27 Abril 2016
Será que a necessidade de vida normal o constringe cada dia a mediar entre a sua personalidade e a função tradicional de Pontífice, será que necessita do contato direto com o povo, o fato é que o Papa Bergoglio logo que pode aproveita a possibilidade de evadir de Santa Marta e ir descobrir um pedaço de Roma. Anteontem, por exemplo, aceitou o convite que lhe fora dirigido pelo Movimento dos Focolari para ir à Pista de Treinamento de Villa Borghese para escutar uma reflexão sobre a defesa do planeta.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 26-04-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Ecologistas, cientistas, climatologistas. “Santidade, por que não vem? Falar-se-á também de sua encíclica”. Visto que o tema do ambiente está na ordem do dia e que a apenas alguns dias na ONU foi assinado um pacto sem precedentes entre 173 nações, Bergoglio não se fez de rogado e no último minuto fez saber aos seus colaboradores que sairia do Vaticano para ir à convenção onde se deteve por uma hora pronunciando também um breve discurso de improviso. A determinação de ultrapassar os limites de Além Tibre é sempre mais frequente, embora o Papa, quando decide sair, não o faz impensadamente porque sabe que cria engarrafamentos de tráfego, causando problemas a uma cidade por si já engarrafada, pondo também em fibrilação a complicada máquina da segurança.
O Comandante da Gendarmaria, Giani, já se acostumou e não se assusta mais ante a perspectiva de alguma inesperada blitz, com o Papa que se mistura como se nada fosse, numa multidão não prevista.
Assim, também há três dias fez preparar à tarde a Ford Focus azul e uma escolta invisível para ir à Villa Borghese.
No sábado de manhã, ao invés, o Papa se encaminhou a pé fora da cancela do Petriano, para dirigir-se em meio aos jovens que estavam em São Pedro para festejar o jubileu. Acomodou-se sob uma colunata, numa cadeira, para confessar como faziam os outros párocos, com uma estola rocha nos ombros. Um gesto simples de padre, não usual para a imagem de um Pontífice revestido pelas obrigações de protocolo. Bergoglio seguramente o fez para aproximar os jovens ao sacramento da confissão, mas talvez também para romper certa monotonia.
Não gosta da vida retirada em Santa Marta, lhe é pesada e não faz mistério disso. Com os jornalistas, durante os voos papais, gracejou por diversas vezes sobre aquela que considera uma gaiola dourada. Talvez para ele, de vez em quando, sairia incógnito, talvez à tardinha, a encontrar algum amigo, a comer uma pizza, a fazer um passeio vestido com o clergyman. “Faz-me tanta falta a pizza”
Naturalmente não é possível. Certos impulsos ele deve limitar. No ano passado decidiu ir pessoalmente ao oculista, para trocar a armação dos óculos que se rompera e no espaço de cinco minutos sucedeu o fim do mundo, a Praça del Popolo ficou lotada de pessoas. Nuvens de turistas com o celular na mão registrando a cena, enquanto fora a multidão, na medida em passavam os minutos, crescia com a multidão. Precisaram intervir diversas patrulhas de vigias para refazer um espaço e manter distanciados os curiosos.
Em suma, romper o isolamento papal nem sempre se revela fácil. Mas, desde quando iniciou o Jubileu da Misericórdia é mais fácil romper as filas. Cada sexta-feira do mês, sem dar pré-avisos, se dirige à periferia para encontrar anciãos, enfermos terminais, jovens drogados, detidos, imigrantes. Neste mês escolheu ir a Lesbos, a ilha vanguarda da imigração, símbolo da falência das políticas europeias.
Sua pregação sobre alguns temas é marteladora. A Igreja em saída, o caminho para as periferias, manter abertas as portas do coração para não se blindar dentro das fechaduras da alma. Francisco é o a pô-las em prática. E não só metaforicamente.
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O Papa Bergoglio e a jaula de Santa Marta. Sempre mais frequentes as suas saídas do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU