Por: André | 19 Abril 2016
A diretora-geral da cadeia católica KTO, Philippine de Saint Pierre, estava com o Papa Francisco em Lesbos, na Grécia, no sábado. Ela estava no avião que levou as três famílias de refugiados sírios para Roma. Ela fala ao JDD sobre esse deslocamento.
A entrevista é de Anne-Charlotte Dusseaulx e publicada por Journal du Dimanche, 16-04-2016. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
Qual era o clima no avião que trouxe os refugiados com o Papa?
Os refugiados estavam na parte da frente do avião, junto com a comitiva do Papa, fora da nossa curiosidade. Tradicionalmente, no avião do Papa, o Sumo Pontífice está na parte dianteira; sua comitiva está na parte seguinte; e nós jornalistas, ficamos na parte de trás. Nós não sabemos se eles tiveram um contato direto com o Papa durante a viagem. É provável que este último tenha repousado. Em todo o caso, nós vimos os refugiados atravessarem a cabine várias vezes. Eles estavam ao mesmo tempo tímidos, muito ruborizados e muito sorridentes, sobretudo as crianças. Eles não falaram nada.
Na chegada a Roma, o Papa desceu do avião. Ele acolheu as famílias e saudou a cada um na base da escada. Na sequência, os imigrantes ficaram sob os cuidados de membros da Comunidade Santo Egídio, que vai se ocupar de lhes dar moradia, mas também de se encontrarem com outras famílias a fim de que possam criar laços.
Você sabe como estas famílias foram escolhidas?
São três famílias, totalizando 12 pessoas: seis adultos e seis menores. Eles são sírios e muçulmanos. Duas famílias vêm de Damasco e a outra vem de uma região atualmente sob o controle do Estado Islâmico. A mídia grega disse que elas foram escolhidas por sorteio. Em todo caso, havia critérios. Era necessário que fossem pessoas em situação particularmente vulnerável, para que um retorno colocasse suas vidas em perigo.
Por outro lado, era preciso que fossem pessoas que dispunham de autorizações administrativas ou de documentos que os tornassem elegíveis pelos serviços da Secretaria de Estado [o governo do Vaticano] e pelas autoridades gregas e italianas. Isto pôde ser preparado. Mas rapidamente preparado, uma vez que a própria viagem não foi anunciada com muito tempo de antecedência. A viagem do Papa foi confirmada apenas no começo da semana.
Você teve a oportunidade de falar com eles?
Não, nós não tivemos a chance durante o voo. Antes de deixar a Grécia, eu pude falar com uma mulher [o testemunho da Agnès pode ser visto aqui, em francês.] que ajudou uma das suas famílias de refugiados – uma jovem chamada Nour, seu marido e seu filho de dois anos e meio – que me disse que eles foram avisados ontem [sexta-feira]. Esta manhã [sábado], eles foram orientados para pegaram seus pertences, colocar tudo em sacos e um ônibus iria levá-los... Realiza-se essa famosa travessia da morte em menos de 24 horas. Imagino o choque. Eu interpreto, mas eles deviam estar um pouco espantados com sua chegada.
Essas famílias vão ser alojadas no Vaticano?
Ainda não sabemos muito bem. O que é certo é que seus cuidados são inteiramente financiados pelo Vaticano. Duas famílias de refugiados iraquianos já foram acolhidas há pelo menos um ano por uma paróquia do Vaticano. Isso remonta ao tempo em que o Papa Francisco convidou cada paróquia para acolher uma família de refugiados. Isso não quer dizer necessariamente que serão alojadas no Vaticano. Mas é a Santa Sé que aluga apartamentos e fica responsável por todas as suas necessidades.
Como especialista, qual é a sua opinião sobre este gesto do Papa Francisco?
Com o Papa Francisco, podemos – e devemos – estar preparados para tudo. Isso se parece muito com ele, é uma maneira de unir a ação à palavra. É um homem cujo ensinamento passa muito pelo exemplo, pela maneira como ele pessoalmente age. É nessa linha. Em princípio, no papel não é possível. O fato de que o Papa, que é ao mesmo tempo um líder e um chefe de Estado, faça uma visita a algum lugar, em condições tão rápidas, com tantos fatores, e que, além disso, volta levando a bordo do seu avião várias famílias de refugiados para, em consonância com o governo italiano, garantir seu reassentamento na Europa, é mesmo incrível! É um gesto forte e ao mesmo tempo claro para essas pessoas envolvidas em primeiro plano, mas também para os governantes e as nações. Por este gesto, ele inevitavelmente provoca as consciências.
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No avião do Papa: os refugiados “estavam tímidos e sorridentes” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU