09 Mai 2016
Livro A Construção Política do Brasil foi sistematizado por Gilberto Antonio Faggion no primeiro encontro do I Ciclo de Estudos Modos de existência e a contemporaneidade em debate
Gilberto Antonio Faggion Foto: Cristina Guerini Link/IHU |
Na última quinta-feira, 05-05-2016, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU, a apresentação e o debate sobre o livro abriram as sessões do I Ciclo de Estudos Modos de existência e a contemporaneidade em debate. Reflexões transdisciplinares à luz de diferentes obras.
Nesse sentido, nas sessões que acontecem até o dia 10 de novembro, os temas serão discutidos a partir da análise de obras de estudiosos de diversas áreas do conhecimento. Em um primeiro momento as obras são analisadas por professores e pesquisadores convidados, e na sessão seguinte os próprios autores dos títulos debatem suas produções com os participantes.
Luiz Carlos Bresser-Pereira estará na Unisinos nesta segunda-feira, 09-05-2016, a partir das 19h30min no Auditório Central, no campus São Leopoldo, debatendo o seu livro A Construção Política do Brasil. Sociedade, Economia e Estado desde a Independência. São Paulo: Editora 34, 2014, 464 pp.
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Foto: Wikipedia
O debate do livro se fará à luz dos debates implementados pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU no Ciclo intitulado Economia Brasileira. Onde estamos e para onde vamos? Um debate com os intérpretes do Brasil.
O economista é professor emérito da Fundação Getulio Vargas, onde leciona economia, teoria política e teoria social. É presidente do Centro de Economia Política e editor da Revista de Economia Política desde 1981 e escreve coluna quinzenal da Folha de São Paulo. Em 2010 recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Buenos Aires. É ex-ministro dos governos Sarney e Fernando Henrique Cardoso. É graduado em Direito pela Universidade de São Paulo, mestre em administração de empresas pela Michigan State University, doutor e livre docente em economia pela Universidade de São Paulo.
Para o professor Faggion, sintetizar a obra de Bresser-Pereira foi um “desafio, pois se trata de um trabalho complexo e detalhado que examina múltiplos aspectos da questão política brasileira”. Conforme sintetizou o professor, o livro traz uma “análise integrada da evolução da sociedade, da economia e da política brasileiras desde a Independência até a atualidade. Para Bresser-Pereira, a história reflete a ocorrência de coalizões de interesses entre classes sociais, que possibilitaram a formação de Estados-nação, o começo do capitalismo e da Revolução Industrial. Parte do pressuposto de que a revolução capitalista é o momento crucial de cada povo”, explica.
Seguindo essa linha de raciocínio, a pesquisa de fôlego realizada por Bresser-Pereira oferece subsídios que permitem uma visada histórica e analítica da trajetória social, política e econômica do Brasil. “As principais origens do atraso do processo de industrialização brasileira foi o pacto oligárquico, que se atinha exclusivamente à exportação de produtos naturais. Sobre esse aspecto, Bresser-Pereira reconhece a importância do perfil ditador de Vargas como vetor da transição do sistema de produção das oligarquias para dar início à Revolução Industrial no país. Vargas foi decisivo nesse sentido”, aponta Faggion, que em sua exposição percorreu as diferentes transformações da organização social brasileira através do caminho apontado pelo autor da obra, chegando até uma das origens das assimetrias que se perpetuam até os dias atuais no país.
“Além da colonização do Brasil ter sido regida por um processo de exploração mercantil, o que foi decisivo para o desenvolvimento tardio do capitalismo, em meados da década de 1960 é estabelecido o pacto autoritário-modernizante para impulsionar o desenvolvimento do país, mas que acaba reforçando as desigualdades. Esse pacto excluía os trabalhadores e a esquerda e essa exclusão teve seus impactos, apesar de ter proporcionado algum desenvolvimento econômico no período. Da classe média até as mais altas, houve uma concentração de renda que não se via desde o período oligárquico. Após a revolução industrial brasileira, a renda se concentrou especialmente nas mãos dos que passaram a trabalhar com a exportação de manufaturados”, analisa Faggion.
Mesmo passando por muitas fases e implementando diferentes estratégias para a busca do desenvolvimento, muitas mazelas sociais ainda continuam perenes no país. Depois do estudo cuidadoso das análises presentes na obra, o professor sintetiza a visão do autor sobre o perfil do país diante de seu longo percurso de construção até a atualidade. “De forma sintética se poderia dizer que o Brasil é uma sociedade ainda nacional-dependente; uma sociedade em busca de uma estratégia nacional de desenvolvimento; uma nação que rejeita o Estado liberal, mas não logrou ainda reconstruir e renovar o Estado desenvolvimentista; um País que precisa aumentar sua taxa de investimento; uma sociedade civil viva e atuante que garante uma democracia consolidada; uma sociedade em que ainda impera a desigualdade, mas a luta pela justiça social está viva; uma sociedade que ainda discrimina os negros e os mestiços; uma sociedade que luta pela proteção do ambiente; e uma democracia viva, quase participativa”.
O conferencista
Gilberto Antonio Faggion é graduado em Comércio Exterior e Administração de Empresas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos e mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Atualmente, é professor da Unisinos e integrante da equipe do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Os debates
Profissionais e estudantes de diversas áreas participaram das discussões sobre a obra de Bresser-Pereira e compartilharam suas impressões a respeito dos assuntos abordados.
Jorge Gouveia, professor de inglês na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha e na rede municipal de ensino de São Leopoldo, levantou o tema das reformas como meio de melhorar as condições socioeconômicas do país. “O que o livro fala sobre as reformas estruturantes, que não foram realizadas e agora voltaram à pauta? Será que a nação passaria a um novo estágio de desenvolvimento se elas fossem realizadas?”, pergunta. O professor Faggion, a partir de sua leitura da obra entende que “seria interessante que o Estado investisse em áreas estratégicas e até na criação de empresas para fortalecer áreas em que o Brasil não está atendendo no momento. Precisamos pensar o que o país quer e que caminho pretende seguir”, frisa.
Maria Inês Utzig Zulke, professora e psicóloga na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, ressaltou que “o Brasil não promoveu o Estado de bem-estar social. O início desse processo foi interrompido e hoje estamos em outro tempo. Enquanto outros países implementaram medidas para garantir o bem-estar social, o Brasil escolheu outros caminhos e isso gerou um grande passivo. E agora como vamos fazer isso em outro tempo, com outras complexidades? Esse é o grande imbróglio do nosso modelo de desenvolvimento”, reflete.
Marita Beatriz Konzen, professora nos cursos técnicos da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, continuou as reflexões sobre o Estado de bem-estar social. “Fui professora da Unisinos e me formei aqui na instituição na pós-graduação em Direito e Política na década de 1980. Nessa época pensávamos muito sobre esse conceito de Estado de bem-estar social. Um dos principais pressupostos que apontávamos nas discussões era que antes de ter liberdade é preciso ter igualdade. Fiquei curiosa quanto à questão da diminuição da desigualdade e da pobreza tratada no livro, pois a pobreza é uma das desigualdades persistentes”, aponta.
Sobre essa questão, para Faggion, “o Estado não pode se furtar de agir, tem que investir em áreas estratégicas. Quando Bresser-Pereira fala em desigualdades, é em relação ao acesso às estruturas que está se referindo, isto é, mesmo que tenhamos rendas de valores diferentes é necessário que tenhamos acessos aos serviços, instituições e pelo menos o suficiente para uma vida digna. Fazendo uma analogia, é como se estivéssemos em uma corrida. Precisamos trabalhar a largada para que todos tenham acesso ao mesmo processo de preparação, com alimentação adequada e as condições para competirmos em igualdade. Nesse sentido, só distribuir dinheiro não diminui as desigualdades”, analisa.
“Se não resolvermos a questão da distribuição de renda e da diminuição da pobreza, essa corrida ficará apenas para as classes médias e para a aristocracia aplaudir. Os mais pobres continuarão excluídos. Estamos vivendo agora uma crise da representatividade, com as disputas em relação ao golpe ou impeachment, o que certamente vai se reverter na continuação do passivo no desenvolvimento”, completa o professor Jorge Gouveia.
Por Leslie Chaves
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O momento político nacional à luz da obra de Luiz Carlos Bresser-Pereira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU