilização de fiéis se dará por meio de santinhos distribuídos em portas de igrejas e, especialmente, pelas redes sociais. "Nós temos uma vantagem: está provado que ninguém usa rede social mais que as igrejas evangélicas, porque somos comunidades. Isso é muito poderoso".
Malafaia disse que Doria "faria bonito" se eleito, assim como Russomanno, "se não for cassado".
O tucano "é simpático e preparado para esse tempo de crise e dificuldade", disse.
Bispo Rodovalho, da Sara Nossa Terra, disse que com os dois há "mais abertura de diálogo" e "reciprocidade rápida". Ele afirmou que Russomanno, "ao nosso ver, "tem muito pouca chance de manter candidatura".
O deputado Missionário José Olimpo (DEM-SP), da Igreja Mundial do Poder de Deus, disse crer que a bancada evangélica passará a representar 30% dos vereadores paulistanos. "A tendência é sempre aumentar, porque o crescimento do povo evangélico é grande no país."
Olimpo lembrou o crescimento de 15% da bancada evangélica na Câmara dos Deputados em 2014.
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Evangélicos esperam se beneficiar de nova lei eleitoral - Instituto Humanitas Unisinos - IHU