22 Novembro 2012
Após oito dias de hostilidades que deixaram 153 mortos, Israel e o grupo palestino islâmico Hamas chegaram ontem a um cessar-fogo, sob a intermediação com a garantia do governo do Egito.
O anúncio foi feito no Cairo pelo chanceler egípcio, Mohamed Amr, e pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, resultado de intensos esforços diplomáticos que duraram dias e envolveram vários países.
A reportagem é de Marcelo Ninio e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 22-11-2012.
Pelo acordo, que entrou em vigor às 21h (17h de Brasília), os dois lados se comprometem a suspender as hostilidades, e Israel deverá aliviar o bloqueio à faixa de Gaza, facilitando o movimento de bens e pessoas.
Segundo a polícia israelense, 12 foguetes foram disparados pelo Hamas na primeira hora após a trégua.
Horas antes, uma bomba explodira num ônibus ferindo 28 pessoas em Tel Aviv, a capital econômica de Israel, gerando temores de uma ampliação da violência.
Em Gaza o cessar-fogo foi precedido de pesados bombardeios israelenses. No maior deles, o principal prédio da administração do Hamas foi arrasado. O saldo de oito dias de confronto foram 148 palestinos e cinco israelenses mortos.
Com a intermediação direta do Egito, a trégua teve envolvimento crucial do governo americano, depois que Hillary visitou Jerusalém e o Cairo para acelerar o acordo.
Hillary manifestou esperança de que o cessar-fogo seja mais que uma solução passageira para as tensões entre Gaza e Israel, que entraram em confronto de larga escala pela segunda vez em menos de quatro anos.
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, agradeceu ao Egito e ao presidente dos EUA, Barack Obama, com quem manteve tensa relação nos últimos meses. "Entendo que há cidadãos que esperam uma ação militar mais severa e talvez tenhamos que tomá-la", disse. "Mas, no momento, o melhor para Israel é esgotar essa possibilidade de alcançar um cessar-fogo de longo prazo."
Ele acrescentou que Obama prometeu ajudar na repressão do fornecimento de armas do Irã para Gaza.
Como esperado, ambos os lados cantaram vitória após o cessar-fogo. Segundo nota do Exército israelense, a ofensiva em Gaza alcançou suas metas, "infligindo severo dano ao Hamas".
Entre os alvos atingidos, diz o comunicado, estão centenas de bases de lançamentos de foguetes, além da eliminação do comandante militar do Hamas, Ahmed Jabari, morto no ataque que deflagrou a ofensiva.
Apesar de ter ficado mais de uma semana sob fogo pesado, o grupo islâmico afirmou que a ação israelense "fracassou em seus objetivos" e que as condições impostas pelo Hamas foram atendidas.
"Depois de oito dias, Deus manteve-se ao lado do povo de Gaza e eles foram obrigados a se submeter às condições da resistência", disse Khaled Meshal, líder do Hamas que negociou o acordo.
A dúvida agora é se a trégua será duradoura e se o Hamas poderá conter a artilharia de outros grupos radicais de Gaza contra Israel. Para o porta-voz israelense, Mark Regev, a diferença desta vez é a garantia do governo do Egito, que compartilha a doutrina islamita do Hamas
Território tem festejos e preocupação
Faltavam menos de dez minutos para a entrada em vigor da trégua e fortes explosões ainda faziam tremer o centro de Gaza, sob o impacto dos últimos ataques da aviação israelense.
Às 21h em ponto (17h de Brasília), porém, os bombardeios se calaram e teve início uma saraivada de tiros, de palestinos festejando o fim das hostilidades.
As mesquitas passaram a emitir cânticos islâmicos de celebração, famílias distribuíram doces e centenas de carros saíram às ruas num bunizaço, devolvendo a agitação habitual às ruas de Gaza, desertas na última semana.
A maior novidade foram as motos, que haviam praticamente sumido de vista, já que o veículo preferido dos militantes do grupo islâmico Hamas tornara-se alvo dos ataques israelenses.
Reaberta depois de uma semana, a sorveteria Mr. Kazem, a mais popular de Gaza, estava apinhada de gente com bandeiras do Hamas e de outros grupos políticos.
Além da suspensão dos ataques, a festa era motivada pela convicção de que os palestinos saíram ganhando.
"O melhor é que Israel se comprometeu a aliviar o bloqueio a Gaza", disse o pescador Abu Ghazem, 27, com as duas filhas pequenas no colo. Foi uma grande vitória do Hamas".
OPOSIÇÃO
Mas, para os opositores do grupo, que impôs uma ditadura islâmica em Gaza desde que tomou o controle do território, em 2007 após chegar ao poder em eleições um ano antes, a trégua também trouxe preocupações.
"É claro que o Hamas saiu vitorioso, pois consolidou o seu poder", disse o ativista de direitos humanos Khalil Shahin. "Eles ganharam e o povo pagou o preço da vitória com sangue."
No último dia da ofensiva israelense, os moradores do território palestino viveram entre a incerteza sobre onde cairia o próximo míssil israelense e a esperança de que a trégua finalmente pusesse fim à violência.
Sentada no chão de uma escola do centro de Gaza, Fatma al Sultan, 93, tinha o olhar perdido. Ela estava cercada da numerosa família, com a qual abandonou sua casa, no norte de Gaza, depois que Israel lançou panfletos de aviões avisando que iria atacar o local. "Já vivi muitas guerras e sempre que achamos que a situação vai melhorar ela acaba piorando", disse Sultan à Folha.
"Já não espero mais nada para a minha vida, o problema é que também não vejo futuro para os meus netos."
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Após 153 mortes, Gaza tem cessar-fogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU