19 Junho 2007
Para o filósofo italiano Gianni Vattimo, “não se pode compreender a filosofia contemporânea sem passar através de Rorty”. Questionado sobre seu diálogo intelectual com o filósofo norte-americano recém-falecido, Vattimo afirmou que, no plano religioso, suas “idéias são semelhantes, porque ambos cremos no fim da metafísica, no fim daquela religião como fundamento último além do qual não se pode andar, quando, ao invés, ela é apenas uma das tantas formas para interpretar a nossa existência”. Além de um amigo, Rorty era companheiro de pensamento de Vattimo, haja visto que Rorty chegou mesmo a se definir como “pensador fraco”. As declarações podem ser lidas na íntegra na revista IHU On-Line 225, que circulará semana que vem, em 25-06-2007. A entrevista foi concedida por Vattimo com exclusividade à IHU On-Line, por e-mail.
Vattimo afirma que os dois maiores legados filosóficos de Rorty são o fim da metafísica e “as conseqüências que comporta este fim: o desmantelamento dos conceitos de verdade, de razão e de representação”. Como era o ser humano Rorty? Vattimo recorda: “Rorty era uma pessoa muito cordial e sincera. Um amigo. Cada vez que nos víamos, falávamos de nossas vidas. Não tínhamos sequer necessidade de falar de filosofia. Foi gentilíssimo também com todos os meus alunos que estudaram com ele. Conhecemo-nos no longínquo 1979, numa conferência em Milwaukee. Após ter escutado minha conferência, presenteou-me uma cópia de Philosophy and the Mirror of Nature [Filosofia e o espelho da natureza] e nos demos conta que estávamos nas mesmas posições. Alguns anos mais tarde, numa conferência em Londres, ele se autodefiniu como “pensador fraco”. Além de ser um amigo, era também um companheiro de pensamento”.
Essa é a quinta entrevista exclusiva que Vattimo concede à IHU On-Line. A primeira foi publicada na 88ª edição, de 15-12-2003 sob o título O cristianismo é a religião do pós-moderno, a segunda na 128ª edição, de 20-12-2004 sob o título “Deus é projeto, e nós o encontramos quando temos a força para projetar...”, e a terceira saiu na edição 161, de 24-10-2005, quando recebeu pessoalmente a IHU On-Line, em Porto Alegre, no dia 18 de outubro daquele ano, às vésperas de proferir sua conferência no evento Metamorfoses da cultura contemporânea. Nessa oportunidade, ele falou sobre “O pós-moderno é uma reivindicação de multiplicidade de visão de mundo”. Sua contribuição mais recente foi à edição 187 da IHU On-Line, de 03-07-2006, com a entrevista O nazismo e o “erro” filosófico de Heidegger. Dele também publicamos uma entrevista na 121ª edição, de 1º-11-2004, sob o título Garzantina di filosofia, um artigo na edição 53, de 31-03-2003 sob o título A guerra pelos direitos humanos? e outro no número 80, de 20-10-2003, sob o título Democracia, killer da metafísica. A editoria Livro da Semana, na edição 149, de 1º-08-2005, abordou a obra The future of religion, escrita por Vattimo, Richard Rorty e Santiago Zabala.
Estudioso do pensamento de Nietzsche, Heidegger e Gadamer, Vattimo é conhecido como o mentor do "pensamento fraco". De sua produção intelectual, destacamos, Credere di Credere (Milano: Garzanti, 1996), Dopo la cristianità. Per um cristianesimo non religioso (Milano:Garzanti, 2002) e O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna (São Paulo: Martins Fontes, 1996).
Sobre Rorty, confira a editoria Memória, publicada na edição 223 da IHU On-Line, de 11-06-2007, e a entrevista exclusiva com o Prof. Dr. Paulo Ghiraldelli Jr., publicada na edição 224, de 18-06-2007, “O amor pela democracia é o legado de Rorty”.
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Vattimo e Rorty, filósofos do pensamento "fraco". Entrevista exclusiva de Vattimo à IHU On-Line - Instituto Humanitas Unisinos - IHU