27 Abril 2011
O Papa João Paulo II reinou por quase 27 anos e, durante esse tempo, ele foi muitas vezes um sinal de contradição – uma figura carismática e querida em todo o mundo, que também provocou forte oposição em diversos campos diferentes, incluindo os reformadores da igreja, os progressistas sociais e os católicos tradicionalistas.
A reportagem é de John L. Allen Jr., em artigo publicado no sítio National Catholic Reporter, 26-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A beatificação do falecido Papa, no dia 1º de maio, parece estar gerando uma série semelhante de reações. Enquanto os críticos objetam tanto a velocidade da beatificação e aquilo que alguns veem como a agenda política que lhe está subjacente, Roma está se preparando para uma onda de devotos, uma série de livros e programas de TV estão celebrando a vida e o legado de João Paulo II, e uma pesquisa nova sugere que o falecido pontífice, seis anos depois de sua morte, continua sendo extremamente popular na base católica.
Muitos dos que criticam a beatificação tendem a dar uma ênfase especial em uma falha percebida do Vaticano sob João Paulo II em responder adequadamente à crise dos abusos sexuais católicos. A colunista do jornal New York Times Maureen Dowd, nesta segunda-feira, apresenta esse argumento em uma forma tipicamente contundente: "Como você pode ser santo se você falha em proteger crianças inocentes?".
De uma perspectiva bastante diferente, a separatista Fraternidade São Pio X, que se opõe à corrente liberal do catolicismo desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), anunciou que considera a beatificação como um sério novo obstáculo para voltar a se unir com Roma, já que João Paulo II foi o autor de uma cúpula inter-religiosa em Assis em 1986, que os tradicionalistas consideraram como um exercício de relativismo religioso.
Resta saber como a história julgará João Paulo II, mas, no aqui e agora, as evidências sugerem que a maioria das pessoas continuam vendo o falecido Papa favoravelmente.
Uma nova pesquisa divulgada nesta terça-feira pelo Instituto de Opinião Pública do Marist College de Poughkeepsie, Nova York, descobriu que 74% dos norte-americanos em geral e uma esmagadora maioria de 90% dos católicos norte-americanos acreditam que João Paulo é um bom candidato para a honra da beatificação.
A mesma pesquisa revelou que quase 60% dos norte-americanos acreditam que João Paulo ou foi o melhor Papa da Igreja Católica ou está entre os melhores, e 82% dos católicos norte-americanos dizem a mesma coisa. Apenas 2% dos norte-americanos, e menos de 1% dos católicos norte-americanos, acreditam que João Paulo II foi o pior Papa ou esteve entre os piores.
A pesquisa, realizada em meados de abril, foi patrocinado pelos Cavaleiros de Colombo.
Em Roma, a antiga magia de João Paulo II ainda está no ar. A cidade está enfeitada com bandeiras com a imagem do falecido Papa e frases (incluindo uma famosa frase que ele pronunciou uma vez no dialeto romano tradicional, "Dàmose da fà! Semo Romani!" – "Empenhemo-nos! Somos romanos!") No sábado à noite, muitos romanos estão planejando acender velas em suas janelas em honra ao falecido Papa, cuja beatificação é no dia seguinte.
Atualmente, as autoridades da cidade dizem esperar cerca de 2 milhões de pessoas para participar dos diversos eventos relacionados à beatificação, com uma multidão de pelo menos 300 mil esperada para chegar para a missa de beatificação no domingo, celebrada pelo Papa Bento XVI.
A cidade de Roma concedeu quase 6 milhões de dólares para cobrir as despesas para o evento, incluindo proteção policial extra, serviços de limpeza e de transporte. Oito igrejas no centro de Roma vão ficar abertas durante toda a noite de sábado para acolher peregrinos que desejam rezar, e os Museus do Vaticano anunciaram um horário estendido até à meia-noite durante toda esta semana.
Aproveitando o boom de João Paulo II, a organização de caridade católica Cáritas, na Diocese de Roma, anunciou que irá renomear um grande centro de alimentação e de serviço social perto da estação ferroviária central Termini em honra do falecido Papa, na esperança de pegar carona na beatificação para levantar 4 milhões de dólares para a renovação.
Ao longo desta semana, estão ocorrendo eventos em Roma para comemorar a vida e o legado de João Paulo II, incluindo concertos, exposições de arte e painéis de discussões com pessoas que trabalharam perto dele, como o cardeal Camillo Ruini, ex-presidente da Conferência dos Bispos Italianos, e o leigo espanhol Joaquín Navarro-Valls, porta-voz do falecido Papa.
Praticamente todas as publicações italianas de distribuição nacional têm uma edição especial em homenagem a João Paulo II, e programas dedicados ao falecido Papa são uma constante na grade da TV desta semana.
Na segunda-feira à noite, por exemplo, o programa de atualidades mais assistido na Itália, "Porta a Porta", pôs seu foco na tentativa de assassinato contra João Paulo II no dia 13 de maio de 1981. Trinta anos depois, ainda não está claro quem – se é que havia alguém – estava realmente por trás da tentativa de Mehmet Ali Agca contra a vida de João Paulo II, em parte porque o próprio Ali Ağca deu versões muito inconstantes – segundo uma estimativa, ele ofereceu 51 versões diferentes dos eventos. Os jornalistas Marco Ansaldo e Yasemïn Taşkin publicaram um novo livro que afirma que o grupo radical turco dos Lobos Cinzas é o autor mais provável do complô, em oposição ao KGB.
Grandes eventos noticiosos muitas vezes criam mercados para novos livros, e a beatificação fomentou uma série de novos títulos sobre João Paulo II. Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, publicou uma biografia considerada como "a primeira biografia verdadeira escrita sobre uma base científica e documental". Até as autoridades do Vaticano estão entrando nessa onda. O secretário de Estado do Vaticano, o cardeal italiano Tarcisio Bertone, publicou um livro-entrevista com o jornalista Michele Zannucchi intitulado Un Cuore Grande: Omaggio a Giovanni Paolo II ("Um Grande Coração: Homenagem a João Paulo II").
Na quinta-feira, a Itália planeja emitir um novo selo nacional em homenagem a João Paulo II, com uma imagem do falecido Papa em 1999, abençoando a estátua da Virgem Maria na Piazza di Spagna, em Roma. Na sexta-feira à noite, uma paróquia romana está organizando uma procissão da "Via Lucis" (ao contrário da "Via Crucis" da Sexta-Feira Santa) pelas ruas da cidade, para meditar sobre temas retirados do ensino de João Paulo II de vários eventos do Dia Mundial da Juventude.
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João Paulo II: na vida e na morte, um sinal de contradição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU