05 Março 2011
"Inside Job" é o termo utilizado em inglês para dizer quando o culpado de uma fraude ou de um furto é interno ao lugar do crime. Inside Job também é o filme de Charles Ferguson, politólogo multilaureado, precursor do boom via Internet e diretor, que conquistou o Oscar na categoria "melhor documentário", derrotando, entre outros, Waste Land, de Lucy Walker e Angus Aynsley, e Restrepo, de Tim Heterington e Sebastien Junger. E é interessante ver como a Academia parece gostar mais daquele "gênero" de documentário que enfoca realidades de conflito – no ano passado, venceu The Cove, em que se contava o extermínio dos golfinhos – dentro de um sistema mundial econômico, social, cultural.
A reportagem é de Cristina Piccino, publicada no jornal Il Manifesto, 01-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Desde o título, portanto, Inside Job – que na Itália será distribuído em DVD pela Feltrinelli, na coleção Real Cinema – declara enfrentar "de dentro" a grande crise financeira de 2008, desmontando seu mecanismo desde as suas origens, isto é, os anos de Ronald Reagan: números, datas, mas principalmente um sistema de pensamento dominante na cúpula das maiores instituições acadêmicas norte-americanas, das finanças federais, com alguns ex-membros do gabinete Clinton, hoje entre os maiores conselheiros financeiros de Obama – Lawrence Summers, Timothy Geitner, Laura Tyson, Richard Rubin... – que se recusaram a dar entrevistas.
Com extrema clareza, quase pedagógica, Ferguson consegue nos fazer entender como a desregulamentação foi em frente durante todos os anos 90 e principalmente como os riscos que ela comportava não eram, de fato, um "segredo" – pensemos só no sistema dos empréstimos subprime – mas, ao contrário, eram celebrados como uma vitória do mercado.
A voz narradora de Matt Damon nos guia nesse sistema, no estilo muito "limpo" e seco de uma informação que busca reunir todos os diversos aspectos da questão analisada. Ambas as partes políticas norte-americanas, diz-nos o filme, são responsáveis: a atividade de especulação iniciada com Reagan pelos bancos, que continua com o governo Clinton, e ambos ignoram os sinais de alarme sobre o perigo ligado a esse tipo de investimentos.
Entrevistando ministros do tesouro como a francesa Christien Lagarde, chefes de governo como o primeiro-ministro de Singapura, Lee Hsieng Loong, financistas iluminados como George Soros, autores como Charles Morris (The Three Million Dollar Meltdown), ativistas como Robert Gnaizda, do Greenlining Institute de Berkeley, acadêmicos, economistas, até um psicólogo (especializado em grandes executivos de Wall Street), Ferguson traça uma linha detalhada e coerente que nos conduz à pergunta final, dirigida por Damon aos espectadores, sobre como inverter esse sistema de especulação que continuará causando crises. Questão mais do que nunca
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"Inside Job": a crise financeira contada "de dentro" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU