27 Julho 2016
O apetite dos seres humanos de corroer o tecido da própria Terra está crescendo prodigiosamente. De acordo com um novo relatório da ONU, a quantidade de recursos naturais do planeta extraídos para uso humano triplicou em 40 anos.
A reportagem é de Alex Kirby, publicado no sítio da Climate News Network, 23-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um relatório produzido pelo Painel Internacional de Recursos (IRP), parte do Programa Ambiental da ONU, diz que o aumento do consumo impulsionado por uma crescente classe média provocou o aumento da extração de recursos de 22 bilhões de toneladas em 1970 para 70 bilhões de toneladas em 2010.
Ele se refere aos recursos naturais como matérias-primas e inclui nesse âmbito a biomassa, os combustíveis fósseis, os minerais metálicos e não metálicos.
O aumento na sua utilização, adverte o relatório, acabará esgotando a disponibilidade de recursos naturais – causando uma grave escassez de materiais críticos e correndo o risco de gerar conflitos.
O crescente consumo de matéria-prima vai afetar as mudanças climáticas, principalmente por causa das grandes quantidades de energia envolvidas na sua extração, uso, transporte e eliminação.
Esgotamento irreversível
"O ritmo alarmante em que os materiais estão sendo extraídos agora já está tendo um grave impacto sobre a saúde humana e sobre qualidade de vida das pessoas", diz a copresidente do IRP, Alicia Bárcena Ibarra.
"Precisamos resolver esse problema urgentemente, antes de esgotar irreversivelmente os recursos que alimentam as nossas economias e tiram as pessoas da pobreza. Esse problema profundamente complexo, um dos maiores testes da humanidade, exige um repensamento da governança da extração de recursos naturais."
O IRP diz que a informação contida no novo relatório defende o monitoramento do progresso que os países estão fazendo para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODSs). Ele também mostra a maneira desigual em que os materiais explorados são partilhados.
Os países mais ricos consomem, em média, 10 vezes mais do que os recursos disponíveis aos mais pobres e duas vezes mais do que a média mundial.
Esse total – quase três vezes o montante de hoje – provavelmente aumentará a acidificação das águas do mundo, a eutrofização dos seus solos e águas, agravará a erosão do solo e levará a maiores quantidades de resíduos e de poluição.
O relatório também classifica os países pelo tamanho das suas pegadas materiais per capita – a quantidade de material necessário em um país, um indicador que lança luz sobre o seu verdadeiro impacto sobre a base de recursos naturais global. Também é uma boa maneira para julgar o padrão de vida material de um país.
A Europa e a América do Norte, que tinham pegadas materiais anuais per capita de 20 e 25 toneladas em 2010, respectivamente, estão no topo da tabela. A pegada da China era de 14 toneladas, e do Brasil, 13. A pegada material per capita anual da Ásia-Pacífico, América Latina e Caribe, e oeste da Ásia era de 9-10 toneladas, e a da África era inferior a três toneladas.
Quantidades sem precedentes
O uso material global acelerou rapidamente desde o ano 2000, diz o relatório, enquanto economias emergentes como a China passam por uma transformação industrial e urbana que requer quantidades sem precedentes de ferro, aço, cimento, energia e materiais de construção.
Para agravar os problemas, houve pouca melhoria na eficiência material global desde 1990. A economia mundial precisa agora de mais material por unidade do PIB do que na virada do século, diz o IRP, porque a produção passou de economias materialmente eficientes como o Japão, Coreia do Sul e Europa para países muito menos materialmente eficientes, como China, Índia e o sudeste da Ásia.
O relatório diz que o desacoplamento do crescente uso de materiais em relação ao crescimento econômico é o "imperativo da política ambiental moderna e é essencial para a prosperidade da sociedade humana e de um ambiente natural saudável".
Isso exigirá um investimento em pesquisa e desenvolvimento, combinado com políticas públicas e financiamentos melhores, criando oportunidades de crescimento econômico sustentável e criação de emprego.
O IRP também recomenda que se coloque um preço sobre as matérias-primas na extração, de modo a refletir os custos sociais e ambientais da extração e do uso de recursos, ao mesmo tempo em que se reduz o consumo. Os fundos extras gerados, diz, poderiam ser investidos em pesquisa e desenvolvimento em setores da economia intensivos em recursos.
O IRP está preocupado que a crescente demanda de materiais que os países de baixa renda provavelmente experimentarão poderia contribuir para os conflitos locais, como os observados em áreas onde a mineração compete com a agricultura e com o desenvolvimento urbano.
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Espoliação dos recursos da natureza por parte da humanidade está se intensificando - Instituto Humanitas Unisinos - IHU