A rápida propagação dos distúrbios por
Londres e outras cidades britânicas tem sido alimentada por uma mistura de juventude, alienação e modernas comunicações móveis, que pegou as autoridades de surpresa.
A reportagem é de
Bob Sherwood, publicada pelo
Financial Times e reproduzida pelo jornal
Valor, 10-08-2011.
A polícia de Londres disse que, em vez de um protesto concentrado numa única área, como é típico da cidade, ela se deparou com violência e saques perpetrados por grupos "pequenos e em movimento" em áreas das zonas norte, oeste e sul da capital britânica.
A mobilidade dos desordeiros, que podem coordenar pontos de encontro, alertar uns aos outros sobre a presença da polícia usando mensagens trocadas por celular e, então, desaparecer pelas áreas próximas, é um desafio particularmente aflitivo para os policiais.
Os distúrbios começaram com um protesto pela morte de um homem pela polícia em
Tottenham, um bairro do norte de Londres, no sábado. Jovens reuniram-se em pontos escolhidos de antemão, como parques e estações de metrô, partindo depois para outras áreas.
Embora muitos dos manifestantes tenham vindo de algumas das áreas mais pobres da Inglaterra, com altas taxas de desemprego e de criminalidade, especialistas e líderes comunitários insistem que os tumultos não estão relacionados a nenhuma tema racial, protesto político ou problema social.
"Essa é uma população jovem alienada e sem direitos que cresceu num cenário de tensão com a polícia", disse
Chris Greer, professor de sociologia e criminologia da City University de Londres. Ele disse que essa rebelião não foi motivada por casos específicos de violência policial ou racismo, ao contrário dos distúrbios ocorridos em comunidades afro-caribenhas como
Brixton, no sul de Londres, na décadas de 80 e 90.
Symeno Brown, jovem líder do grupo
Haringey Young People Empowered, concorda: "É um quadro muito complexo. Fundamentalmente é uma recusa em aceitar o sistema. Quando eles se depararam com a polícia em retirada, isso os estimulou e, então, os oportunistas assumiram o controle".
Inevitavelmente, criminosos e membros de gangues aproveitaram os protestos como cobertura para saques, e há informações de que jovens foram instruídos a fazer saques sob encomenda.
O professor
John Pitts, especialista em gangues de jovens violentas do
Vauxhall Centre for the Study of Crime, disse que a rivalidade entre gangues pode ter ajudado a espalhar os tumultos, com uma área tentando provar que é mais valente que outra, mas ele observou que a cultura das gangues não esteve por trás dos protestos.
Há, no entanto, uma forte sensação de organização e coordenação. A polícia destacou o uso do serviço de texto
BlackBerry Messenger (BBM) e das redes sociais na organização dos saques.
"É claro que há organização", disse
Greer. "Mas essa conversa de
Twitter e
Facebook é uma tentativa de desviar o assunto, uma vez que as pessoas que estão organizando isso estão usando redes fechadas. Elas são uma ferramenta útil para pessoas que estão em movimento e sabem onde estar e, o mais importante, onde não estar."
Embora alguns estejam usando carros ou bicicletas, os rebeldes estão mirando áreas próximas de centros de transporte público, onde podem se reunir em grupos, com alguns aparentemente vindo de longe para se juntar ao caos.
O conselho de
Enfield, no norte de Londres, disse que a vizinhança foi cenário de violência por se tratar de um centro da rede ferroviária. Cerca de 60% das pessoas presas ali vieram de fora. Em
Ealing, oeste de Londres, um morador disse ter encontrado manifestantes com sotaque de Midlands (na região central da Inglaterra, onde fica a cidade de Birmingham).
Satwant Sandhu, cuja rua e jardim foram alvo de vandalismo, disse: "Temos linhas de metrô, conexões com a rede ferroviária nacional, somos ricos em conexões de transporte com o resto do país. Alguns dos moradores ganham salários de mais de 2 milhões de libras, são pessoas ricas e é isso que esses jovens estão mirando".
Alguns usuários passaram a usar as mensagens
BBM como alerta para evitar pontos problemáticos. Uma delas, detalhando o planejamento de tumultos em
Midlands, dizia: "Fiquem fora dessas área [sic] e permaneçam em segurança!! Avisem as pessoas".
O efeito dominó dos distúrbios foi tão rápido, segundo o professor
Pitts, simplesmente porque a cobertura incessante da TV e da internet, combinada com as comunicações instantâneas, acabou engajando mais jovens.
"Você não precisa estar no
Twitter para saber o que está acontecendo em determinado lugar, porque a
Sky News vai dizer isso a você", disse. "E hoje há sempre grupos e redes de jovens em comunicação constante uns com os outros. Acho que tudo se espalhou bem mais rápido do que teria acontecido no passado."
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Londres vê ação de rebeldes sem causa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU