Solenidade da Assunção de Maria – Ano B – A missão de proclamar o amor, a alegria e a esperança

Foto: cathopic

16 Agosto 2024

"A Assunção de Maria é a culminância e plenificação de sua existência, que desde Nazaré como mãe e em alguns lugares: Cafarnaum, Jerusalém, como discípula de seu Filho, sua vida foi tecida de escolhas de amor.

Esta solenidade, portanto, nos recorda e nos estimula no hoje das nossas relações a partir de Deus, criador, libertador, a experenciarmos conscientemente nossa filiação. Somos assumidas e assumidos pelo Pai-nosso, como Jesus. Porque ele fez a experiência de ser ressuscitado. Contemplativamente sinta a jovem de Nazaré, ouvindo seu filho rezar chamando seu Deus de Pai-nosso e ensinar às amigas e amigos!"

A Reflexão é de Maria Monica Gomes Coutinho, smr, religiosa da Congregação Servas de Maria Reparadoras - SMR. Ela é bacharel em Teologia pelo Instituto Santo Inácio/BH (1998) (atual FAJE), e mestre em mariologia pela Pontifícia Faculdade Marianum, Roma, 2000. Atualmente dedica-se a cursos e atividades de formação pastoral no Rio de Janeiro/RJ e em Belo Horizonte/MG.

Referências bíblicas

1ª Leitura – Ap 11,19ª; 12,1.3-6ª.10ab
Salmo 44(45), 10b.11.12ab.16
2ª Leitura – 1Cor 15,20-27ª
Evangelho – Lc 1,39-56

Eis a reflexão.

Celebrar a Assunção é olhar para Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, e, encaminhar-se para dentro da comunidade das seguidoras e dos seguidores do Mestre, onde Maria de Nazaré também assumia, acolhendo-a, a nova proposta de Jesus.

Quem acolhe, assume e é assumido. Portanto, proponho saborearmos a primeira leitura (Ap 11,19ª ; 12, 1-6ª.10), como também convido a perceber a força de cada verbo.

No versículo 19 lemos: “abriu-se o Santuário de Deus que está nos céus”. Nesta cena, o Santuário abriu-se para que fosse vista a arca da Aliança. Para o judeu a Arca contém a memória da presença e da comunicação de Deus com as matriarcas e os patriarcas, ancestrais. Pois bem, na tradição mariana, a mãe de Jesus é evocada como a “arca da nova aliança”.

Nos outros versículos, sempre da primeira leitura, há um convite a circular no amor revelado e visto. Este amor é libertação, e esta é carne, é ser humano gerado. É Jesus, o Salvador, a definitiva Presença, não mais em pedras, nem pergaminhos, mas na existência humana que salva, e faz nova aliança. Por isso, esta mulher é cuidada, protegida, assumida no amor, por amor, com amor. Por isso, afirma-se: ela é a assunta.

Um aspecto iluminador dos demais versículos do livro do Apocalipse é a gestação. Está nos correspondentes versículos do capítulo 12, onde temos: v.1-  aparece no céu uma mulher vestida de sol... ; v.2- estava grávida em dores de parto...; v.5- ela deu à luz um filho homem.... v. 6- a mulher fugiu para o deserto onde Deus lhe tinha preparado um lugar. Significativo é esse espaço imaginário/simbólico, “o deserto onde Deus lhe tinha preparado um lugar”, mas também tem o aspecto relacional da existência dessa mulher que cuida da vida do filho, sendo o próprio Deus gerador da vida quem escolhe-prepara um lugar para ela. Para ilustrar poeticamente essa ação de cuidar de alguém, lembro-me do compositor e cantor Caetano veloso que em 1998 escreveu a canção “Sozinho”. Em uma estrofe ele diz: “quando a gente ama, claro que a gente cuida”.

No evangelho (Lc 1, 39-56) é possível observarmos Maria de Nazaré a partir do simbolismo da arca. Pois, grávida ela se encaminha, sobe às montanhas da Judeia, vai ao encontro de Isabel, também grávida, mantendo a fidelidade do resto de Israel que aguardava na esperança o Messias. Esse resto, biblicamente ditos “anawin”, envergam-se, dobram-se, na prática da Lei - colocada na arca da Aliança. E justamente Maria é apresentada à comunidade lucana e a nós hoje, como mulher que escolhe levar a alegria, a felicidade.

E nós cristãs e cristãos podemos ser anawin e carregarmos no coração e na prática a esperança messiânica experimentada no seguimento a Jesus de Nazaré o Cristo, à luz da expressão lucana? As palavras alegria e felicidade aparecem cinco vezes – no evangelho da celebração de hoje.

O mesmo evangelista, na sequência, narra no cântico de Maria: “todas as gerações me proclamarão feliz”, nos revela a certeza de que na ressurreição do Filho, Maria fez parte. Sejamos convictos dessa participação observando o apostolo Paulo na carta aos Coríntios na segunda leitura (1ªCor 15,20-26). Saliento o v.20: “O filho é ressuscitado dos mortos como primícias”. E o v. 26 “a morte será vencida”. Entendemos com esses versículos a bem-aventurança de Maria, com Cristo, por Cristo e em Cristo. Ela, Maria, é no todo do ser, assumida - assunta por Deus.

A Assunção de Maria é a culminância e plenificação de sua existência, que desde Nazaré como mãe e em alguns lugares: Cafarnaum, Jerusalém, como discípula de seu Filho, sua vida foi tecida de escolhas de amor.

Esta solenidade, portanto, nos recorda e nos estimula no hoje das nossas relações a partir de Deus, criador, libertador, a experenciarmos conscientemente nossa filiação. Somos assumidas e assumidos pelo Pai-nosso, como Jesus. Porque ele fez a experiência de ser ressuscitado. Contemplativamente sinta a jovem de Nazaré, ouvindo seu filho rezar chamando seu Deus de Pai-nosso e ensinar às amigas e amigos!

A Assunção nos recorda: somos criadas, criados para uma vida plena no amor e nos estimula para que esse desejo de Deus seja por nós correspondido no empenho por um viver tão amoroso que nos torna leves, saudáveis, comprometidas/os. A partir do amor e no amor podemos experimentar que não existe fracasso, rancor e angústia que não possa se transformar em vida. Também para nós, a nossa vida assunta por Deus não é um prêmio a receber no futuro pela boa conduta, mas a acolhida de um dom de amor de Deus Pai/Mãe que não quer que nenhum de seus filhos pereça (Jo 6,39).

Reconheçamos com essa reflexão que não é privilégio da jovem de Nazaré, o ser assumida por Deus, mas que todo o ser humano pode percorrer o caminho de experimentar ser amado incondicionalmente por Deus Criador de toda vida, no Filho amado, e nesse percurso, intensificar o discipulado como a celebração de hoje nos mostra a pessoa de Maria de Maria de Nazaré.

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