20 Dezembro 2012
O papa promoveu o seu secretário pessoal a arcebispo e o colocou no comando da Casa Pontifícia. Um perfil do Mons. Georg Gänswein e da sua rota da Alemanha até ser a mão direita de Bento XVI.
A reportagem é de Robert Mickens, publicada na revista católica britânica The Tablet, 15-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele é chamado de Gorgeous George, il Bel Giorgio e até mesmo de Adonis da Floresta Negra. E desde a sua estreia mundial na primavera de 2005 o secretário pessoal de 48 anos de idade do recém-eleito Papa Bento XVI, o Mons. Georg Gänswein tem sido uma das mais comentadas personalidades no Vaticano.
Nunca na memória recente um assessor papal tem sido tamanha obsessão para os jornalistas sensacionalistas e para mulheres fanáticas. Os seus fãs têm criado vários sites na internet, mitologizando o secretário muito bonito do papa como ex-instrutor de esqui, jogador de tênis e piloto de helicóptero.
Atualmente com 56 anos e com alguns cabelos grisalhos sobre o seu cabelo cor de areia, ele ainda é uma figura jovem e atraente em comparação com os homens idosos com mandíbulas carnudas e cabeças carecas que são mais comumente associados à Cúria Romana. E agora os seus admiradores têm algo muito mais substancial para celebrar no elegante monsenhor alemão do que meramente a sua duradoura boa aparência e proximidade ao trono papal. Na semana passada, o Papa Bento XVI anunciou que o seu assistente pessoal se tornaria prefeito da Casa Pontifícia e seria elevado à categoria sênior de arcebispo.
Foi uma medida surpreendente que, sem dúvida, encantou os amigos e os fãs do Mons. Georg, mas que também deixou muitos outros – especialmente alguns dentro do Vaticano – perplexos e perturbados. "A nomeação de Gänswein como prefeito e arcebispo é um escândalo", reclamou uma autoridade da Igreja. "O papado do Renascimento ainda vive", disse ele, claramente acusando o papa de promover seus favoritos.
Muitas notícias disseram que o Papa Bento XVI deu ao Mons. Gänswein o importante novo posto para que ele pudesse reforçar um Palácio Apostólico deixado em desordem após o escândalo do Vatileaks. Elas sugeriram que o prefeito da Casa Pontifícia anterior, o (recentemente criado) cardeal James Harvey, foi responsável por contratar o mordomo papal que, no fim, acabou condenado por roubar documentos pessoais do papa e vazá-los para a imprensa.
No seu cenário, a nova indicação do meticuloso e regrado secretário papal, especialmente por causa da sua proximidade com o papa, seria a melhor garantia contra futuras violações de segurança. Isso pode ser verdade. Mas isso negligencia o fato evidente de que o Mons. Gänswein teve um papel de supervisão mais imediato sobre o mordomo e passou muito mais tempo na sua presença do que Harvey.
No entanto, o Papa Bento XVI tornou o Mons. Gänswein prefeito e o catapultou para o segundo degrau mais alto da hierarquia da Igreja, a fim de fortalecer o seu papel como "guardião". Embora o prefeito da Casa Papal (ou Pontifícia) trabalhe com a Secretaria de Estado na decisão de quem tem e quem não tem acesso ao papa, por causa de sua intimidade com Bento XVI, o arcebispo eleito Gänswein terá poder efetivo para tomar a decisão final. A razão é simples. Como o papa está envelhecendo e ficando mais fraco, ele terá que contar cada vez mais com esse homem em quem ele confia profundamente para que o proteja de ser manipulado por outros.
É uma medida preventiva ainda maior do que a que o Papa João Paulo II tomou em 1998, quando nomeou o seu próprio secretário pessoal, Mons. Stansilaw Dziwisz, como prefeito-adjunto e bispo (cinco anos depois como arcebispo). A medida foi sem precedentes na época e causou muitas queixas na Cúria. Dom Stanislaw, que agora é o cardeal arcebispo de Cracóvia, filtrou com perspicácia um constante fluxo de visitantes para audiências privadas, missas matinais e refeições com o papa extrovertido.
O arcebispo eleito Gänswein, por outro lado, está trabalhando com o Papa Bento XVI, muito mais introvertido. Ao contrário de Dziwisz, ele irá admitir muito menos pessoas para ver o pontífice, mas provavelmente terá a mesma influência – senão mais – sobre as importantes decisões que Bento XVI irá fazer à medida que envelheça. E é isso que deixa mais nervosos aqueles que estão insatisfeitos com a nova nomeação.
Georg Gänswein, apesar de sua aparência atlética e jovem, é extremamente conservador. Mas ele tem tido o cuidado de diminuir o tom do seu lado "tradicionalista". Logo após a eleição de Bento XVI, em 2005, todas as referências à vida do secretário papal antes da sua fama recém-descoberta desapareceram da internet. Só mais tarde é que algumas informações pessoais sobre ele gradualmente encontraram o seu caminho de volta para o espaço público.
Uma razão para isso, ao que parece, é que ele, inicialmente, começou a sua formação sacerdotal no seminário internacional em Ecône (Suíça), gerido pela Fraternidade São Pio X (SSPX), dos lefebvrianos. Isso finalmente foi noticiado em 2009 pela revista francesa L'Express e foi repetido em inúmeros sites, principalmente amigáveis ao Vaticano. Ninguém no Vaticano oficialmente negou a informação.
Um intervalo de dois anos na biografia do arcebispo eleito Gänswein sugere que essa formação anterior no seminário certamente foi uma possibilidade. O novo prefeito da Casa Pontifícia disse em entrevistas que ele decidiu se tornar padre em 1974, quando tinha 18 anos. Mas foi apenas dois anos depois, aos 20 anos, que começou a sua formação no seminário para a arquidiocese de Friburgo, a Igreja local para a qual ele foi ordenado em 1984 aos 28 anos. Gänswein obteve um doutorado em direito canônico em 1993, na Universidade de Munique, e depois de dois anos trabalhando na arquidiocese foi chamado em 1995 pela Congregação para o Culto Divino, em Roma, para um prazo inicial de cinco anos como membro da equipe.
Foi durante esse tempo, enquanto vivia no Colégio Teutônico dentro do Vaticano, que ele conheceu o então cardeal Joseph Ratzinger. Gänswein, que então tinha 39 anos, obviamente deixou uma grande impressão sobre o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, porque, quase um ano depois, em 1996, o futuro papa deu o passo extremamente raro de transferir o jovem padre alemão da Congregação para o Culto Divino para a Doutrina da Fé.
Enquanto trabalhava no dicastério doutrinal, Gänswein também lecionou direito canônico na Universidade da Santa Cruz, administrada pelo Opus Dei, em Roma. Em 2003, o cardeal Ratzinger pediu-lhe para ser seu secretário pessoal. Ele substituiu o Mons. Josef Clemens, outro alemão nove anos mais velho do que ele, que foi nomeado bispo e o número dois do Pontifício Conselho para os Leigos. Então, apenas um ano e meio depois, Joseph Ratzinger foi eleito papa e levou o Mons. Gänswein consigo para o Palácio Apostólico.
Há uma convicção generalizada entre as autoridades da Cúria Romana de que o secretário pessoal teve uma influência excepcionalmente forte sobre o governo da Igreja por parte do Papa Bento XVI, especialmente sobre as suas nomeações de pessoal. E o resultado nem sempre foi feliz. Um caso particular digno de nota aconteceu no início de 2009, quando o papa nomeou o pouco conhecido padre Gerhard Maria Wagner, aparentemente um amigo do Mons. Gänswein, como bispo auxiliar de Linz, na Áustria.
Pouco depois que a sua nomeação foi anunciada, no entanto, foi noticiado que o Pe. Wagner havia escrito artigos chamando o furacão Katrina de "castigo de Deus" pelos pecados de uma sociedade sexualmente permissiva e havia condenando os livros de Harry Potter por "difundir o satanismo". O escândalo entre os católicos da Áustria se espalhou por toda a Europa e se tornou tão intenso e embaraçoso que o Vaticano finalmente convenceu o padre a "renunciar" antes mesmo de ser ordenado bispo.
Também se acredita amplamente que o arcebispo eleito Gänswein atua como um dos principais assessores do papa para as nomeações da Cúria e para as decisões de governo. Mas talvez mais do que influenciar o Papa Bento XVI, o secretário pessoal serve para confirmar, reforçar e encorajar as tendências já conservadoras do pontífice. Ninguém mais do que ele consistentemente passou longos períodos de tempo em conversa com o papa. E ele gosta que as pessoas saibam que eles são muito próximos. Os visitantes muitas vezes ficam um pouco surpresos ao ouvir o Mons. Gänswein se referir ao papa e a ele mesmo como "nós".
Agora, como prefeito da Casa Pontifícia, ele vai acrescentar poderes institucionais ainda mais amplos para as suas funções já muito íntimas de compartilhar os aposentos do papa e zelar pela sua saúde. Georg Gänswein essencialmente irá dirigir o Palácio Apostólico, por assim dizer, e irá supervisionar o planejamento das visitas papais em Roma e em toda a Itália. E, naturalmente, ele vai continuar ajudando, com mais autoridade do que antes, o Papa Bento XVI a definir a sua agenda e a da Igreja.
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O poder por trás do trono papal. Um perfil do arcebispo eleito Georg Gänswein - Instituto Humanitas Unisinos - IHU