Por: Jonas | 12 Julho 2016
Não só precisam pagar milhares de dólares, trabalhar como escravos ou se prostituir para concretizar seu sonho de escapar da miséria e chegar ao “paraíso-Europa”, mas muitos também morrem pelo caminho, principalmente no Saara ou no Mediterrâneo (3.000 nos primeiros seis meses de 2016, segundo a Organização Internacional para as Migrações). E de acordo com as declarações de um traficante de seres humanos arrependido, que colabora com a justiça italiana, aqueles que em última instância não podem pagar o que lhes é pedido para chegar à costa italiana, nem fazer chegar o dinheiro através de suas famílias, são vendidos para um grupo de traficantes egípcios que os matam para lhes retirar os órgãos que, em seguida, vendem a altíssimos preços. “Às vezes, os migrantes não têm dinheiro suficiente para pagar a viagem realizada por terra, nem a quem se dirigir para pagar a viagem pelo mar. Então, estas pessoas são entregues aos egípcios que os matam e lhe retiram os órgãos para vendê-los no Egito”, disse o traficante. Acrescentou que os egípcios estão preparados para fazer tais tipos de operações, já que os órgãos são transportados em bolsas térmicas para diferentes lugares.
A reportagem é de Elena Llorente, publicada por Página/12, 10-07-2016. A tradução é do Cepat.
Não é a primeira vez que se fala deste grande negócio criminoso, mas é a primeira vez que é contado por um traficante. O arrependido, Nuredin Atta Wehabrebi, 32 anos, de origem eritreia e que colabora há mais de um ano com a justiça italiana na Sicília, também explicou aos investigadores, disseram fontes judiciais, como o bando organizava a permanência dos migrantes, assim que chegavam em território italiano, e como faziam para transladá-los para o norte da Itália e para o restante da Europa. Disse, além disso, que o centro financeiro do bando ficava em Roma. Deste modo, as forças investigativas puderam descobrir um negócio em Roma, administrado por um migrante, onde encontraram 500.000 euros em efetivo e outros tantos milhares de dólares, além de uma agenda com números de telefone e contabilidade dos criminosos. Paralelamente, no mesmo dia em que o traficante fazia estas confissões, em toda a Itália, foram detidos cerca de 38 possíveis componentes de uma quadrilha dedicada ao tráfico de migrantes.
Em relação aos traficantes egípcios, um estudo publicado em 2013, por uma jornalista eritreia que vive na Suécia e ativista dos direitos humanos, Meron Estefanos, unido a outros relatórios de especialistas de uma universidade da Holanda, descreveu o que significa o Sinai, uma península do território egípcio, ao oeste do canal de Suez, para onde aproximadamente 30.000 pessoas foram levadas como reféns, entre 2007 e 2013. Sobretudo, eritreus, somalis e sudaneses. No Sinai, roubam tudo o que possuem, são torturados, abusados e assassinados para ser usados como “peças de reposição”. Alguns falam até de espécie de clínicas meio improvisadas que existem no deserto do Sinai. A organização não governamental Every One (Grupo para a Cooperação Internacional na Cultura dos Direitos Humanos) denunciou, em 2011, o calvário de 250 refugiados africanos no Sinai. Quatro deles foram levados à força a uma clínica clandestina onde lhes retiraram os rins.
Contudo, não se trata somente do Sinai. Na Síria, dada a quantidade de refugiados que fogem da guerra, fontes oficiais estimam que cerca de 4 milhões de refugiados deixaram o país, dos quais 18.000, diante da impossibilidade de pagar a viagem, venderam seus próprios órgãos, conseguindo, assim, entre 1.000 e 7.000 dólares por cada um. Os lucros dos traficantes de órgãos são alucinantes, uma vez que há milhares de pessoas esperando um transplante e que estão dispostas a pagar até 100/200 mil dólares por um órgão.
Segundo a “Iniciativa Global das Nações Unidas para combater o tráfico de seres humanos”, pertencente a Unodoc (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes), em geral, o tráfico de órgãos ocorre em três condições: às vezes, os traficantes obrigam uma pessoa a dar um de seus órgãos. Outras vezes, as vítimas concordam em vender um de seus órgãos, mas são enganadas porque os traficantes não lhes pagam ou lhes pagam menos que o prometido. No terceiro caso, são pessoas mais vulneráveis que são ludibriadas pela fome, e seus órgãos são extraídos, saibam ou não as vítimas.
Os mais vulneráveis são os migrantes, as pessoas sem educação ou analfabetos. Estes tráficos são feitos com pessoas de todas as idades, esclareceu a organização das Nações Unidas. Porém, as três possibilidades incluídas nesta iniciativa não contemplam a possibilidade de que as pessoas sejam assassinadas somente com o objetivo de lhes retirar os órgãos. O tráfico de órgãos é uma organização criminosa, concluiu o relatório, que inclui as pessoas que identificam aqueles que são vulneráveis, os transportadores, a equipe de médicos que fazem as extrações, as clínicas, os mediadores, os compradores e os bancos onde os órgãos são depositados à espera de um comprador. Todas atividades ilegais e condenáveis, segundo o Unodoc, que luta pela transparência em matéria de transplantes de órgãos e pelo respeito às normas profissionais, éticas e legais que regulamentam a doação e o transplante em cada país.
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Migrantes assassinados por causa de seus órgãos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU