28 Julho 2011
O Departamento do Tesouro dos EUA já tem um plano de contingência para o caso de o Congresso não votar a liberação de novos empréstimos do governo até terça. Sem listar que contas deixará de pagar, não conseguiu aplacar o temor do mercado.
A reportagem é de Luciana Coelho e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, 29-07-2011.
A pergunta, que o Tesouro diz que responderá antes da data-limite, no dia 2, monopoliza o foco de investidores, analistas, eleitores e lobbies. Dois grupos influentes do país, os banqueiros e o sindicato dos aposentados, enviaram cartas à Casa Branca e ao Congresso pressionando os políticos a agir no prazo.
O Tesouro, porém, hesita em detalhar o plano enquanto o Congresso ainda discute se aumenta o teto da dívida, alimentando a ansiedade. Com isso -e com o adiamento da votação de mais uma proposta para ampliar a dívida pela Câmara, devido à falta de consenso- os juros que o governo paga sobre os títulos de curto prazo do Tesouro subiram a 0,10%. Os papeis vencem em agosto.
A variação pode ser discreta, mas títulos com vencimento próximo têm virtualmente taxa zero de retorno, e a rapidez da mudança indica que os investidores se preparam para um calote. "O que posso dizer agora é que, embora só o Congresso possa garantir que o governo pague todas as suas contas, o Tesouro detalhará, conforme se aproxima o dia 2, como fará sem poder tomar empréstimo", disse à Folha uma porta-voz do Tesouro.
Segundo a mesma porta-voz, as medidas podem ser anunciadas "a qualquer momento até terça", quando a verba dos empréstimos acaba. Na prática, o plano deve apontar manobras de caixa e mostrar onde será o calote -se doméstico ou externo.
Embate
A Casa Branca não divulgou dados completos, mas a estimativa mais corrente, do Centro de Políticas Bipartidárias, aponta que o governo tem contas de US$ 307 bilhões e expectativa de receita de US$ 172 bilhões no mês. A diferença implicaria em calote. Resta saber onde o governo decidirá cortar.
As possibilidades vão dos juros sobre títulos da dívida americana - o que afetaria a economia global, já que eles são referência do mercado- a cheques dos aposentados. Ontem, o Fórum de Serviços Financeiros, que reúne os 20 principais bancos e seguradoras do país, enviou uma carta à Casa Branca e ao Congresso, coassinada por 470 empresas, em que exorta o Executivo e o Legislativo a superarem a polarização partidária e agirem por uma solução de longo prazo.
"Uma grande nação, como uma grande empresa, precisa de credibilidade de que paga suas contas em dia", diz. "Esta questão afeta a população, não só o mercado, pois os juros sobre os títulos do Tesouro influenciam hipotecas, cartões de crédito, empréstimos estudantis."
Na véspera, a associação de aposentados, AARP, também enviara carta cobrando ações para preservar a seguridade social. Para aumentar a dívida, o Congresso precisa aprovar cortes no Orçamento que tornem o deficit sustentável. É sobre esses cortes que falta consenso entre os partidos - e até mesmo dentro deles.
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Mercado e governo se preparam para calote americano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU