21 Janeiro 2016
O quarto ato convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento das tarifas de ônibus, trem e metrô em São Paulo teve uma novidade na terça-feira 19, a adesão do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o MTST. Trata-se de uma ampliação do escopo das manifestações sobre o transporte público, que podem se tornar mais fortes caso os sem-teto, mais organizados e relevantes que o MPL, confirmem sua adesão à causa.
A reportagem foi publicada por CartaCapital, 20-01-2016.
Como no terceiro protesto, realizado na quinta-feira 14, os adeptos do MPL dividiram-se em dois grupos. A concentração dos manifestantes ocorreu na região oeste de São Paulo, no cruzamento das avenidas Faria Lima e Rebouças, área tida como "nobre".
De lá, a maior parte dos manifestantes seguiu até a sede da prefeitura, no Centro da cidade. Um grupo menor foi para o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Nos dois trechos, a Polícia Militar contabilizou 1,2 mil manifestantes, enquanto o MPL estimou em 7 mil pessoas a adesão do maior ato. Cinco pessoas foram detidas, em seguida liberadas, e houve pequenos confrontos pontuais entre manifestantes e PMs após o fim das manifestações.
A divisão e a busca por dois alvos – Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT) – era uma aparente tentativa do MPL de rebater as críticas de que o movimento concentra suas críticas no prefeito petista e poupa o governador tucano.
Ao mesmo tempo que o MPL protestava, o MTST se manifestava, também contra o aumento da tarifa, em áreas bem menos abastadas de São Paulo. Um dos atos dos sem-teto seguiu da estação Itaquera do metrô até a estação Patriarca, na zona leste, e o outro foi da estação Capão Redondo do metrô até a Ponte João Dias, na zona sul.
Os protestos em regiões afastadas do Centro são relevantes, pois, como CartaCapital mostrou em janeiro de 2015, o MPL vinha tentando se fortalecer nas periferias de São Paulo. A intenção do Passe Livre com a estratégia era, e ainda é, aumentar a pressão sobre o poder público e tentar reproduzir algo ocorrido em junho de 2013: para o MPL, foi a expansão das manifestações do centro para a periferia que fez Haddad revogar o aumento há três anos.
Para o MTST, os protestos por transporte público de qualidade e mais baratos são uma consequência da forma de atuação do movimento. Ao contrário de organizações que se concentram em uma única causa, o MTST não se limita à questão da moradia.
"Não é possível pensar a moradia como um problema isolado, porque essa lógica que cria os sem-teto e agrava o problema da moradia é a mesma lógica que leva as pessoas para mais longe e, com isso, agrava o problema da mobilidade, que joga as pessoas em regiões em que não há serviços públicos e equipamentos e infraestrutura urbana, de saúde e educação", disse a CartaCapital em dezembro Guilherme Boulos, coordenador do MTST.
Com base na ideia de que os problemas urbanos estão articulados, o MTST nos últimos meses fez manifestações contra empresas de telefonia, ajudou estudantes secundaristas a ocuparem escolas, protestou por melhores condições na saúde pública e foi às ruas contra o ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff (e contra o impeachment da petista).
Nunca os atos do MTST resultaram em violência, e na maioria das vezes conseguiram agregar pessoas alheias à causa originária dos sem-teto. O próximo grande ato do MPL está convocado para as 17 horas da quinta-feira 21, no Terminal D. Pedro 2º, no centro da cidade. Além disso, o grupo confirmou publicamente que pretende realizar atos relâmpagos que possam "parar a cidade" em pontos menores e, assim, chamar a atenção do poder público.
Se o MTST e a periferia entrarem com força na briga pela redução da tarifa, as autoridades paulistas e paulistanas estarão diante de um novo desafio, cujo desfecho é incerto.
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O MTST se junta ao MPL. E agora? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU