25 Outubro 2011
O The New York Times o qualificou como o homem renascentista da evolução. Biólogo, cientista, divulgador, mecenas... Francisco José Ayala é um desses espanhóis conhecidos, e reconhecidos, em todo o mundo, e certamente desconhecido em seu país natal. O recente Prêmio Templeton foi, no sábado passado, até o convento dos dominicanos da estrada de Burgos, em Madri, para participar de um encontro organizado pelo Centro de Comunicação e Pregação, onde compartilhou as respectivas conferências sobre "Criacionismo, Evolução e Religião" e "A Ecologia Humana: da Biologia à Ética". Ayala, que se autodefine como agnóstico, defendeu o papel da ciência para colaborar com a experiência religiosa e se mostrou sumamente crítico com correntes como a do Projeto Inteligente, "uma blasfêmia" que "nos apresenta um Deus cruel, sádico e abortista".
A reportagem é de Jesús Bastante e está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 22-10-2011. A tradução é do Cepat.
O cientista fez um rápido apanhado das grandes descobertas da humanidade, centrando-se nas figuras de Copérnico – que nos descobriu o Universo – e Darwin, que com sua teoria da evolução biológica – a seleção natural – tornou possível completar a revolução copernicana no projeto dos organismos. "Com Darwin, todos os fenômenos naturais, inanimados ou vivos, se converteram em tema de pesquisa científica".
O que não é necessariamente incompatível com a experiência religiosa. Pelo contrário, pois, como afirma o cientista, "um mundo em evolução é mais belo e proclama melhor a grandeza de Deus". E uma teoria que explique a evolução da espécie humana não contradiz o relato da Criação, mas que o situa "e o reescreve apontando para a importância de que todos os homens fazem parte da mesma família humana".
Ayala se mostrou especialmente beligerante contra a chamada Teoria do Projeto Inteligente que, na sua opinião, "não é em absoluto ciência. Não está apoiada em experimentos, observações ou resultados publicados em revistas científicas acadêmicas". Além disso, recalcou, "é má religião, má teologia, porque implica que o projetista possua atributos indesejáveis que não queremos predicar de Deus".
O Deus do Projeto Inteligente, corrente ligada nos Estados Unidos a grupos extremistas cristãos, "que leem a Bíblia como se fosse um livro de Biologia", teve que criar o mundo exatamente no dia 23 de outubro de 6015 anos atrás, o que contradiz a realidade. Mas, além disso, a tese de que cada indivíduo, espécie ou organismo é assim porque assim o quis o Criador "é inaceitável para aqueles que creem em um Deus Onipotente e benevolente".
"O Projeto Inteligente é uma blasfêmia, porque, se fosse correto, teria que supor que Deus é incompetente, cruel, sádico e abortista (20% dos abortos produzidos no mundo são espontâneos)", recalcou Francisco José Ayala, que insistiu em que "os fenômenos naturais não têm moralidade. Se fossem projetados, haveria um responsável moral pelo mal".
Por isso, Ayala defende que a teoria de Darwin "é um presente para as religiões", pois "resolve também o problema da teodiceia, do mal no mundo". "Deus não é o responsável pelo mal no mundo, e sabemos disso graças a, entre outros, Darwin".
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"Um mundo em evolução proclama melhor a grandeza de Deus" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU