26 Junho 2011
"O problema da Europa se chama Itália, não por culpa dos italianos, mas pela colonização levada adiante pelo Vaticano e pela covardia dos políticos". O professor Gianni Vattimo, filósofo e eurodeputado pela Itália dos Valores, tem dúvidas com relação ao fato de que possa haver uma reviravolta na Itália no reconhecimento dos casais gays.
A reportagem é de Diego Longhin, publicada no jornal La Repubblica, 26-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Continuaremos tendo polêmicas em torno de uma propaganda da Ikea e sobre o slogan "estamos abertos a todos os tipos de família"?
O problema é o entrelaçamento entre o atraso político e uma Igreja que considera os seus princípios como princípios de direito natural. Não só sobre as uniões homossexuais, mas também sobre a bioética, sobre o fim da vida, sobre o divórcio. Princípios inegociáveis, mesmo que a Igreja se declare democrática. O político, para não perder um voto do bispo ou do pároco, prefere evitar de enfrentar a questão, mesmo que a posição no país seja diferente.
A maioria é a favor dos casamentos gays?
Basta olhar para as pesquisas. Não queremos usar a palavra "matrimônio", porque incomoda. Tudo bem. Seria importante um reconhecimento legal. Mesmo os católicos estão de acordo. Eu também me considero um cristão, não tão praticante, porque a Igreja pensa que eu sou um bandido...
A maioria política não corresponde à maioria real?
Não, mas é algo que acontece cada vez mais frequentemente. Vencem-se os referendos, mas depois se perde no parlamento.
Entre os políticos italianos, o senhor vê um Cuomo ou um Obama possa romper a covardia?
É difícil, não vejo ninguém.
O ex-prefeito cidadão de Turim, Chiamparino, havia participado do casamento de duas lésbicas para chamar a atenção para a questão. Um estímulo por parte dos prefeitos teria um efeito?
Chiamparino fez bem e demonstrou ser aberto. Mas quantos prefeitos estão dispostos a seguir o seu exemplo? Poucos.
O oncologista Veronesi exaltou o amor gay como uma escolha consciente, mais evoluída do que a relação heterossexual. O senhor concorda?
Algumas argumentações têm um sentido próprio. Veronesi disse que, no amor gay, busca-se a proximidade de pensamento e a sensibilidade com o outro, enquanto o amor heterossexual é instrumental para a procriação. Em uma frase, desafio a que se encontre um homem normal que queira se assemelhar à sua esposa. Depois, é possível ter filhos com técnicas diferentes, sem recorrer a instrumentos biológicos. Atenção, porém, para não exagerar. E digo isso como gay. Não há uma superioridade no amor gay com relação ao amor heterossexual.
O senhor se casaria?
Sou a favor de uma legalização. Não é um problema de matrimônio no sentido clássico. Pasolini hoje seria a favor do casamento? Duvido, porque entre os gays prevalece a defesa da própria diversidade. Outra coisa é um reconhecimento legal da união, que valeria para os casais homossexuais assim como os heterossexuais.
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"Os políticos têm medo do Vaticano". Entrevista com Gianni Vattimo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU