23 Junho 2016
A escola de pensamento econômico que chegou ao apogeu de poder e prestígio com o Plano Real volta a reinar sobre a política econômica através da nova Diretoria do Banco Central, com o Presidente e três diretores vinculados à Escola de Economia da PUC Rio, uma escola de pensamento econômico ultra ortodoxo e herdeira da visão conservadora que nasce com Eugênio Gudin, fundador dos cursos de economia no Brasil, que via o Brasil como economia subsidiária dos grandes centros e deveria se conformar com isso, Gudin era anti-industrial e ligado ao comércio importador do Rio, seu antípoda só poderia ser um paulista, Roberto Simonsen, empresário e a favor de uma economia baseada na indústria e não na importação, o Rio vivia de intermediação e São Paulo vivia da indústria, está no DNA das duas cidades.
O comentário é de André Araújo, publicada por Jornal GGN, 23-06-2016.
A PUC Rio herdou a agenda de dependência externa que veio de Gudin e só conhece um tipo de economia, alicerçada nos países centrais, tanto como fornecedores de capitais como de produtos, ideias, turismo, eventos, vive-se do que vem do exterior e não do que se produz.
Nenhum dos países dos BRICS tem essa visão, todos acreditam na importância de uma sólida indústria nacional e não pretendem depender exclusivamente do mercado financeiro internacional, os grandes emergentes China, Índia e Rússia tem completa conexão com a economia global, mas nunca deixaram de controlar sua economia com um projeto nacionalista, um comando firmemente dentro do País e não baseado na finança internacional, como é o que a PUC Rio propõe para o Brasil, uma economia de país de terceiro nível e não de um País potência.
Com o Plano Real, a PUC Rio atingiu seu apogeu, toda a "equipe do Real" era da PUC Rio, que a partir daí passou a dominar o Banco Central, excluindo do processo os economistas da produção que anteriormente formavam pelo menos parte das equipes econômicas.
O problema conceitual e operacional dos economistas da PUC Rio é que eles são formados e treinados com alta especialização em macroeconomia, e não tem interesse em microeconomia, aquilo que são os sistemas da economia agropecuária, da economia industrial, da logística, da infraestrutura, do comércio. Toda a concentração dos economistas da PUC Rio é na moeda, câmbio e juros, eles não tem interesse nos aspectos que consideram menos nobres da economia, eles buscam fanaticamente construir modelos em que devem estar em ordem a estabilidade monetária, o câmbio e os juros, fatores como emprego e renda da população ou considerações sociais estão fora de seus campos de interesse.
Nem sempre foi assim no Brasil, economistas como Roberto Campos, Delfim Netto, Otávio Bulhões, Mario Henrique Simonsen e Ernane Galveas tinham visão muito mais ampla do conjunto da economia e de suas bifurcações sociais e políticas, todos eram culturalmente mais bem equipados, não cultivavam tanto os modelos matemáticos e tinham muito mais faro com as correlações da economia com o Poder.
Ter exclusivamente economistas de finanças dirigindo um País complexo e repleto de reverberações e conflitos sociais é uma temeridade, eles simplesmente não são equipados para dirigir toda a economia, são equipados para dirigir um banco de investimentos, universos muito diferentes.
O maior capital desses economistas são suas conexões com o exterior, com o FMI, Banco Mundial, universidades americanas, muitos deles já moraram e pretendem morar no exterior, aliás o sonho de muitos deles é chefiar uma divisão no FMI ou uma vice presidência do Banco Mundial como final de carreira com a família inteira devidamente instalada nos gramados de Washington, Boston ou Palo Alto.
Permito registrar que minha critica é de natureza puramente ideológica e refere-se a uma escola de pensamento econômico e não à escola física da Economia da PUC Rio, uma faculdade altamente qualificada pela excelência de seus professores, pelas belas instalações e pela categoria dos alunos, enquanto escola que confere diplomas, a crítica aqui se trata exclusivamente da Escola no sentido intelectual do termo. Eu descrevi em contexto com muito maior inserção histórica em livro escrito logo após a implantação do Plano Real denominado "A ESCOLA DO RIO", editora Alfa Omega, livro que versa sobre o pensamento da Escola de Economia da PUC Rio.
Outro componente importante é a uniformidade ideológica dos estudantes da PUC Rio, formam uma irmandade muito mais forte do que os estudantes egressos da USP, seu contraponto ideológico em São Paulo é a UNICAMP, a escola nacional desenvolvimentista.
Os egressos da PUC Rio se consideram superiores, são os economistas "ricos" porque associados a bancos, afinal estudaram para serem banqueiros, enquanto os da USP ou UNICAMP são encontradiços em federações de indústria e de comércio, em institutos de pesquisas econômicas, em empresas industriais.
Nenhuma das demais faculdades construiu uma "turma" fechada como a PUC Rio, onde um vai, leva cinco ou dez colegas que pensam igual a ele e esse é o perigo das equipes econômicas constituídas só por "PUCs Rio" não há um pensamento dissonante nem de tom e nem de grau, para um essencial debate interno nas instituições que dirigem.
Hoje o Brasil atravessa um momento político e social muito diferente de 1994, mais problemático e complicado pelo desemprego que não havia em 1994, havia inflação mas não desemprego na escala de hoje, o quadro social é muito mais complexo, há classe que ascendeu e caiu, uma inteira nova geração de jovens sem nenhuma oportunidade de emprego, o mundo social e político está visivelmente conturbado e esse grupo não tem roteiro para lidar com esses problemas, sua receita pode ser boa para o mercado financeiro mas para as aspirações de grande parte da sociedade brasileira de hoje, creio que eles não tem a sensibilidade e o radar necessário, pelo menos o discurso de posse de Ilan Goldfajn foi muito mais restrito do que a situação hoje exige, sem mínima preocupação com a recessão, como se esse não fosse um problema e os comentários que se ouvem é que Goldfajn é o mais flexível da equipe, os demais estão à direita dele.
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PUC Rio volta a reinar sobre a política econômica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU