11 Fevereiro 2016
Cuba continua sendo uma encruzilhada de acontecimentos históricos. O surpreendente degelo com os Estados Unidos faz pouco mais de um ano; o encontro que se acaba de anunciar, inédito e inesperado, do Papa Francisco com Cirilo, Patriarca de Moscou e de todas as Rússias, no aeroporto internacional José Martí de La Habana, antes de começar sua visita ao México: o anúncio iminente do fim das negociações entre o governo da Colômbia e as Farc, com a assinatura dos acordos de paz.
O comentário é de Alver Metalli, publicado por Tierras de América, 07-02-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Mas, também ha outras mudanças de transcendência histórica que se perfilam no horizonte e que talvez pudessem concretizar-se durante a Semana Santa do calendário litúrgico católico: a retirada do arcebispo de La Habana Jaime Ortega, que havia guiado a igreja cubana durante os últimos trinta anos e sem suspeita de retórica se pode considerar como um dos grandes e silenciosos artífices da transformação pacífica do socialismo cubano à qual estamos assistindo, e a sucessão de Raúl Castro, a cúpula da estrutura de poder o estado cubano, do partido e do exército.
O purpurado cubano apostou no diálogo com o governo, na cultura do encontro ante litteram, que perseguiu com determinação inclusive quando a orientação geral era outra, mais inclinada ao conflito e à afirmação de valores não negociáveis como a liberdade e os direitos humanos. Raúl Castro substitui seu irmão Fidel em fevereiro de 2008 e demonstrou que se propunha avançar muito além do que teria permitido imaginar a sucessão.
O cardeal Jaime Ortega y Alamino completará 81 anos em outubro de 2016. Faz cinco anos que pôs sua renúncia em mãos de Bento XVI, como fazem todos os membros da Igreja Católica Romana ao completar 75 anos. Mas, o sucessor de Bento, o Papa Francisco, até o momento não tem dado mostras de querer aceita-la. Muito pelo contrário, lhe assignou várias missões como enviado especial seu: em El Salvador em agosto de 2013 e em Quebec, Canadá, em setembro de 2015.
No Canadá se haviam celebrado, com absoluta reserva, os encontros entre representantes de Cuba e dos Estados Unidos para preparar o anúncio do restabelecimento de relações diplomáticas em dezembro de 2014. E também lhe confiou a famosa carta, nunca publicada, que o prelado cubano entregou aos 18 de agosto de 2014 aos presidentes Barak Obama e Raúl Castro, e se considera ser o ponto de inflexão das negociações secretas.
Poucos notaram o parágrafo conclusivo de um breve artigo que publicou recentemente o blog 14YMEDIO de Yoani Sánchez, sobre Dionisio Ibañez, arcebispo da segunda cidade da Ilha, Santiago de Cuba: “Os entendidos nas entrelinhas eclesiásticas o consideram um provável sucessor do cardeal Jaime Ortega y Alamino como Arcebispo de La Habana, o que pode ocorrer em torno da próxima Semana Santa”.
Nascido em Guantánamo faz 71 anos e ex engenheiro elétrico, participou em outro momento crucial da vida eclesial cubana conhecido como ENEC, Reflexão Eclesial Cubana, que se concluiu em 1985, e nesse momento foi ordenado sacerdote. Onze anos após, recebeu a ordenação episcopal e assumiu o cargo da Arquidiocese de Santiago de Cuba, da estratégica Conferência Episcopal Cubana e da custódia da popularíssima Virgen de la Caridad, que se venera no Santuário del Cobre, meta da peregrinação de Francisco à Ilha.
As grandes transformações que modificam os fundamentos de uma sociedade têm pais, mas a partir de um determinado momento, a mesma lógica dos processos que põem em movimento requer que as continuem seus filhos, legítimos ou putativos. Cuba não é uma exceção. Se Raúl, como homem de poder e militar pragmático, “abriu Cuba ao mundo”, não tocará a ele pilotar a ilha para um novo rumo.
Por outra parte, já antecipou que quer retirar-se em 2018, quando termina seu segundo mandato.
Nesse momento terá completado 87 anos, quatro a mais do que o cardeal Ortega. Um passo nessa direção poderia dar-se no próximo mês de abril, após a Semana Santa, no VII Congresso do Partido Comunista, se o general Castro deixar o cargo de Primeiro Secretário do Partido Comunista Cubano que em o direito de ocupar por mais cinco anos, segundo as regras aprovadas pelo Congresso em 2011. Não está dito que o faça, mas se assim for, se levanta a questão sobre quem poderia sucedê-lo.
Ninguém pode dizê-lo com certeza. Não será o Primeiro Vice-presidente de Cuba Miguel Díaz Canel, que não faz parte da elite político-militar da qual sairá o sucessor de Raúl, embora possa ocupar o lugar de Castro em caso de morte prematura e até que se eleja o novo presidente. Um candidato de peso é Álvaro López Miera, que aos 72 anos tem fama de ser o mais capaz e flexível dos generais “históricos” que lutaram contra o exército de Batista.
Acima de tudo, é um dos protegidos de Raúl Castro. Outros generais de peso histórico e poder na nomenclatura são os comandantes de Sierra Maestra, todos próximos dos 80 anos. Depois, estão os membros jovens do Comitê Central do Partido Comunista, com um curriculum mais próximo do reformismo de Raúl Castro. O nome que mais soa é o do coronel Alejandro Castro Espín, o benjamim da Junta Militar, mas ele primeiro deve ser promovido ao Comitê Central do Partido Comunista e posteriormente ao Bureau Político. Se isso ocorrer, poderemos dizer que se trata do possível herdeiro de Raúl Castro em 2018.
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Cuba, encruzilhada de mudanças históricas: degelo com os USA, paz na Colômbia e encontro entre o Papa e o Patriarca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU