"Eu olho e-mail em casa, andando na rua, no restaurante. Parece que o trabalho não me deixa." A declaração da publicitária
Júlia Eboli, coordenadora de marketing da Tecla Internet, mostra a realidade de um contingente cada vez maior de profissionais.
A reportagem é de
Érica Fraga e publicada pelo jornal
Folha de S. Paulo, 28-11-2011.
A combinação entre crescimento mais intenso da economia e avanço nas tecnologias de comunicação tem resultado em aumento das horas trabalhadas no Brasil.
Sete em cada dez profissionais - que ocupam cargos como analista, gerente e supervisor - afirmam que passam mais tempo no escritório hoje do que há cinco anos.
Mais da metade diz que o teto da carga horária no escritório saltou de oito para dez horas diárias, e quase 80% são acionados nos momentos de lazer e descanso via mensagens no celular.
Nem as férias escapam: mais de 50% dos funcionários de empresas que atuam no país respondem a e-mails de trabalho nesse período.
Esses são resultados de pesquisa feita pela Asap, consultoria de recrutamento de executivos, a pedido da Folha. Foram ouvidas 1.090 pessoas com renda mensal entre R$ 5.000 e R$ 15 mil.
A expansão da economia e as promoções no trabalho são as razões para o aumento da carga horária de trabalho, indica a maior parte dos entrevistados.
"Nossa empresa é vítima positiva da expansão do crédito. Estamos trabalhando mais", diz
Daniel Polistchuck, diretor de tecnologia da Crivo, que desenvolve programas para análise de crédito.
Para
Carlos Eduardo Ribeiro Dias, sócio e presidente-executivo da Asap, há um descompasso entre o ritmo do mercado de trabalho e o de formação acadêmica e profissional. "As pessoas estão sendo promovidas mais cedo, mas nem sempre estão preparadas. O resultado: trabalham mais."
TECNOLOGIA
O avanço da tecnologia tem aproximado mais o profissional do trabalho. "Hoje, há aplicativos de comunicação instantânea que te acompanham o dia todo no celular. Tento me policiar, mas passei a trabalhar mais", diz o espanhol
Jose Luis Gallardo, gerente de canais da Kingston no Brasil.
Rodrigo Vianna, diretor da HAYS, empresa de recrutamento de executivos, diz que, sem as novas tecnologias, "as pessoas viveriam praticamente dentro das empresas".
"Com a globalização, não há mais fuso horário. É preciso ficar ligado o tempo todo. A tecnologia, nesse sentido, veio para ajudar."
Mas o excesso de trabalho tem consequências. Para
Elaine Saad, gerente-geral da Right Management, o brasileiro tem forte apego à tecnologia e exacerba o uso de mensagens pelo celular.
"Isso faz que as pessoas trabalhem no horário do descanso. E, se você não responde a um e-mail e seu colega responde, você fica com medo de perder o emprego."
Cansaço e estresse são consequências
Mais cansaço e estresse. Sete em cada dez profissionais ouvidos pela consultoria Asap dizem que esses são os efeitos colaterais do excesso de trabalho. "Temos hoje uma geração de cansados", diz
Nelson Carvalhaes Neto, médico do Fleury Medicina e Saúde.
Segundo ele, a jornada estendida por meio de tecnologias mais avançadas de comunicação é uma das reclamações dos executivos que atende: "Os facilitadores de comunicação foram uma cilada. Hoje, ninguém consegue ficar off-line".
Reportagem nesta Folha revelou que o número de pessoas afastadas pelo INSS com depressão e estresse disparou no primeiro semestre deste ano.
"O aumento nos casos de transtornos mentais e comportamentais tem relação direta com o aumento das horas trabalhadas", diz
Remígio Todeschini, diretor de saúde e segurança ocupacional do Ministério da Previdência.
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E-mail e celular estendem jornada de trabalho para casa e até as férias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU