05 Dezembro 2012
O caminho que o social media team de Bento XVI escolheu para estrear no Twitter é o mais inacessível que se poderia imaginar: apresenta alguns risco de gestão do perfil recém-lançado e leva o papa a cometer ao menos um erro fundamental com relação ao tipo de plataforma.
A reportagem é de Riccardo Luna, publicada no jornal La Repubblica, 04-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Comecemos por esse segundo ponto. Nessa segunda-feira, a Sala de Imprensa do Vaticano informou que o pontífice no Twitter não seguirá ninguém. Ter uma conta com zero seguidos é mais do que um erro: significa não ter entendido o sentido das redes sociais.
Aqui, a comunicação superou a modalidade clássica "de um para muitos", para passar para o "de muitos a muitos": seguir alguém em rede não significa perder autoridade, significa indicar pessoas de valor. Ao contrário, dizer que o papa não seguirá ninguém significa tratar o Twitter como se fosse um rádio. O papa fala, os outros ouvem.
É uma pena, porque, seguindo os outros, não só se chega muitas vezes antes às notícias, mas também se entende o atual clima de São Pedro. Na realidade, com relação ao rádio, está prevista uma caixa de correio pública, e aqui chegamos aos possíveis problemas de gestão: qualquer pessoa, nessa segunda-feira, foi convidada a postar perguntas ao papa, assinalando-as com a hashtag #askpontifex.
Na realidade, não é preciso uma permissão para fazer perguntas via Twitter, mas se você as chama desse modo corre o risco de ser arrastado por elas. Imediatamente, teve-se uma amostra do tipo de curiosidade a ser satisfeita: de todo o mundo, choveram chibatadas sobre a proibição dos preservativos, enquanto se morre de Aids, sobre os padres pedófilos e outras coisas semelhantes. Só falta a questão do IMU [imposto imobiliário italiano que a Igreja estava dispensada de pagar] e das escolas católicas, mas ela virá. Assim como chegou um apelo para finalmente saber a verdade sobre Emanuela Orlandi.
Ora, se o papa realmente respondesse a essas questões seria um imenso passo, mas ele pode realmente fazer isso? Eu não acredito, mas, mesmo que o fizesse, desencadearia uma tempestade de réplicas sem censura e sem nenhuma possibilidade de gestão da conversação global.
O fato é que a vida real e a vida digital não são duas coisas separadas, mas estão ligadas entre si. Você não pode pensar em se comunicar de um púlpito inacessível na vida real e, ao invés, não ter nenhum filtro na rede, porque, nesse ponto, a distância que você criou com o resto do mundo na vida real se transforma em uma pressão furiosa quando você está na web.
Prevejo alguns ajustes ao longo do caminho.
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Bento XVI no Twitter: um púlpito inacessível e sem filtros na rede - Instituto Humanitas Unisinos - IHU