16 Mai 2016
A piedade é um conceito humano, um sentimento que não deve ser confundido com a compaixão pelos animais, afirmou o Papa Francisco. Professor Enrico Alleva, etólogo, ex-presidente da Sociedade Italiana de Etologia, pensa que a piedade seja um pensamento reservado – e a reservar – somente aos seres humanos?
“Penso que no conceito de piedade haja espaço tanto para os seres humanos como também para as outras espécies. De certo, deve estar presente na relação entre os seres humanos, mas isso não significa que devam ser excluídos os animais. Há lugar para todos”.
A entrevista é de Valeria Arnaldi, publicada por Il Messaggero, 15-05-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
Segundo o Pontífice, atualmente muitos dedicariam mais atenções às seres com patas do que aos próximos...
É uma questão de solidão. Quem é só, com frequência procura conforto na companhia de um cão, um gato ou um outro animal. Acontece aos anciãos com filhos que vivem em outras cidades, mas também ao solteiro. A nossa sociedade é uma sociedade líquida, que perdeu a riqueza das relações humanas.
Tem sido a perda do contato com os outros que determina a mudança na relação com as outras espécies?
Nos contextos rurais, os animais vivem fora da casa e com funções decididamente diversas das atuais, que tornavam diferente o tipo de relação com o homem. A passagem da sociedade rural à urbanizada, com a transferência às cidades, determinou, obviamente, mudanças de relação. Entre as duas fases, houve um momento de transição na qual os animais, em alguns povoados, eram deixados diante da porta da casa sob o alpendre.
Os elos atuais entre os homens e os cães e os gatos são demasiado estritos?
Hoje são muitos os assim chamados zoomaníacos, que vivem com dezenas de cães ou gatos. A tendência é evidente e nasce precisamente da solidão, pela necessidade de criar relações que não se consegue, provavelmente, construir de outra forma.
Como vivem os animais este novo tipo de relação com o ser humano?
A tendência à zoomania pode chegar a por em risco a saúde mental de cães e gatos. A relação pode se exacerbar. Alguns, às vezes, narram como os seus cães gostam de ver um filme na televisão, mas o cão preferiria sair com o proprietário talvez a fazer compras, como se fosse uma partilha de caça. O problema é que os elos com os animais, para muitos, parecem mais simples e até mais econômicos do que aqueles entre seres humanos. Seria preciso recuperar uma relação mais sadia, semelhante àquela precedente à urbanização.