26 Abril 2011
A usina nuclear de Angra 1, no litoral do Rio, entrou em operação há 26 anos e a de Angra 2, há 9. O governo pretende inaugurar Angra 3 em 2015 e já concluiu estudos para a construção de mais quatro usinas, duas no Nordeste e duas no Sudeste. Mas ainda não sabe o que fazer com seu lixo nuclear, que permanece radioativo por cerca de 300 anos.
"Existem algumas soluções, só que não temos a garantia de que sejam suficientes a longo prazo", diz Ricardo Baitelo, engenheiro e coordenador de energia do Greenpeace. "O custo de construir os depósitos não está incluído nas tarifas da energia de Angra 1 e 2, mas teremos de pagar por ele de alguma forma."
A reportagem é de Karina Ninni e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 27-04-2011.
A geração de energia por fissão nuclear deixa dois tipos de resíduo: os de baixa e média radioatividade e os de alta. Por enquanto, o Brasil estoca tudo em depósitos (lixo de baixa e média) e piscinas (alta) nos prédios das usinas de Angra 1 e 2.
Como condicionante para a licença de operação de Angra 3, o Ibama estipulou que o País deve iniciar o processo de licenciamento de um depósito definitivo de resíduos de média e baixa radioatividade e apresentar o projeto de um depósito de resíduos de alta radioatividade.
Este último é o nó da questão, embora especialistas afirmem que o Brasil pode esperar cerca de 30 anos até definir uma solução. O governo parece se inclinar por uma saída intermediária. "Ainda não decidimos se vamos comprar serviços de reprocessamento ou se vamos tratar o combustível como rejeito radioativo e estocá-lo do jeito que está", diz Laércio Vinhas, diretor de Segurança da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão federal que supervisiona o setor nuclear. "A Eletronuclear (estatal que constrói e opera usinas) e a CNEN estão fazendo um projeto de depósito de resíduo de alta no Brasil, mas ainda não é o definitivo. É um lugar onde os elementos combustíveis poderiam ficar por 200, 300 anos até que as novas gerações decidam o que querem fazer: tratá-los como rejeito ou reprocessar." A previsão é de que esse depósito intermediário esteja operando em 2026.
O reprocessamento é um processo de "reciclagem" do combustível já usado nos reatores. Os poucos países que têm essa tecnologia, como França, Reino Unido e Japão, conseguem reaproveitar 95% do combustível. "O reprocessamento é politicamente complicado porque um dos elementos obtidos é o plutônio, usado para confecção de armamentos nucleares", afirma o físico Luís Antônio Terremoto, pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), vinculado à CNEN e à Universidade de São Paulo.
Tanto para ser reprocessado como guardado a seco, porém, o combustível deve ser resfriado em piscinas por períodos de, em média, cinco a oito anos. "As piscinas de Angra conseguem estocar os elementos combustíveis até 2020", garante Leonam dos Santos Guimarães, assessor da presidência da Eletronuclear. Pesquisador da CNEN, Rogério Pimenta Mourão revela que há planos de construção uma piscina extra no complexo.
"Algum dia, todo país que produz rejeitos de alta atividade vai ter de ter um depósito", diz Mourão. A tarefa não é fácil mesmo no Primeiro Mundo. A Suécia foi o primeiro país a licenciar um projeto de depósito definitivo, com operação programada para 2015. Os Estados Unidos vêm há anos tentando construir um na montanha de Yucca, em Nevada, orçado hoje em US$ 100 bilhões. "A diferença é que o consumidor americano paga por ele desde os anos 80", diz Baitelo.
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Destino do lixo nuclear, herança para nossos filhos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU