Morador da
Rocinha há mais de 30 anos, P.J. conversou com a
BBC Brasil pelo telefone para falar sobre a ocupação da comunidade por forças policiais, que devem instalar no local uma
Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
P.J, que pediu anonimato, concordou em fazer um diário para a BBC Brasil, contando o que se passa no local antes, durante e depois da ocupação.
A informação é da
BBC Brasil, 13-11-2011.
Leia abaixo seu depoimento:
"A ocupação foi tranquila. Estávamos apreensivos, sem saber o que ia ocorrer. Ontem as pessoas estavam fazendo filas nos mercados, comprando mantimentos para ficar em casa hoje, num clima quase de guerra.
Mas foi tranquilo, não teve tiro, não teve barulho de tiro. Eles entraram na hora programada. Às 4h os blindados subiram.
Helicópteros sobrevoaram a comunidade jogando panfletos, pedindo para a população ajudar a polícia, para dizer onde tem deposito de armas, ajudar a polícia no que for preciso.
Não houve resistência, mas em alguns lugares da favela teve óleo derramado na pista por remanescentes do tráfico, algum fogueteiro, para tentar dificultar a subida dos blindados da polícia.
A TV clandestina acabou, ficou muita gente sem TV, então as pessoas estão se informando mesmo é pela internet, por e-mail, pelo Facebook. Eu vi várias fotos de ruas da Rocinha, postadas por amigos para mostrar como estava a situação, se o local está com luz ou não, se tem abuso da polícia ou não, ajudando a divulgar o telefone da corregedoria caso houvesse algum abuso. A comunidade está unida. Acho que a grande maioria está a favor (da ocupação).
Eu acredito que ainda exista gente do tráfico dentro na favela. Agora ou eles vão sair ou a polícia vai achar essas pessoas aos poucos.
É aquele lance que eu falo: só acredito na pacificação mesmo quando não tiver mais essa gente aqui dentro. Enquanto elas estiverem aqui dentro, vamos ficar ansiosos, porque ninguém sai do tráfico de uma hora para outra. Então a gente fica meio com receio.
Ainda tem algumas dessas pessoas que ainda continuam, mas a gente vai ver com o tempo se elas vão sair ou não. Por isso que a polícia está pedindo ajuda da população, para que essas pessoas sejam denunciadas e possam ser presas.
Vai ser uma pacificação entre aspas. Sabemos que o tráfico de drogas nunca vai acabar. Enquanto houver usuários, não vai acabar. Vamos esperar para ver. O que a gente não quer mais ver é bandido armado, impondo alguma coisa.
Mas com a polícia dentro da favela, o poder público vai poder ajudar, vai haver mais ajuda do governo, escolas, os professores vão querer dar aula lá, não vão mais ficar com medo do tráfico, de tiroteio.
Tomara que isso aconteça e que não seja jogada de político, porque no ano que vem tem eleição. A gente que não é bobo aqui dentro sabe o que está acontecendo."
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Só acredito na pacificação quando não tiver mais gente do tráfico aqui dentro", diz morador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU