A Cáritas e o confronto entre Bertone e Maradiaga

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24 Mai 2011

A Caritas Internationalis contra a Secretaria de Estado do Vaticano. O influente cardeal hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga, presidente do órgão, contra o braço direito do papa, Tarcisio Bertone. É o epílogo da assembleia geral da Cáritas, cujos trabalhos estão se desenvolvendo nestes dias no Vaticano. Ambos são salesianos.

A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 24-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No coração da disputa, em curso há meses e que principalmente em fevereiro passado conheceu tons ásperos, está a figura da secretária-geral da confederação, Lesley-Anne Knight (foto), nascida no Zimbábue, cuja reconfirmação foi explícitamente rejeitada pela Secretaria de Estado do Vaticano, apesar de ela gozar do forte apoio do presidente do órgão, justamente Maradiaga.

No seu discurso de abertura, o alto prelado hondurenho, personalidade de destaque da Igreja latino-americana e figura conhecida nos ambientes diplomáticos internacionais, elogiou a secretária prestes a sair. "Todos nós queríamos continuar a nossa viagem com a atual secretária", afirmou Maradiaga. "O modo pelo qual não lhe foi permitido ser candidata causou o protesto na nossa confederação, sobretudo entre as muitas mulheres empenhadas na Cáritas".

O caso, embora submerso, remonta ao último mês de janeiro. Com um e-mail, a Secretaria de Estado do Vaticano havia indicado que, em vista da assembleia de maio, enquanto Maradiaga receberia o chamado nihil obstat necessário para a reconfirmação, o mesmo nada obsta não seria concedido, ao contrário, para Knight. O cardeal hondurenho, naquele momento, se mobilizou para tentar fazer com que a decisão fosse revista. Mas, no dia 15 de fevereiro, com uma carta escrita por ele mesmo às conferências dos bispos, Bertone encerrava a questão.

No seu texto, o secretário de Estado do Vaticano motivava sua própria intenção não criticando o empenho de Knight, mas sim indicando o desejo de dar nova ênfase à "dimensão teológica" da Cáritas, para "melhorar a comunicação" entre o órgão e a Santa Sé, e chamando a Cáritas a agir "em estreita colaboração" com as autoridades do Vaticano.

Nos corredores, o movimento humanitário era criticado se comportar mais como uma organização não governamental secular do que como um braço da Igreja. Domingo à noite, uma missa concelebrada por Bertone e Maradiaga na véspera das cerimônias pelos 60 anos da fundação equilibrou parcialmente os tons. Porém, lendo as palavras expressadas por Bertone na homilia e publicadas pelo L`Osservatore Romano, permaneceu uma velada referência ao caso. "No interior dos termos próprios do seu peculiar modo de participar da missão da Igreja – afirmou o secretário de Estado do Vaticano – e se em comunhão com os legítimos pastores", a Cáritas desempenha uma "ação de defesa" que "é uma riqueza da Igreja".