10 Junho 2016
Ele foi o primeiro expoente de uma Igreja a receber, há dois anos, a Medalha Carl Sagan, o prestigiado prêmio para a divulgação científica concedido anualmente pela Sociedade Astronômica Americana, em memória de um dos mais famosos astrônomos do século XX, mas o irmão Guy Consolmagno, 54 anos, jesuíta, respirou a paixão pela comunicação desde pequeno, quando vivia com a sua família em Detroit, Michigan, uma paixão que ainda o acompanha no seu escritório no Observatório do Vaticano, do qual é diretor desde 2015.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 06-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Filho de um jornalista, Consolmagno entrou na Companhia de Jesus aos 36 anos, justamente no momento em que a sua carreira de astrônomo tinha decolado. Estudos em ciências planetárias no MIT de Boston e PhD na Arizona University: havia o suficiente para que se abrissem várias oportunidades ao brilhante estudioso, mas os desígnios imperscrutáveis de uma vocação religiosa o levaram primeiro a pedir um ano sabático com o Corpo de Paz na África e, depois, no retorno, a escolha definitiva com os jesuítas.
"Quando você se mudou para o Observatório do Vaticano, você sentiu alguma ironia por parte dos seus colegas seculares?", perguntou-lhe Summer Ash, diretora do departamento de astronomia da Columbia University, em Nova York.
"Na verdade, não. Na realidade, a reação mais comum foi a pergunta: 'Você vai à igreja? Eu também, sabe, mas não conte a ninguém'. Com efeito, eu poderia listar algumas das figuras mais importantes no campo da astronomia que me falaram da sua fé. Eu diria que o percentual de pessoas que são frequentadores de uma igreja corresponde mais à cultura e à educação da qual provêm do que à sua profissão."
Na entrevista, publicada no site do Smithsonian, o maior órgão museal e educacional dos Estados Unidos, Consolmagno explica de bom grado os seus estudos e a relação fé-ciência, também para desmascarar muitos preconceitos enraizados, como, por exemplo, a suposta incompatibilidade entre ser cientista e crer em Deus.
"Em última análise, não se trata apenas de fazer ciência, mas do porquê fazemos ciência. Quando eu tinha 30 anos, eu me perguntava: 'Por que fazemos isso? Devemos fazer isso por algo maior do que nós mesmos e maior do que a nossa carreira ou é apenas um trabalho como tantos outros?"
Para o jesuíta, é de fundamental importância não ter medo de falar sobre as próprias convicções com os colegas de trabalho: não para fazer proselitismo, mas para demonstrar que é possível ser cientista ou técnico e, ao mesmo tempo, crer em Deus e ir à igreja aos domingos. E, ao mesmo tempo, mesmo dentro da própria Igreja, ganhar visibilidade por causa do próprio trabalho: precisamente por sermos cristãos, amamos a ciência e a pesquisa, ambos dons de Deus.
"A Teoria do Big Bang, de fato, não é um modelo cosmológico de matriz ateia, ao contrário. Eu costumo lembrar as pessoas que o Big Bang foi inicialmente hipotetizado por um padre católico belga – Georges Lemaître –, e eu gosto de dizer isso. Muitos dos grandes heróis da ciência foram pessoas profundamente religiosas. De todas as fés, não apenas de uma. James Clerk Maxwell (o físico escocês que elaborou a primeira teoria do eletromagnetismo), durante anos, foi o meu herói, e ele era um homem profundamente religioso, de fé anglicana. Quem imaginaria isso? Nunca se falou disso na época, simplesmente porque ninguém precisava falar a respeito. A razão pela qual o Vaticano tem hoje o seu próprio observatório é mostrar ao mundo que a Igreja promove a ciência, e não o contrário."
O Ir. Consolmagno – um dos mais qualificados especialistas do mundo em meteoritos, as pedras que caem do céu – promoveu, dentre outras coisas, os Astronomia Workshops: padres, diáconos e educadores paroquiais são hospedados durante uma semana no Centro de Pesquisa de Tucson, no Arizona (o "Vatican Observatoty Research Group" fundado em 1981 como sede independente do Observatório de Gastelgandolfo) e podem dialogar com os astrônomos nos bastidores. Essas pessoas, depois, voltam para as suas paróquias ou para casa e relatam a sua experiência.
"A esperança – afirma o jesuíta – é que, através dessas pessoas, as pessoas aprendam que a astronomia é uma coisa maravilhosa. E que o Vaticano promove tudo isso. Porque não é verdade que devemos ser contrários à ciência para sermos bons cristãos, muito pelo contrário. E esperamos que isso tenha um efeito multiplicador. Veremos."
"Há uma razão mais profunda – declarara ele no momento da sua nomeação como diretor, há dois anos –, o universo físico é o modo que Deus tem para se comunicar conosco. Deus se revela nas coisas que criou, e nós somos chamados a estudar as coisas que Ele criou, a fim de chegar a conhecê-Lo melhor. Pessoalmente, quando eu estudo o universo físico e o modo pelo qual ele funciona, eu sinto uma sensação de alegria, a mesma alegria que eu sinto na oração: a presença de Deus."
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Irmão Consolmagno: "Cientistas que creem? São mais do que se imaginava" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU