“As economias dos EUA e do Brasil são fundadas em vícios lucrativos”, afirma ativista

Mais Lidos

  • O economista Branko Milanovic é um dos críticos mais incisivos da desigualdade global. Ele conversou com Jacobin sobre como o declínio da globalização neoliberal está exacerbando suas tendências mais destrutivas

    “Quando o neoliberalismo entra em colapso, destrói mais ainda”. Entrevista com Branko Milanovic

    LER MAIS
  • Abin aponta Terceiro Comando Puro, facção com símbolos evangélicos, como terceira força do crime no país

    LER MAIS
  • A farsa democrática. Artigo de Frei Betto

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: Cesar Sanson | 29 Julho 2016

Deborah Small está no Brasil para falar sobre a guerra às drogas como uma guerra contra comunidades negras.

A reportagem é de Gisele Brito e publicada por Brasil de Fato, 28-07-2016.

Para a ativista negra norte-americana, Deborah Small, é cruel que sociedades como Brasil e Estados Unidos, que fundaram suas economias explorando vícios lucrativos, agora direcionem seus sistemas de justiça para criminalizar quem comercializa outras drogas. Deborah é fundadora da Break the Chains e está no Brasil para falar sobre a guerra as drogas como uma guerra contra comunidades negras.

“A gente tende a esquecer que açúcar, tabaco e álcool são substâncias viciantes e que construíram impérios econômicos. Toda a ideia da escravidão foi em cima de impérios de produção de açúcar e do lucro provindo daí. A gente tem que se perguntar se não é cruel que sociedades que foram inteiramente forjadas sobre vícios lucrativos, agora construam seus sistemas de justiça punindo quem tem vícios lucrativos”, afirma.

Durante a entrevista concedida para mídias negras, ela mencionou seu choque ao visitar o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, e ver policiais mostrando ostensivamente suas armas durante rondas na comunidade, situação que não seria tolerada no Leblon, bairro nobre da zona sul, ainda que exista consumo e venda de drogas nos dois bairros. Ela ainda exemplificou a “insanidade” do combate ao consumo e venda de drogas com o desequilíbrio econômico que é prender alguém por vender um produto que renderia a ele mil dólares e gastar mais de 125 mil dólares com sua punição. “Seria mais lógico que se desse quinze mil para cada jovem pego vendendo essas drogas e fizesse ele prometer nunca mais fazer aquilo”, ironizou.

Para ela, é fundamental que os movimentos negros incorporem esse conceito e se livrem da ideia da “autopunição”, herança do escravismo.

“Um dos legados dos nossos períodos de escravidão é que pessoas negras acostumaram a se punir, ignorar a dor e o sofrimento um do outro e a se sentir impotente para parar essa cadeia. Sendo ensinadas que vidas negras não importam tanto quanto outras vidas. Ao mesmo tempo que nos condicionavam a isso, pessoas brancas estavam sendo condicionadas a nos punir e subjulgar”, afirmou.

Ela enfatizou a importância dos movimentos negros e feministas - já que o número de mulheres presas por envolvimento com tráfico é o que mais cresce no mundo - se apropriarem dessa pauta. Deborah lembrou também que é fundamental o fortalecimento da consciência negra pan-americana, porque em todo continente a “vida dos negros importam menos”. “A maioria das pessoas que recebem as balas, são negras classificadas como traficantes. A gente permitiu que eles transformassem todo um grupo social em suspeitos por conta do combate as drogas”, concluiu.