01 Junho 2011
Eles são vizinhos que se suportam, mas um não "engole o outro". Um mar de diferenças os separa faz mais de um século, por mais que a diplomacia diga que devem aprofundar o diálogo e a tolerância. Trata-se da Bolívia e do Chile, dois países que, por diversas razões, acabam sempre mostrando os dentes. Nesta história, o tempo não apagou as feridas da guerra.
A reportagem é de Christian Palma e publicado pelo Página/12, 01-06-2011. A tradução é do Cepat.
A última dessas ameaças veio do lado chileno. O ministro da Defesa Andres Allamand – líder político de direita contemporâneo a Sebastián Piñera –, respondeu com palavras fortes a decisão do governo boliviano de ir até a Organização dos Estados Americanos (OEA) para exigir uma solução de sua reivindicação de uma saída soberana para o mar. "O Chile tem Forças Armadas de prestígio, profissionais que estão preparados para fazer respeitar os tratados internacionais e de resguardar adequadamente a integridade territorial", disse Allamand.
O seu discurso tinha como objetivo trazer tranqüilidade ao público chileno após as medidas anunciadas pelo governo de Evo Morales. Mais cedo, o presidente chileno abordou a questão, garantindo que ambas as nações não têm problemas fronteiriços pendentes e, portanto, não via necessidade de revisão dos tratados em vigor desde início do século passado.
"Os cidadãos e os chilenos, em especial, devem encarar essas iniciativas da Bolívia com tranquilidade. O Chile é muito sólido. Em primeiro lugar, é um país que nesta matéria age de de forma conjunta, é um país que tem a seu favor o total amparo do direito internaciona" disse Allamand na segunda-feira. O argumento do ministro chileno diz que os motivos de Evo Morales para se referir ao Chile "é uma velha estratégia que ressurge de tempos em tempos, quando os governantes bolivianos se encontram em dificuldades políticas na esfera doméstica".
O público em geral, através de redes sociais, reagiu dizendo que as afirmações do ministro da Defesa adota a mesma estratégia: melhorar a imagem de Piñera e do governo, uma vez que nas pesquisas, o seu governo exibe percentagens inferiores a 50% de aprovação. Alguns analistas, no Chile apoiaram esta hipótese e outros alertaram sobre risco de conflito nesse cenário.
"Se a Bolívia insiste em judicializar as suas aspirações marítimas, o Chile oportunamente mostrará nas instâncias apropriadas qual é a sua posição relacionado ao direito internacional. Jamais o direito internacional, apoiará um país que venha a violar unilateralmente ou ignorar um tratado", concluiu o ministro.
Nesse tema, o ex-ministro da Defesa de Michelle Bachelet, Francisco Vidal apoiou o seu sucessor. "Foi uma boa resposta de Allamand. Se eu estivesse no cargo, eu teria dito a mesma coisa. Evo Morales está errado, tomou um caminho errado. Aliás, o apelo à OEA é algo antigo, a Bolívia sempre tentou multilateralizar o problema com o Chile, e nós respondemos que o problema é bilateral ", disse à rádio ADN. Vidal acrescentou que "qualquer situação com qualquer um dos vizinhos do norte jamais chegará a uma verdadeira crise ou conflito, exatamente em função do argumento de Allamand, a capacidade de dissuasão de nossas forças armadas é o que garante a paz para o Chile".
Na Bolívia, Evo Morales se recusou a discutir o assunto durante um discurso no aniversário da Força Aérea Boliviana (FAB). Tampouco, o Ministério das Relações Exteriores fez uma declaração. Apenas um funcionário falou sobre o assunto. "O que fala Allamand não é o mesmo que diz o presidente do Chile, Sebastián Piñera, que disse que o melhor caminho é o diálogo", disse o diretor de Estratégia Marítima, Rubén Saavedra à Agência do Governo (ABI).
Por sua parte, o presidente da Comissão de Governo, da Defesa, Polícia e Forças Armadas da Câmara Boliviana de Deputados, Charles Condon, disse que seu país não irá responder às provocações do ministro da Defesa do Chile e dará prioridade ao diálogo para resolver o litígio da fronteira com aquele país. No entanto, o senador da oposição e ex-chefe do Exército, Marcelo Antezana, disse que o governo chileno pretende apenas cumprir a sua doutrina em temas marítimos e que o único caminho é fortalecer as forças armadas bolivianas para forçar o Chile a encontrar uma solução para a demanda boliviana de acesso ao mar de forma soberana.
A Bolívia perdeu seu litoral em uma guerra com o Chile em 1879, na qual teve como aliado o Peru, que também perdeu territórios. Os tratados assinados posteriormente o converteram, juntamente com o Paraguai, num país sem acesso ao mar. Atualmente, os dois países levam à frente uma agenda de 13 pontos, na qual o tema marítimo sempre solta faíscas.
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Chile e Bolívia mostram os dentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU