11 Fevereiro 2016
O teólogo e psicólogo Wunibald Müller pede a abolição do celibato obrigatório. Ele já escreveu duas vezes ao papa. Agora, volta a esperar que algo se mova.
A reportagem é de Julius Müller-Meiningen, publicada na revista Christ & Welt, n. 6, de fevereiro de 2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
A obrigação do celibato para os padres católicos deve ser abolida?
Em si, o celibato é uma forma de vida enriquecedora. As pessoas que têm tal carisma podem conseguir viver o celibato de forma credível. Renunciam conscientemente à sua sexualidade e conseguem. Problemática é a obrigação do celibato.
Por quê?
Eu dirijo há 25 anos a Recollectio-Haus, em Münsterschwarzach, um lugar de refúgio, dentre outras coisas, também para os religiosos em situações de crise. Eu vi centenas de padres que se desgastam para enfrentar o desafio de um estilo de vida celibatário, para o qual muitos não estão à altura. Justamente padres jovens se dedicam com muito entusiasmo na sua tarefa, depois se apaixonam e se dilaceram, divididos entre o amor pela sua profissão e o amor por uma mulher. É difícil de aceitar. Entre eles, há padres muito bons, que decidem pela mulher, mas, desse modo, estão perdidos para a profissão.
Por que os candidatos ao presbiterado não sabem de antemão com o que se comprometem?
Muitos padres têm uma visão equivocada do celibato. Isso não significa que não se deve ter relações profundas. Ao contrário, cada pessoa humana precisa delas. Sem tais relações em que se experimenta a intimidade, adoecemos. Intimidade não é só sexualidade genital. Precisamos de amizade com homens e mulheres e, às vezes, devemos também nos deixar ser pegos entre os braços. Renunciar por toda a vida à sexualidade genital é uma grande perda. Mas essa renúncia não faz com que adoeçamos.
O problema surge quando se divide a figura pública do padre e a sua vida privada.
Muitos padres vivem relacionamentos amorosos, até mesmo relações puramente sexuais, que escondem do lado de fora. Caso contrário, são suspensos. Muitas vezes, essas relações são vividas às escuras. Os bispos sabem dessas situações ou têm um pressentimento em relação a elas. Mas preferem olhar para o outro lado, caso contrário devem intervir e suspender o padre em questão. Mas os bispos não querem, porque, desse modo, perderiam muitos padres capazes e bons.
Quantos padres, então, se atêm ainda ao celibato?
De acordo com a minha avaliação, não muito mais do que a metade de todos os padres nos países ocidentais. É um pouco como com a encíclica Humanae vitae, de Paulo VI. O papa proibiu o uso de meios anticoncepcionais artificiais, mas ninguém se atêm a essa indicação. A obrigação do celibato também é cada vez menos vivida realmente e sobrevive desse modo com o tempo. Enquanto a Igreja não mudar a sua atitude a esse respeito, ela não será credível.
Você escreveu uma carta ao Papa Francisco. O que lhe escreveu?
Eu lhe escrevi duas vezes, a última vez em 2014. O meu pedido era para deixar os padres livres para escolher se querem viver o celibato ou se casar.
E a resposta?
A primeira carta ficou sem resposta, embora eu, pessoalmente, tenha me certificado de que ela realmente chegou em Santa Marta. No fim de novembro do ano passado, eu recebi uma resposta da Secretaria de Estado vaticana. Era-me dito que o papa foi acuradamente informado do meu pedido e das minhas reflexões e que agradecia pela preocupação com a missão da Igreja. Mas que não considerava oportuno "permitir uma opção em nível de Igreja universal entre um clero casado e um celibatário". Depois, a carta continuava afirmando que justamente a nossa época precisa desse testemunho de fidelidade a uma decisão tomada livremente por toda a vida e da dedicação à grande vocação de se dedicar indivisos ao Senhor e à Sua causa.
Portanto, uma clara rejeição?
Não, não exatamente. A carta também se refere a uma prática estabelecida por Paulo VI em 1967, segundo a qual, em casos excepcionais, é concedida a admissão ao presbiterado de um homem casado, mas se diz que isso não deve envolver nenhuma consequência para a disciplina atual em relação ao celibato. Até agora, fizeram-se essas exceções, por exemplo, para os padres casados de outras confissões, que passaram para a Igreja Católica. Do meu ponto de vista, não está excluído que essa referência pode ser entendida como uma indicação da admissão, no futuro, do presbiterado, por exemplo, dos diáconos casados ou até dos leigos provados.
Esse é o seu desejo ou é uma perspectiva realista?
Eu acho que entendi que Francisco sempre tenta descobrir quando pode dar um passo à frente. Ele poderia conceder mais excepções em relação ao celibato. Foi assim, por exemplo, com o problema dos divorciados recasados. Ele iniciou um processo. Enquanto isso, há boatos de que ele poderia, por exemplo, dedicar o próximo Sínodo ao presbiterado, portanto, também à questão do celibato.
O papa exclui uma mudança da disciplina do celibato para a Igreja universal. Na sua opinião, ele está disponível a mudanças em nível regional?
Acho que sim. A possibilidade de admitir mudanças em nível regional já existe. Mas a situação, desse modo, não pode seguir em frente. Francisco poderia pôr alguma coisa em movimento. No fim, ele precisará fazer alguma coisa.
Que papel cabe aos bispos nesse processo?
Se excluirmos uma decisão em nível de Igreja universal, mas são pensáveis soluções regionais, então cabe às Conferências Episcopais. Elas poderiam desenvolver orientações e assumir a responsabilidade. É possível imaginar soluções também em nível europeu.
Quantos bispos na Alemanha são da opinião de que a disciplina do celibato deve ser suavizada?
Na minha opinião, mais da metade de todos os bispos da Alemanha.
Então, por que ninguém se manifesta publicamente? As perspectivas de uma mudança não têm sido tão favoráveis há muito tempo.
Alguns bispos fizeram alguma coisa no passado ou fazem algo também agora, embora muito prudentemente. Eu acho que em muitos ainda se esconde o velho medo da época do Papa João Paulo II e de Bento XVI, na qual eram imediatamente repreendidos e certamente receberiam sanções. Na minha opinião, muitos bispos não são necessariamente pessoas muito corajosas. Desse modo, deixam-se muitos dos seus padres sozinhos, que, nesse ponto, tentam encontrar soluções por conta própria.
Até que ponto há uma correlação entre celibato e abuso?
A questão é se a própria sexualidade é abordada ou não. Não fazer isso é um fator de risco. Um padre também deve lidar com a própria sexualidade, deve aceitá-la, a fim de ser capaz de dispôr dela. Caso contrário, há o perigo de que, de repente, a sexualidade leve a vantagem, e a pessoa perca o controle de si mesma. Mas quem lida de maneira adulta e realista com a própria sexualidade, conhece a sua força e renuncia totalmente à própria sexualidade genital também é aquele que é mais capaz de evitar situações "perigosas" e sabe se controlar.
A aceitação de exceções em nível regional não poderia, a longo prazo, significar a abolição total da obrigação do celibato?
A obrigação do celibato, certamente, mas não do celibato em si mesmo. Sem a constrição, ele pode se tornar uma condição para uma vida bem sucedida. Quanto à obrigação do celibato, a ampliação das exceções irá produzir uma dinâmica própria. É uma dinâmica que já existe, como mostra a observação atual da prática. Mas não nos enganemos: o celibato é cada vez menos realmente vivido, e os fiéis também o apoiam cada vez menos. Em vez disso, ele toleram cada vez mais o fato de que um padre tenha uma relação. Mas mesmo os fiéis prefeririam que os seus padres pudessem se casar e viver a sua relação abertamente.
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"Mais exceções para o celibato, por favor!" Entrevista com Wunibald Müller - Instituto Humanitas Unisinos - IHU