06 Abril 2011
"O novo rumo da Líbia não levará ao fundamentalismo religioso. A nova constituição será democrática e aberta à sociedade civil, mesmo que contenha uma referência ao Islã". Essa convicção é do irlandês David Ford, teólogo anglicano, Regius Professor of Divinity da Cambridge University.
A reportagem é de Roberto Monteforte, publicada no jornal L`Unità, 06-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se existem tantos modos para favorecer a paz, ele definiu um construído no diálogo inter-religioso a partir do confronto sobre os "Sagrados Textos" das religiões abraâmicas.
"Um dos ulemás comprometidos em Bengasi na confecção da nova Constituição com o Conselho nacional provisório – diz – está envolvido nesse método de trabalho".
Eis a entrevista.
Portanto, professor, o senhor está convencido de que a onda de protestos nos países do Norte da África não irá oferecer espaço ao fundamentalismo islâmico?
Há um componente religioso nesse protesto. Ele é importante, mas não como acreditamos no Ocidente. No Cairo, as pessoas se reuniram, protestaram, rezaram. E fizeram isso de maneira democrática e civil.
Na Líbia, as coisas acontecem de forma diferente...
Estou em contato com a rede dos Ulemás da Líbia, que une não só os religiosos, mas também a elite cultural do país. Estão comprometidos a escrever uma Constituição democrática, aberta à sociedade civil, mas ao mesmo tempo também islâmica.
Com a sharia? Não é uma contradição em termos?
Pode parecer, mas não é. Há países, como a Indonésia, em que isso já é possível: onde democracia e Islã convivem. O grão-mufti de Al Azar, Ali Gomaa, explicou muito bem isso recentemente no Herald Tribune.
Por que o aprofundamento da Bíblia, da Torá e do Alcorão pode ajudar a paz?
Todas as questões éticas e sociais presentes nas diversas culturas têm profundas raízes nas Sagradas Escrituras. Por isso, confrontar-se sobre os Sagrados Textos pode ajudar as comunidades, frequentemente divididas internamente, a "combinar" o aspecto secular, laico, com a visão religiosa do mundo, visando à sua unidade.
Como se faz para colocar um imã, um rabino e um homem da Igreja ao redor de uma mesma mesa? Não é mais fácil encontrar um entendimento sobre as questões sociais?
É difícil. Mas não podemos enfrentar as questões econômicas e sociais deixando de fora a religião. Esse é o grande ensinamento da Igreja Católica Romana com a sua doutrina social. Nos anos 1980, pensava-se em um "campo neutro" que excluía a religião. Falava-se apenas de questões econômicas e sociais. Hoje, tem-se a exigência de reencontrar um campo comum de respeito recíproco, que coloque no centro o homem e o âmbito religioso, tendo bem presente a contribuição dada pelas religiões às temáticas sociais, econômicas e políticas.
O senhor, como irlandês, viveu diretamente a laceração do conflito no seu país. Quais resultados encontrou com o seu método?
Foi praticado em contextos diversos: nas prisões, nos hospitais, por associações, escolas e grupos. O resultado mais importante é a formação das pessoas ao diálogo inter-religioso, ao mútuo respeito e à compreensão recíproca. Entre os resultados concretos, gostaria de lembrar o do ulemá comprometido com a confecção da nova Constituição da Líbia. Ele é também um dos signatários da carta das 138 personalidades do mundo muçulmano enviada a Bento XVI.
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"Aqui, os integralistas não têm espaço", afirmam ulemás líbios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU